A pesquisa mais recente da emissora norte-americana CNN, conduzida pelo instituto SSRS, revelou que a aprovação de Donald Trump nos primeiros 100 dias de seu segundo mandato é a mais baixa registrada para qualquer presidente recém-eleito desde a presidência de Dwight Eisenhower (1953-1961). O índice de aprovação do republicano caiu para 41%, um resultado que reflete uma queda notável em diversas áreas, como economia, imigração, promessas de campanha e relações exteriores.
Desde março, a aprovação de Trump sofreu uma queda significativa de quatro pontos percentuais, com uma diminuição ainda mais acentuada entre mulheres e hispano-norte-americanos. A avaliação do republicano no meio feminino caiu sete pontos, para 36%, enquanto entre os hispânicos houve uma queda semelhante, com a aprovação caindo para 28%. Além disso, enquanto 86% dos republicanos aprovam a presidência de Trump, a desaprovação entre os democratas chega a 93%. Entre os independentes, o apoio ao presidente caiu para 31%, igualando o ponto mais baixo registrado no primeiro mandato.
O “tarifaço” de Trump, que causou várias reações das bolsas de valores, foi apontado como uma das grandes razões da perda de popularidade. A aprovação do presidente na questão econômica caiu para 39%, a menor pontuação de sua carreira. A confiança na capacidade de Trump de lidar com a economia caiu 13 pontos em comparação com a pesquisa de dezembro, atingindo 52%.
Em relação à política externa, Trump também não obteve bons resultados. Sua postura em relação à Rússia na guerra com a Ucrânia e o fim de programas de ajuda externa geraram desaprovação em 60% dos entrevistados. A gestão das relações exteriores foi aprovada por apenas 39% da população. A questão da imigração, que foi um dos pilares de sua campanha, também viu uma queda na aprovação, com 53% expressando falta de confiança em suas ações nesta área.
A pesquisa revelou ainda que 64% dos americanos desaprovam a política de Trump para instituições culturais, como o Kennedy Center for the Performing Arts e os museus do Smithsonian Institution.
Ainda que toda pesquisa deva ser analisada com um alto grau de ceticismo, elas normalmente apresentam tendências verossímeis da situação política. No caso norte-americano, ela reflete a crise interna, que vem levando o governo de Donald Trump a um grande impasse.
O republicano é a expressão de um movimento cada vez mais radical da burguesia doméstica norte-americana, que se encontra revoltada com a política oficial dos setores mais poderosos da economia do país, o neoliberalismo. Esta política foi responsável pelo fechamento de muitas indústrias, levando setores da burguesia interna norte-americana à falência. Trump representa, portanto, um esforço de tentar reverter a política neoliberal, especialmente no que diz respeito à reindustrialização norte-americana e no corte de gastos militares.
Na medida em que Trump se volta contra a essência da política econômica e militar do imperialismo, ele acaba se voltando também contra o aparato imperialista em si — o chamado “Estado profundo”. Afinal, Trump sabe que este aparato é controlado por seus inimigos e, quanto mais poderoso ele for, mais chances ele terá de derrubar o republicano futuramente.
Essa é o motivo da crise, o que, por sua vez, explica a crescente insatisfação com o governo. A política de Trump, afinal, é popular. Amplos setores da classe operária o apoiaram, com a expectativa de que a reindustrialização aumentaria a oferta de empregos. No entanto, esta expectativa está sendo confrontada com uma política de sabotagem do imperialismo, que está impedindo Trump de governar.
O presidente norte-americano começou o governo causando muito alvoroço, prometendo tomar uma série de medidas que escandalizaram a imprensa imperialista inteira. Ao tomar posse, no dia 20 de janeiro, derrubou 78 das ações executivas de Biden e assinou dezenas de ordens, memorandos e proclamações próprias. Algumas entraram em vigor rapidamente, como o perdão de cerca de 1.500 réus da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2020. Trump também anunciou a saída do Acordo Climático de Paris e assinou uma ordem para reconhecer oficialmente apenas dois sexos (masculino e feminino), que seriam definidos com base nas células reprodutivas na concepção. Ele direcionou as agências a emitirem documentos governamentais mostrando o sexo das pessoas na concepção, a parar de usar identidade de gênero ou pronomes preferidos e a manter espaços exclusivos para mulheres em prisões e abrigos.
No mês seguinte, Trump anunciou que pretendia fechar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), um dos órgãos mais criminosos já criados pelo imperialismo norte-americano, responsável pela desestabilização de vários regimes. Trump também deu início a uma série de movimentações visando o fim da guerra da Ucrânia.
As conversas sobre um cessar-fogo avançaram rapidamente, em especial nas tratativas com o lado russo. No entanto, no final de fevereiro, Trump e Zelensqui se desentenderam em uma reunião transmitida ao vivo, criando um novo impasse. O imperialismo, sobretudo por meio dos governantes europeus, aproveitaram a crise para reforçar o seu apoio à Ucrânia e à manutenção da guerra.
A ausência de um acordo foi a primeira grande derrota de Trump. Junto a ela, o presidente se viu derrotado também nos tribunais, que passaram a reverter algumas de suas medidas, como o fechamento imediato da Usaid.
Em mais uma demonstração de fraqueza, Trump, que foi um dos artífices do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, se viu forçado a retomar a guerra no Oriente Médio. O vazamento de mensagens de seu vice, JD Vance, mostraram que o bombardeio do Iêmen não era a política do governo Trump, mas sim do imperialismo europeu.
No início de abril, Trump voltou a causar grande escândalo com o anúncio de suas tarifas de importação. Houve reações, mas, no geral, os governos procuraram estabelecer um acordo com o republicano. A exceção foi a China, o que levou a uma grande escalada na guerra comercial, que só resfriou há pouco. Em meio às tensões com a China, Trump também anunciou uma suspensão por 90 dias das taxas a outros países.