Em Terra de Esquecidos, movimento ameaça destabilizar o setor financeiro, relata Lauro Veiga Filho

Um País de Memória Curta, Avança Manobra para Desestabilizar Economia

por Lauro Veiga Filho

O Brasil enfrentou momentos dramáticos na área econômica justamente por não dispor de dólares para fazer frente a despesas e honrar compromissos externos, essenciais ao funcionamento de sua economia, nas décadas de 1980 e 1990. A sucessão de crises cambiais naquele período foi um dos fatores centrais a explicar a inflação crônica, na faixa dos dois dígitos ao mês, com impactos destrutivos sobre as famílias e para as empresas, limitando drasticamente as possibilidades de crescimento.

Como parte da atual ofensiva articulada pela “esquadrilha austericida” e pela grande mídia corporativa, o noticiário econômico, análises e editoriais parecem ressuscitar aqueles tempos, de descontrole inflacionário, desta vez supostamente motivado pela “gastança” dos governos – ainda que sobrem dólares no País, o déficit primário (que não considera as despesas com juros) esteja em baixa e a inflação mantenha-se bem-comportada.

Mas a verdade é que a economia brasileira não está em situação de descontrole, e a “gastança” é um mito. A despesa primária do governo central, incluindo gastos do Tesouro Nacional, da Previdência e do Banco Central, deve experimentar este ano uma variação de 3,47% em valores não atualizados, ou seja, abaixo da taxa inflacionária esperada para este ano, próxima de 4,9%.

A despesa com juros, por outro lado, é um problema real. Os gastos com juros atingiram R$ 773,036 bilhões nos 12 meses encerrados em outubro deste ano, representando crescimento de 25,79% em relação aos valores acumulados no ano passado, na faixa de R$ 614,548 bilhões – uma alta de R$ 158,488 bilhões, duas vezes maior do que a elevação projetada para as despesas primárias.

A dívida pública mobiliária interna também está aumentando, embora o Tesouro tenha resgatado, quer dizer, comprou de volta, liquidamente, em torno de R$ 18,675 bilhões. O custo médio da dívida elevou-se de 10,50% ao ano em novembro do ano passado para 11,64% no mesmo mês deste ano.

Na área externa, as reservas internacionais ainda representam praticamente 2,6 vezes mais toda a despesa do País com pagamento de juros e amortizações sobre sua dívida externa, num compromisso estimado para este ano em US$ 131,178 bilhões. Há sobra de dólares no Brasil.

Lauro Veiga Filho – Jornalista, foi secretário de redação do Diário Comércio & Indústria, editor de economia da Visão, repórter da Folha de S.Paulo em Brasília, chefiou o escritório da Gazeta Mercantil em Goiânia e colabora com o jornal Valor Econômico.

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