Segundo a emissora russa Russia Today (RT), a ofensiva das tropas russas na região de Kursk está entrando em sua fase final, sete meses após a Ucrânia lançar um ataque surpresa e tomar parte de seu território. Para a RT, a situação remete ao inverso dos eventos ocorridos em torno de Kharkov – do outro lado da fronteira – em 2022, quando as forças russas fizeram uma retirada apressada.

“Desta vez, porém, os papéis se inverteram. As Forças Armadas da Ucrânia (FAU) se encontram incapazes de conter os rápidos avanços das tropas russas, recuando de forma caótica, enquanto seu comandante-chefe descreve a situação como um ‘reagrupamento planejado para posições vantajosas’.”

O chamado reduto de Sudzha, localizado na região, está à beira do colapso. O reduto tem sido considerado por vários especialistas a principal moeda de troca em um acordo de paz entre ucranianos e russos.

Segundo a RT, após o fracasso total da assim chamada contra-ofensiva ucraniana em setembro de 2024, as hostilidades entraram em uma fase prolongada de guerra de posições. As forças ucranianas passaram para a defensiva, perdendo gradualmente terreno na região de Kursk. Em janeiro de 2025, os combates em torno de Sudzha se intensificaram. As forças ucranianas tentaram reforçar suas posições, mas as tropas russas adotaram uma estratégia já testada no Donbas: cercar o inimigo por três lados, cortar as rotas de abastecimento e forçá-lo a se render pelo desgaste. O ponto de virada ocorreu em fevereiro, quando as forças russas libertaram Sverdlikovo e cruzaram o rio Loknya, ganhando acesso à principal rota de abastecimento das forças ucranianas, que liga Sumy a Kursk. Após a captura de Sverdlikovo, a situação das forças ucranianas se deteriorou rapidamente.

A ofensiva atual russa em torno de Sudzha começou em 7 de março. As tropas atacaram as linhas de abastecimento ucranianas e os principais pontos de travessia, ao mesmo tempo em que lançaram investidas em múltiplas direções. Embora os soldados tenham se retirado posteriormente de algumas posições avançadas, a incursão já havia causado um grave golpe contra a logística ucraniana.

Diferentemente das batalhas prolongadas no Donbas, que se concentram no desgaste e em avanços graduais, a operação em Sudzha ocorreu com velocidade, surpresa e a destruição sistemática das redes de abastecimento ucranianas. Essa tática culminou na agora famosa “operação pipeline” de 8 de março, na qual um regimento russo de 800 homens desestruturou severamente a cadeia logística das forças ucranianas. Ao final do dia, as forças russas haviam conquistado áreas industriais estratégicas ao norte e leste de Sudzha.

Segundo a RT, as forças ucranianas tentaram recuar para Sudzha na esperança de estabilizar as linhas defensivas e prolongar a batalha.

“No entanto, em 10 de março, seu colapso já era evidente. Unidades começaram a recuar de forma caótica, com algumas fugindo em direção à fronteira e abandonando seus equipamentos. Em 12 de março, as forças russas já haviam tomado a zona industrial, os subúrbios e o centro administrativo de Sudzha.”

Todos esses acontecimentos recentes ocorreram enquanto autoridades de todo o mundo estão debatendo um acordo de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia.

A iniciativa de propor o cessar-fogo partiu do atual presidente norte-americano, o republicano Donald Trump. Representante de setores da burguesia interna que estão em conflito com a política de guerra do imperialismo e com a política neoliberal de conjunto, uma vez que ela está levando a uma devastação econômica, Trump encontrou no avanço russo as condições necessárias para propor o acordo. Afinal, com as vitórias militares inquestionáveis do governo de Vladimir Putin, qualquer acordo de cessar-fogo razoável teria de fazer concessões à Rússia e, portanto, impor uma grande derrota à política dos adversários de Trump.

Há duas semanas, Trump tentou forçar o presidente sem mandato Vladimir Zelensqui a assinar um acordo de cessar-fogo costurado entre Putin e seu homólogo norte-americano. A tentativa fracassou, com Zelensqui se queixando publicamente de Trump e este dizendo que o ucraniano não estaria preparado para a paz. O circo em frente às câmeras foi seguido por uma série de declarações hipócritas dos líderes europeus em favor de Zelensqui, em uma clara defesa da manutenção da guerra, atendendo às necessidades do imperialismo.

Na terça-feira (11), Zelensqui e o governo Trump anunciaram que teriam chegado a uma proposta de acordo de cessar-fogo. Essa proposta, no entanto, seria diferente da original, tanto que foi elogiada pelos líderes europeus e propunha um cessar-fogo de apenas um mês. Até o momento, o governo russo ainda não recebeu oficialmente a proposta, mas demonstrou ceticismo.

No mesmo dia do anúncio, a Ucrânia realizou um ataque aéreo sem precedentes, em uma tentativa desesperada de pressionar a Rússia para aceitar os seus termos do acordo.

A ofensiva russa em Kursk, por sua vez, é uma resposta ao ataque desesperado da Ucrânia. Mostra que o regime de Zelensqui não está em condições de impor um acordo segundo os seus termos.

Se Putin e Trump chegarem a um acordo de paz duradouro, é provável que as forças russas interrompam seu avanço em Sudzha, já que a Rússia nunca demonstrou ambições territoriais além da região de Kursk. No entanto, caso as hostilidades se intensifiquem, o exército russo poderá direcionar seus esforços para a derrota total do exército ucraniano e para o desmantelamento do atual regime de Zelensqui.

Sobre isso, a RT declarou de forma categórica:

“As próximas semanas serão decisivas. Ou a Ucrânia capitula sob pressão dos Estados Unidos, ou o conflito escalará para sua próxima – e possivelmente última – fase.”

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Last Update: 13/03/2025