Kiko Dinucci ouvia rock pesado na adolescência, mas do metal saltou para o punk e deste para o samba. Após a morte de Kurt Cobain, em 1994, diz ele, “ficou tudo comercial” no rock, enquanto o samba ofereceu um caminho para a transgressão na música brasileira.
Esse caldo sonoro formou Dinucci e pode ser notado em seus diferentes trabalhos: Padê (2007), com Juçara Marçal; Pastiche Nagô (2008), com o Bando AfroMacarrônico; no projeto Duo Moviola, com Douglas Germano; no Metá Metá (formado ainda por Juçara Marçal e Thiago França); e no grupo Passo Torto.
Em seus álbuns solo Cortes Curtos (2017) e Rastilho (2020), percebe-se o maior exemplo de sua permanente desconstrução musical.
“Cortes Curtos, que era um disco de hardcore, é todo de samba”, disse Dinucci em entrevista a CartaCapital. “Era um disco de hardcore punk que só poderia ser feito no Brasil, em São Paulo e por mim. Tem a ver como meu caminho, com meu jeito de ver a cidade.”
Depois de Rastilho, veio um disco experimental, o VHS (2021). “É um disco em que improviso 20 minutos de violão, é dificílimo de ouvir. É um violão acústico, mas muito mais agressivo, com experiência sonora mais percussiva, mais ruidosa. Fiz justamente para matar a expectativa do Rastilho.”
A lista de artistas com os quais trabalhou, como Elza Soares, Jards Macalé, Marcelo D2 e Arnaldo Antunes, mostra ousadia, com um toque musical personalíssimo.
“Tinha a aspiração de ser um compositor no sentido clássico. Um cara que pegava o violão e tirava boas letras, boas melodias, uma harmonia inteligente. Mas fui sacando que não era isso”, afirma. Com o passar dos anos, acrescenta, chegou à conclusão de que seu trabalho estava “mais ligado ao som do que à canção”.
É nesse sentido que Dinucci entende que sua obra tem seguido o caminho de “uma certa alquimia”. Trata-se, por óbvio, de um modo de trabalho que vai contra a corrente da indústria músical. “O que incomoda é que gostaria de ganhar mais dinheiro. No campo artístico não me incomodo”, admite.
Para Kiko Dinucci, a música experimental influencia a música de massa, mas a juventude tem de chegar “passando um trator” para apresentar seu trabalho.
No ano que vem, ele deve lançar um disco no qual cantará apenas com guitarra sobre a obra de Noel Rosa. “Quero tirar o Noel daquela coisa bucólica carioca do Rio de Janeiro e trazer um pouco para esquisitice. Noel Rosa também era esquisito.”
Outro projeto em que Kiko Dinucci está envolvido é um livro de história em quadrinhos intitulado Olho Derramado, todo dedicado ao cinema.
Assista à entrevista do artista a CartaCapital: