A primeira música era uma saudação a Exu, apenas com atabaques: assim começou a apresentação de Roque Ferreira no pequeno — e lotado — Teatro Dennoy de Oliveira, em São Paulo, na última terça-feira 27.
O cantor e compositor, aos 78 anos, é um dos poucos sambistas de visibilidade a mergulhar com maestria nas referências do samba de roda.
Natural de Nazaré das Farinhas, no Recôncavo Baiano, ele explorou seu repertório com uma voz de amplitude limitada, devido à idade — por isso, contou no show paulistano com o auxílio da cantora Kelly Silva.
Roque Ferreira, com centenas de composições gravadas por outros artistas, apresentou suas canções de poesia simples e, ao mesmo tempo, representativas de um universo emergido no Recôncavo Baiano. As músicas se alternam com a história sobre elas, a revelar uma profunda pesquisa para compor.
O sambista, por certo o maior do gênero atualmente na Bahia, canta músicas como Lágrima e Guriatã, gravada por Maria Bethânia; Última Chance, que compôs o repertório de Roberto Ribeiro; Coração Valente (com Edil Pacheco), cantado por Clara Nunes; e Triste Regresso, registrada na voz de João Nogueira.
Kelly Silva canta duas composições que devem ser gravadas no disco que prepara apenas com músicas do artista baiano. Roque apresenta ainda Oxóssi (que também foi o bis), marcante em rodas de samba autênticas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O show termina com duas músicas do baiano que Zeca Pagodinho gravou com enorme sucesso: Água da Minha Sede (com Dudu Nobre) e Samba pras Moças (com Grazielle Ferreira).
A apresentação contou com as participações de Toninho Nascimento, que cantou sua obra-prima Conto de Areia, e Fabiana Cozza, que interpretou Incensa.
Antes do bis, o público, espontaneamente, cantou Samba de Dois-Dois, composição sensacional bem no estilo Roque Ferreira. O samba de roda integrou a grande turnê que Maria Bethânia e Caetano Veloso fizeram recentemente.
Roque Ferreira é autor de álbuns solo significativos, como Tem Samba no Mar (2004) e Terreiros (2015). Apesar de gravado por tantos intérpretes, sua obra ainda pode ser explorada por outras vozes, tamanha a sua força.
O Teatro Denoy de Lima, ligado ao Centro Popular de Cultura da UMES, vem promovendo o projeto Noitada de Samba, com a apresentação de outros artistas do gênero. O projeto realiza 20 shows e tem nesta fase Raquel Tobias (3 de junho), Aldo Bueno (10 de junho), Sergio Santos (17 de junho), Carlinhos Vergueiro (24 de junho) e Nei Lopes (1º de julho).
A banda fixa do projeto é formada por Edmilson Capelupi (violão sete cordas), João Poleto (sopro), Maik Oliveira (bandolim), Koka Pereira, Pedro Pita e Rafael Toledo (percussão).