Elon Musk e seu culto à personalidade

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Após brigar com Donald Trump, o bilionário Elon Musk (uma espécie de cosplay de Tony Stark/Ironman, com quem, aliás, dialoga rapidamente numa cena de um dos filmes do personagem) decidiu fundar um partido político. Segundo o FT ele está utilizando seus recursos tecnológicos para angariar apoio. Isso é extremamente preocupante.

Um partido político é uma associação voluntária de pessoas que compartilham crenças semelhantes acerca das necessidades de sua comunidade, cidade, nação e Estado. Os cargos de direção de um partido devem ser rotativos entre os filiados, de preferência mediante eleições limpas, justas e regulares.

As pessoas que pertencem a um partido podem divergir e coexistir apesar das pequenas diferenças. Quando isso não é possível, os interessados podem sair da organização. Perseguições as vezes acontecem, mas não deveriam ocorrer porque o caráter voluntário de um partido político não deveria possibilitar que um líder ou grupo exija que outras pessoas se sujeitem como se fossem vassalas.

A fidelidade partidária em público pode ser cobrada, mas é desaconselhável o policiamento do pensamento num partido político. Isso geralmente leva à desagregação e ao enfraquecimento da organização partidária. É isso, aliás, que diferencia um partido político de um culto.  

Num culto, a liderança não é rotativa. A obediência e sujeição ao líder deve ser automática. Quando isso não acontece o resultado é quase sempre acusações de heresia e expulsões compulsórias. Não raro, cultos policiam severamente o que as pessoas fazem, dizem e pensam. E eles também perseguem seus ex-membros mesmo depois que eles deixaram a organização.

Partidos políticos são espaços de liberdade. Cultos são prisões morais e cognitivas.

Elon Musk está usando seu poder assimétrico tecnológico para arregimentar seguidores. Ele não está criando um partido, mas um culto político à sua personalidade com ele mesmo no centro. Nós sabemos quanto estrago os algoritmos podem fazer quando recrutam pessoas correlacionando seus dados, sopram bolhas, radicalizam seus membros e os transforma em zumbis violentos.

Se essa tendência criada por Elon Musk ganhar força, outros bilionários farão o mesmo. E as disputas entre cultos políticos se tornarão conflitos entre pessoas encenadas nas ruas por facções de fanáticos antagônicos eventualmente armados e liderados de maneira personalíssima por pessoas elevadas à condição de divindades. Isso não deveria ser permitido, eu suponho.

Ambições pessoais sem limites podem envenenar toda sociedade. As instituições públicas são criadas para durar mais do que as vidas das pessoas e desenhadas para cuidar do bem comum. Elas devem ser defendidas contra o narcisismo de pessoas como Elon Musk (Jair Bolsonaro e Donald Trump também).

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

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Last Update: 22/07/2025