No dia 27 de abril, Samer, um advogado que virou vendedor de vegetais para alimentar sua família em Gaza, foi morto por um bombardeio israelense em Deir el-Balah. Ele não empunhava armas, não pertencia a facções políticas, apenas tentava sobreviver — como muitos. A guerra o empurrou para longe da justiça e o lançou ao mercado, onde a comida se tornou mais valiosa que o ouro.

A morte de Samer devastou a família. Deixou três filhos pequenos e uma esposa que, agora sozinha, enfrenta a fome, as filas por comida e o desafio de explicar às crianças que o pai não voltará do mercado. Ele é apenas um entre os muitos civis palestinos que perderam a vida tentando alimentar os outros.

Alvo: comida

Sangue no chão após um bombardeio israelense a um restaurante que matou pelo menos 33 palestinos na cidade de Gaza em 7 de maio de 2025

Desde o início da guerra, Israel não apenas bloqueia a entrada de alimentos em Gaza — destrói, sistematicamente, todos os elos da cadeia de abastecimento. Padarias, cozinhas comunitárias, armazéns e mercados foram bombardeados. Vendedores de frutas, padeiros e cozinheiros são tratados como alvos militares.

Apenas dez dias após a morte de Samer, um mercado e restaurante em uma das ruas mais movimentadas da Cidade de Gaza foram destruídos, matando pelo menos 33 pessoas. Segundo o Escritório de Mídia do Governo em Gaza, 39 centros de alimentação e 29 cozinhas comunitárias já foram atingidos.

Israel alega que o Hamas se apropria da ajuda, e a mídia ocidental ecoa essa justificativa. Mas a realidade no terreno mostra que o objetivo é mais amplo e perverso: submeter toda a população civil à fome como arma de guerra.

Uma política de extermínio silencioso

Um médico verifica Jana Ayad, uma garota palestina desnutrida, enquanto recebe tratamento no hospital de campanha do International Medical Corps,, no sul da Faixa de Gaza

As imagens de caminhões de ajuda entrando em Gaza são, segundo os moradores, “façanhas de relações públicas”. Enquanto Israel afirma ter permitido a entrada de 388 caminhões, organizações humanitárias registram apenas 119. Boa parte da ajuda é saqueada ou impedida de chegar às vítimas. Pelo menos 500 caminhões diários seriam necessários para cobrir o mínimo das necessidades.

A farinha, quando aparece, chega a custar 450 dólares por saco. Muitos vivem com migalhas. Mães deixam de comer para alimentar os filhos. Pais voltam para casa com restos após passarem o dia caçando comida.

Crianças morrendo de fome

A fome é mais cruel com os pequenos. Segundo a Euro-Med Human Rights Monitor, em apenas 24 horas no mês de maio, 26 palestinos morreram por inanição, incluindo nove crianças. O Ministério da Saúde de Gaza contabiliza pelo menos 57 crianças mortas por desnutrição desde o início de março.

A cada noite, milhares de crianças dormem com o estômago vazio, sonhando com uma mordida que seus pais não podem dar. Muitas jamais acordam. O mundo observa — e hesita.

Cumplicidade e silêncio global

O uso deliberado da fome como arma de guerra é proibido pelo direito internacional e configura crime de guerra. Mesmo assim, governos ocidentais seguem omissos. Alguns emitem ameaças simbólicas. Nenhum age de fato.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não esconde mais o objetivo: expulsar todos os palestinos de Gaza. A liberação limitada de alimentos visa apenas alimentar a narrativa internacional de que ajuda está chegando — não alimenta o povo.

Um apelo ao mundo

Hoje, em Gaza, o maior desejo não é paz ou justiça — é um pedaço de pão. Os corpos se tornam esqueletos, os corações, frágeis. Mas ainda pulsa uma esperança: que alguém, em algum lugar, veja e se importe. Que o mundo, por fim, pare de virar o rosto diante dessa morte lenta, brutal e cotidiana.

“Quando o mundo vai parar de fechar os olhos para nossa fome?” — a pergunta ecoa entre os escombros de Gaza. E a resposta, até agora, é silêncio.

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Last Update: 25/05/2025