Na última sexta-feira (13), a ditadura do general Abdel Fattah al Sissi reprimiu brutalmente centenas de militantes estrangeiros que participariam da Marcha Global para Gaza. A ação, que previa uma manifestação em solidariedade ao povo palestino e o rompimento simbólico do cerco à Faixa de Gaza pela passagem de Rafá, foi completamente sabotada pelo regime egípcio. A repressão incluiu prisões arbitrárias, desaparecimentos, confisco de passaportes, vigilância constante e deportações.
A Marcha foi convocada por um comitê internacional formado por diversas organizações políticas e de solidariedade à Palestina. Militantes de dezenas de países viajaram ao Egito com o objetivo de chegar até a fronteira de Rafá e denunciar o cerco imposto por “Israel” e pelo próprio governo egípcio contra o povo palestino. A cidade escolhida para a concentração foi Ismailia, no nordeste do Egito, de onde os militantes seguiriam para o leste, até a fronteira com a Faixa de Gaza.
Contudo, já nos postos de checagem nas estradas, os manifestantes começaram a ser perseguidos. A polícia egípcia interceptou ônibus inteiros e forçou o retorno de militantes a Cairo, enquanto outros foram levados para delegacias e tiveram seus passaportes confiscados. Uma das participantes brasileiras da Marcha, Adriana Machado, militante do Partido da Causa Operária (PCO), relatou em primeira mão os episódios de repressão.
“Acabamos de saber que tem gente ainda presa sem o passaporte, e uma pessoa desaparecida. A perseguição do grupo pela polícia em Cairo continua”, denunciou Machado. Segundo ela, os militantes que conseguiram chegar a Ismailia também foram alvos da repressão. “Nos proibiram de sair”, relatou. “Eles estão aqui nos monitorando”.
Ela explicou que qualquer tentativa de sair do hotel foi impedida pelos agentes do regime. “No nosso hotel em Ismailia, tentamos ir a um restaurante e policiais armados interrogaram nosso motorista de táxi. Quando perguntamos o que estava acontecendo, eles falaram que podemos voltar para Cairo ou para o aeroporto. Qualquer outro lugar, seríamos presos”.
O clima de medo era generalizado. Militantes de diferentes nacionalidades, mesmo sem qualquer acusação ou ato ilegal, estavam sendo perseguidos, interrogados e ameaçados. “O pessoal tá com medo de voltar para o Cairo, então vamos ficar mais um dia em Ismailia”, relatou a militante do PCO.
Ela contou que no mesmo hotel estavam hospedadas três jovens militantes europeias: “tinha três meninas europeias aqui no hotel. O mesmo aconteceu com elas. Elas foram de volta para Cairo hoje”.
A repressão foi acompanhada de sequestros e desaparecimentos. “Muitas pessoas que estavam no posto de checagem no meio da estrada ainda estão desaparecidas. Muitos ainda estão sem os passaportes. Muitos foram deportados”, relatou. Segundo ela, um dos desaparecidos é um militante que ajudou diretamente os manifestantes. “Um argelino que me ajudou no posto de checagem está desaparecido”.
Machado ainda revelou que o amigo do argelino desaparecido é justamente o militante que aparece em vídeos circulando nas redes sociais sendo espancado pela polícia egípcia dentro de uma delegacia. “O desaparecido é amigo daquele argelino do chapéu que apareceu no vídeo apanhando da polícia no posto policial. Eu conheci eles ontem, eles são muito legais e me ajudaram muito ontem”.
Ao tentar deixar Ismailia, a militante relatou mais um episódio de repressão. “Nosso motorista está aqui, foi interrogado pela polícia e agora estamos saindo para o Cairo”.
O objetivo era evitar prisões e garantir a integridade física diante da perseguição do regime. Segundo ela, havia militantes tentando auxílio consular para escapar da repressão: “o inglês que está comigo entrou em contato com a embaixada inglesa e eles falaram que o governo egípcio declarou estado de emergência”.
A repressão foi organizada com um planejamento militar. O Estado egípcio mobilizou forças de segurança em todas as estradas, controlou os hotéis e estabeleceu checkpoints em pontos estratégicos para impedir a chegada dos militantes a Rafá. Os passaportes foram confiscados em massa.
“Vinte e duas pessoas ou mais, incluindo um holandês palestino, ficaram sem seus passaportes depois da repressão no posto policial no caminho para Ismailia. Duas pessoas conseguiram passaporte de emergência e conseguiram deixar o Egito. Ambos de países europeus. Ainda não conseguimos confirmar quantos desaparecidos”, afirmou Machado.
As denúncias demonstram o papel que o regime egípcio desempenha no apoio ao cerco de Gaza. A Marcha para Gaza foi convocada exatamente para denunciar que “Israel” não poderia manter seu bloqueio sem o apoio direto do governo egípcio, que controla a única saída da Faixa de Gaza não sob ocupação sionista. O general Sissi, que chegou ao poder por meio de um golpe de Estado em 2013, atua como um capacho do imperialismo norte-americano e da ditadura sionista, sendo peça-chave no controle da fronteira de Rafá.
A atuação do regime mostra o quanto a solidariedade com a Palestina é temida pelas potências imperialistas. Os militantes reprimidos não estavam armados, não praticavam qualquer ilegalidade e sequer chegaram à fronteira: a simples possibilidade de uma mobilização internacional em apoio à Resistência Palestina foi o suficiente para que dezenas de embaixadas fossem acionadas, ativistas fossem caçados e o Egito colocasse em marcha um aparato de repressão digno de um Estado de guerra.
A presença da militância do PCO na Marcha confirma o compromisso histórico do partido com a causa palestina e com a luta contra o imperialismo. Mesmo diante da repressão, a atuação de Adriana Machado e de outros militantes de diferentes países revela que há um movimento internacional disposto a denunciar o genocídio em curso em Gaza e enfrentar os regimes cúmplices da ocupação.
Ao colaborar com a repressão sionista, a ditadura de Sissi deixou claro que não é inimiga apenas do povo palestino, mas de todos os povos do mundo que lutam contra o imperialismo. A brutal repressão à Marcha para Gaza deve servir de alerta: enquanto os governantes se ajoelham diante de “Israel” e dos Estados Unidos, a solidariedade entre os povos e a luta política internacional devem se intensificar.
A luta pela libertação da Palestina continua. E continuará até que o Estado sionista seja derrotado, até que o cerco de Gaza seja rompido e que o povo palestino possa viver livre em toda a Palestina histórica.