A cabeleleira Débora Rodrigues dos Santos afirmou ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que foi aos atos golpistas em Brasília no dia 8 de Janeiro de 2023 acreditando que a manifestação seria “pacífica”. O relato consta de carta escrita à mão e enviada ao magistrado em outubro passado. O teor da correspondência, porém, veio à tona nesta quarta-feira 26.

O magistrado tornou público o documento dias após votar para condená-la a 14 anos de prisão por cinco crimes: associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.

Há dois votos para sentenciar Débora. O julgamento, contudo, foi interrompido após pedido de vista do ministro Luiz Fux. A cabelereira ficou conhecida por pichar a frase “Perdeu, mané” usando batom na estátua da Justiça, que fica em frente ao edíficio-sede do STF, durante o quebra-quebra bolsonarista.

Nesta quarta, durante o julgamento que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) réu por liderar organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado após as eleições de 2022, o ministro Luiz Fux indicou que pretende revisar eventual pena de Débora.

Ela é ré no STF não apenas por ter pichado a estátua, mas também por suposta adesão ao movimento golpista desde o fim das eleições de 2022. A Procuradoria-Geral da República apontou sua participação em acampamentos golpistas e sustentou que a cabeleleira tentou apagar provas e obstruir o trabalho de investigação.

A cabeleireira está presa preventivamente desde 17 de março de 2023. Ela tem 2 filhos menores de idade e diz na carta que as crianças “estão sofrendo muito e choram todos os dias” por sua ausência. “Um castigo e uma culpa que vou lamentar enquanto eu viver”.

Na carta a Moraes, ela diz jamais ter compactuado com “atitudes violentas ou ilícitas”. “Em momento algum eu adentrei em quaisquer Casas dos poderes, fiquei somente na Praça dos 3 Poderes, encantada com as construções tão gigantescas e bem arquitetadas. Sinceramente, fiquei muito chateada com o quebra quebra nas instituições”, escreveu.

A cabelereira declarou ter ido à manifestação porque “queria ser ouvida, queria maiores explicações sobre o resultado das eleições tão conturbadas de 2022”. E disse ter pichado a estátua “sem raciocinar”, um ato que ela afirma considerar “desprezível” na carta. “Me arrependo deste ato amargamente, pois causou separação entre eu e meus filhinhos”, emenda a bolsonarista.

O documento tem três páginas. Nele, Débora alega ter pouco conhecimento em política e diz que, à época, não “sabia da importância daquela estátua, nem que ela representa a instituição do STF, tampouco sabia que seu valor é de dois milhões de reais”. Se soubesse, completa, “jamais teria a audácia de sequer encostar nela, pois minha intenção não era ferir o Estado Democrático de Direito”.

Ela finaliza a carta pedindo perdão pelo ato e defende que a “demonstração sincera do meu arrependimento” seja levada em consideração por Moraes. “Sei que não deveria, mas hoje tenho aversão à política, e quero ficar o mais distante possível disso tudo. O que mais almejo é ter minha vida pacata e simples de volta e ao lado da minha família”, conclui.

Leia a carta na íntegra: 

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Last Update: 26/03/2025