A fraude eleitoral na Venezuela, sem uma apuração democrática, transparente e verificável, desatou uma série de protestos espontâneos na capital Caracas e em todo o país contra a ditadura comandada por Maduro. Uma dura repressão se abateu contra os manifestantes, tachados de “terroristas”. Entre 29 de julho e 6 de agosto, segundo o próprio governo, mais de 2 mil pessoas foram presas, e 24 foram mortas, segundo a ONG venezuelana Provea.

A suposta vitória de Maduro foi anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). No entanto, o órgão nunca apresentou as atas eleitorais, que têm a totalização dos votos de cada urna, semelhantes aos boletins de urna, no Brasil.

Pelo contrário, no dia da votação, o Conselho denunciou um “ataque cibernético” que teria inviabilizado a contagem dos votos até o fim, mas correu para anunciar o resultado, cuja tendência seria “irreversível”. O CNE, as Forças Armadas e todas as instituições do Estado são controladas e acatam as ordens do governo Maduro.

Fraude a serviço de uma ditadura

O que ocorreu no dia 28 de julho na Venezuela foi uma fraude escancarada. Fosse legítimo o resultado anunciado pelo regime, o governo teria divulgado as atas ainda no próprio dia das eleições. Isso é corroborado pelo expresso sentimento da maioria da população venezuelana, que rechaça esse regime e o governo de plantão.

Os protestos que tomaram conta do país, inclusive em antigos bastiões chavistas, expressam a verdadeira vontade popular: dar um basta à ditadura e à política de fome, ainda que isso se reflita distorcidamente numa candidatura burguesa.

A repressão e a perseguição implacáveis do governo, sobretudo sobre os setores mais pobres, reafirmam que o que há, hoje, na Venezuela, é uma ditadura. Para continuar gerenciando o capitalismo, o governo Maduro persegue e reprime todo o tipo de oposição, principalmente os ativistas e lideranças sociais.

Todo apoio às manifestações contra a fraude e a ditadura capitalista

Ao contrário do que afirma a ditadura de Maduro e, também, grande parte da esquerda, os protestos na Venezuela não são um movimento orquestrado pelo imperialismo para dar um golpe no país. São mobilizações espontâneas, justamente contra o autogolpe do governo chavista, que exigem um direito democrático básico que é o reconhecimento do resultado das urnas.

É preciso apoiar as mobilizações dos trabalhadores e do povo no país por liberdades democráticas e impulsionar a construção de uma alternativa independente da classe trabalhadora.

Governo Maduro não tem nada de socialista: é uma ditadura capitalista

Ao jogar o peso da crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre, o governo Maduro provocou uma crise social sem precedentes. Um quarto da população, ou quase 8 milhões de venezuelanos, foram obrigados a deixar o país para sobreviver.

Maduro, além de impor uma brutal ditadura, ancorada nas Forças Armadas e na “boliburguesia”, não é anti-imperialista, nem cumpre qualquer papel progressivo. Ao contrário, também quer aprofundar a semicolonização da Venezuela e entregar, ainda mais, as reservas do país aos imperialismos chinês e russo.

Apoio a Maduro fortalece a ultradireita

O governo Lula, apesar da posição dúbia em relação a Maduro, exigindo transparência nas eleições, na prática, vem legitimando esse regime. A presença do assessor internacional Celso Amorim no país ajudou a conferir uma cara de legalidade a um processo completamente fraudulento.

Já a esquerda que apoia o regime chavista o faz com o argumento de que é necessário lutar contra a extrema direita. O problema é que apoiar Maduro é o que ajuda a fortalecer a extrema direita e a impulsionar seu discurso hipócrita.

Quem é quem

Nicolás Maduro
Oriundo da burocracia sindical, Maduro foi aliado de primeira hora de Chávez. Fez parte da Constituinte chavista, em 1999, e foi eleito deputado da Assembleia Nacional, no ano seguinte, tendo presidido a Casa entre 2005 e 2007.

Maria Corína
Principal líder da oposição burguesa, é herdeira de um grande empresário do aço. Foi deputada entre 2011 e 2014, ano em que ganhou projeção nacional nos protestos contra o governo. Apoiou o golpe de 2002, contra Chávez, e integra o partido de direita Vamos Venezuela (VV), integrante da Plataforma Democrática Unitária (PDU). Impedida de participar das eleições em julho, indicou Edmundo González como seu representante.

Diosdado Cabello
Apontado como o 2º nome do chavismo, depois de Maduro, sua trajetória expressa a “boliburguesia”. Ex-militar, ocupou ministérios e presidiu a Assembleia Nacional, entre 2012 e 2016. Nesse período, adquiriu o controle de três bancos e várias empresas, principalmente as que mantém negócios com estatais como a PDVSA (principal petrolífera do país).

PSUV 
O Partido Socialista Unido da Venezuela foi fundado em março de 2007, para reunir e tutelar o conjunto da esquerda, sob mando de Chávez. As organizações que não aderiram foram proscritas e seus dirigentes cassados, perseguidos e impedidos de disputar eleições.

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Last Update: 09/08/2024