Em Joaquim Gomes (AL), Acampamento do MST sofre ameaça de fazendeiros e políticos da região

Foto: Mykesio Max

Da Página do MST

Mais um episódio de ameaça aos trabalhadores rurais volta a marcar Alagoas. Dessa vez em Joaquim Gomes, na Zona da Mata do estado, o Acampamento Feliz Deserto é alvo da investida de fazendeiros e grupo político do município que quer expulsar os camponeses e camponesas de seu território. Se apresentando como suposto proprietário da terra, um fazendeiro tem intimidado as famílias acampadas há 20 anos com a presença de homens armados, ameaçando e coagindo as famílias.

Conhecido como Bruno, o suposto proprietário voltou a ameaçar os trabalhadores no início de janeiro e com a justificativa de que a área é sua propriedade e as famílias estariam lá somente nos últimos meses.

Em articulação com o grupo político comandado pelo ex-prefeito da cidade, Adriano Barros (PTB), as ameaças desafiam a justiça sob argumento de que o conflito seria resolvido “na bala”, como relatam moradores das intimidações presenciadas no Acampamento.

Contrariando a alegação de que os Sem Terra estariam ocupando a área por pouco tempo, o Acampamento ocupado pelo MST em 2004 fazia parte de um conjunto de terras que pertenciam a Agro Industrial Serra Ltda (AGRISA), que abriu falência nos anos 2000 e que já existe uma ação de reintegração e posse em trâmite na Justiça Federal. Ainda nesse cenário, o suposto comprador da fazenda apresenta-se como proprietário da área denominada Gameleira, no entanto a área que as famílias estão acampadas era chamada Fazenda Feliz Deserto.

O MST já reivindicou junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) uma ação concreta de georreferenciamento e levantamento da cadeia dominial para elucidar a situação que põe em conflito as famílias acampadas.

Ao longo dos 20 anos de Acampamento, as famílias do Feliz Deserto resistiram a 8 tentativas de despejo a partir do trabalho coletivo na terra em que tiram o sustento pela produção de macaxeira, batata doce, banana, manga, coco, laranja e limão principalmente.

Foto: Mykesio Max

O Acampamento ainda possui uma casa de farinha onde as famílias produzem derivados da macaxeira e um viveiro de mudas de plantas nativas e frutíferas. Todo o conjunto dessa produção serve para o consumo das famílias, comercialização nas feiras dos municípios, além de doação para as iniciativas de solidariedade na região, onde o Acampamento participa com frequência.

Histórias que atravessam décadas

Vindo do trabalho no corte da cana-de-açúcar, Amaro Manoel e Maria Aparecida são casados e vivem no Acampamento Feliz Deserto desde o ano de 2004 e não escondem o orgulho de tudo que construíram juntos para a mudança da vida desde que chegaram no MST.

“Eu trabalhei 20 anos na usina e depois da falência dela eu saí, perdi várias semanas de serviço sem receber pelo que trabalhei e sem nenhum direito até agora”, comenta Seu Amaro, como é conhecido no Acampamento. “Desde que chegamos no Acampamento nossa vida mudou muito. Agora a gente tem a nossa própria lavoura para comer e tirar uns trocados”, explica enquanto mostra parte da sua produção no lote.

Foto: Mykesio Max

É o mesmo entusiasmo que Maria Aparecida lista tudo que tem na roça: macaxeira, batata, feijão, milho, abacaxi; e não esconde a comparação, “antes a gente trabalhava no corte da cana, saindo de casa cinco horas da manhã e voltando no fim da tarde. Hoje a gente trabalha, tem a nossa roça e a nossa vida, produzindo para mim e para quem precisa”.

Com quase a mesma idade do Acampamento, David Moura, aos 24 anos, carrega o mesmo orgulho ao falar do tempo que vive no Feliz Deserto e do aprendizado que teve desde que chegou com a família para viver na área. “Moro aqui há 3 anos com minha companheira e meu filho, conhecemos a história do Acampamento Feliz Deserto e estamos agora aqui lutando pelo nosso pedaço de terra, pelos nossos direitos e procurando ter uma vida melhor”, disse.

David é um dos responsáveis pela manutenção do viveiro Dorinha, um espaço de produção de mudas que ocupa o centro do Acampamento com capacidade para 3800 mudas destinadas para as ações de reflorestamento e comercialização da comunidade.

Fotos: Mykesio Max

“Aqui eu aprendi muita coisa, aprendi sobre sustentabilidade e cuidado com a natureza. O MST me ensinou que é preciso cuidarmos do meio ambiente para nós e para as futuras gerações, preservando as nascentes e conviver bem com a natureza”.

O viveiro organizado no Acampamento apresenta que além da produção de comida saudável, a comunidade também se organiza para os cuidados com os bens da natureza. De acordo com David, tudo é organizado com divisão de tarefas, possibilitando que todas as famílias possam contribuir com a organização do viveiro, aprender com o trabalho e ser mais um combustível para a resistência popular que atravessa a história do Acampamento.

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