A jornalista identitária Milly Lacombe, conhecida por suas tiradas anti-futebol brasileiro nas páginas de esportes, resolveu “atacar” em outra frente agora: humor. A discussão ficou um tanto sem graça, já que é sabido que os identitários, em geral, não são adeptos dessa modalidade da comunicação e de espírito. O identitário normal considera que piadas promovem o assassinato dos oprimidos e é pior do que as leis – por ele apoiadas – que ameaçam o País com prisões.

O “tratado” sobre humor apresentado por Lacombe em sua coluna, escrita para o veículo Uol e intitulada Num mundo justo, humor não rima com terror, é uma prova da indisposição que os identitários têm com a piada. Numa tentativa de expressar apoio à condenação do humorista Léo Lins a 8 anos de cadeia e uma multa milionária, apenas por fazer piada, a jornalista dispara:

“Leo Lins fez comentários desmoralizantes sobre crianças com hidrocefalia, nordestinos, indígenas, judeus, pessoas negras e homossexuais. Há quem acredite que o humor pode passear por esses lugares sem ser importunado. Há quem diga que o riso é soberano. E eu me pergunto que mundo é esse em que diminuir grupos humanos seja ação digna de qualquer tipo de defesa (…)”

A articulista expressa aqui o fato de que ela não gosta das piadas feitas por Leo Lins, o que é perfeitamente justo. Ninguém é obrigado a achar graça de nada. Se considera os comentários humorista a respeito de todos os grupos citados desmoralizantes, há sempre a possibilidade de não se envolver e de não assistir aos seus programas e shows. Deixe para o público que aprecia esse tipo de humor.

A jornalista protesta contra pessoas que acreditam que o humor poderia “passear por esses lugares sem ser importunado”, no entanto, a questão não é a importunação por si só. Um artista ou comunicador que diga algo que desagrade as demais pessoas está sempre sujeito a escutar uma resposta negativa, um insulto ou talvez até uma agressão, dependendo do que foi dito. No entanto, o que se tem no Brasil hoje é a utilização do poder do Estado para esmagar um cidadão que não cometeu crime nenhum, é a censura pura e simples.

Para justificar sua posição reacionária, Lacombe questiona: “como seria possível deixar de perceber que a dita ‘piada’, que uso entre muitas aspas, estaria desassociada do apagamento desses grupos? Apagamento simbólico e concreto”. Esse expediente muito utilizado pelos defensores da censura já virou um clichê do identitário revoltado. No entanto, o que exatamente quer dizer Lacombe com “apagamento” de determinados grupos? Na prática, o que se vê é que esses setores são todos “apagados” pelo capitalismo defendido pela autora e do qual pessoas como seu patrão, dono da Folha de São Paulo e do Uol, tiram muito bom proveito.

Toda essa conversa é apenas um pretexto que a identitária encontrou para defender a censura que está sendo imposta de forma ditatorial no Brasil através do STF. Como uma jornalista e eterna devota da imprensa burguesa, ela se coloca a favor da perseguição de todos que digam algo que minimamente seja discordante do que ela e o seu “clubinho” de identitários pensa.

Essa conclusão é apresentada por ela no final de sua coluna: “liberdade de expressão é um conceito mal compreendido. Vivemos em relação, não estamos isolados uns dos outros, não existimos sozinhos, não há liberdade que seja total e totalizante. O limite da sua ‘piada’ é o que ela faz com o meu direito de existir com dignidade”.

Errado. A liberdade de expressão irrestrita é um direito garantido na Constituição brasileira. Nenhuma piada impede ninguém de existir com dignidade, o que impede as pessoas de viverem com dignidade é serem jogadas na prisão por algo que elas tenham dito ou colocado na internet.

Não existe direito que seja válido apenas para algumas pessoas ou apenas para algumas posições políticas e opiniões. É exatamente pelo fato de vivermos “em relação” que é necessário haver um direito para que todas as pessoas possam se expressar livremente, defendido constitucionalmente. Caso contrário, setores sociais com maior poder econômico esmagam a expressão de setores mais fracos, e é exatamente isso que acontece no Brasil hoje.

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Last Update: 07/06/2025