O Exército do Paquistão realizou, nesta segunda-feira (5), o lançamento de um míssil de curto alcance como parte do exercício militar Indus. O teste ocorre em meio a uma tensão cada vez maior com a Índia após o ataque de 22 de abril, em que 26 civis foram assassinados no Vale de Baisaran, território da Caxemira sob administração indiana.
Segundo comunicado do serviço de relações públicas das Forças Armadas do Paquistão (ISPR), o armamento testado foi o míssil Fatá, superfície-superfície, com alcance de 120 km. O objetivo do lançamento, segundo o Exército, foi garantir a “prontidão operacional das tropas” e validar “parâmetros técnicos essenciais, como o sistema avançado de navegação e precisão aprimorada”.
O evento foi acompanhado por oficiais de alta patente das Forças Armadas, que expressaram “confiança plena na capacidade operacional e técnica do Exército paquistanês para enfrentar qualquer ameaça à integridade territorial do país”.
O teste do Fatá foi o segundo em apenas três dias. No sábado (3), o Paquistão também testou o sistema de mísseis Abdali, com alcance de 450 km. Ambos os mísseis foram desenvolvidos pela estatal Global Industrial & Defence Solutions (GIDS).
Escalada militar e diplomática
As ações militares ocorrem após o ataque de 22 de abril, que foi inicialmente reivindicado pela organização The Resistance Front — suspeita de ligação com o grupo Lashkar-e-Taiba, baseado no Paquistão — mas cuja autoria foi posteriormente desmentida. As autoridades indianas afirmam que dois dos suspeitos identificados seriam cidadãos paquistaneses.
Desde então, o governo indiano adotou uma série de medidas diplomáticas e militares. Entre as principais ações estão:
- A suspensão do Tratado das Águas do Indo, acordo bilateral firmado em 1960;
- O fechamento da fronteira terrestre de Wagah-Attari e da conexão aérea para voos paquistaneses;
- A revogação de todos os vistos válidos para cidadãos do Paquistão;
- A suspensão de relações comerciais e postais;
- A expulsão de diplomatas paquistaneses e o rebaixamento do nível de representação diplomática;
- O pedido oficial à presidência do Banco Asiático de Desenvolvimento para cortar financiamentos ao Paquistão;
- O início de exercícios de defesa civil em território indiano, marcados para 7 de maio, com simulações de apagões e evacuações.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, também declarou que as Forças Armadas têm “liberdade total de operação” para responder ao ataque. A escalada incluiu, ainda, confrontos na Linha de Controle (LoC, na sigla em inglês), que divide a Caxemira entre os dois países. Fontes indianas afirmam que já são nove noites consecutivas de tiroteios na região.
Reações internacionais e tentativa de mediação
Diante da deterioração das relações entre os dois países, ambos com armamento nuclear, representantes de governos estrangeiros passaram a intervir diplomaticamente. O chanceler iraniano Abbas Araghchi chegou a Islamabad nesta segunda-feira (5) para reuniões com o presidente, Asif Ali Zardari, o primeiro-ministro, Shehbaz Sharif, e o ministro das Relações Exteriores, Ishaq Dar. O objetivo é promover a redução da tensão entre os dois Estados.
Além disso, o Paquistão, atualmente membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, solicitou uma reunião de emergência do órgão. Segundo a agência Press Trust of India, o pedido foi aceito pela Grécia, que ocupa a presidência rotativa do Conselho neste mês de maio.
Disputa sobre a Caxemira se intensifica
O conflito em torno da Caxemira é histórico e permanece como ponto central nas disputas entre Índia e Paquistão desde a partilha do subcontinente em 1947. A região, de maioria muçulmana, é reivindicada integralmente por ambos os países e marcada por décadas de conflito armado, repressão e reivindicações separatistas.
Apesar das acusações de apoio ao “terrorismo transfronteiriço” por parte da Índia, o governo paquistanês nega qualquer envolvimento com o ataque de abril e exige uma investigação internacional. O Ministério das Relações Exteriores do Paquistão também tem buscado interlocução com países “amigos”, segundo declarou o ministro da Informação, Attaullah Tarar.
A União Europeia classificou a situação como “alarmante”, enquanto o governo da China pediu “moderação” a ambos os lados. Já o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, declarou que a Índia deveria “evitar ações que levem a um conflito regional mais amplo”, ao mesmo tempo em que pressionou o Paquistão a “agir contra militantes em seu território”.
A situação permanece instável, com risco de escalada militar, enquanto ambos os governos adotam medidas que aprofundam o distanciamento diplomático. Até o momento, o governo da Índia não se pronunciou oficialmente sobre o teste do míssil Fatá.