A Venezuela terá no dia 28 de julho próximo as eleições mais decisivas na sua luta contra o imperialismo norte-americano e aprofundamento da revolução bolivariana. A campanha eleitoral se dá sob a égide de um apoio explícito e ostensivo à candidata de centro-direita, María Corina Machado, pelo imperialismo norte-americano e europeu. O governo “democrata” do “genocida” Joe Biden parece ter abandonado definitivamente qualquer disfarce de ter como objetivo a vitória da “democracia” contra a “ditadura” de Maduro. Ao apoiar a personalidade histórica da centro-direita como sua candidata, coloca claramente que pretende promover um golpe de Estado para implantar uma ditadura fascista à la Pinochet ou, para sermos mais contemporâneos, à la Javier Milei.

Privatização de tudo, em particular a estatal do petróleo venezuelano, abertura ao capital estrangeiro, ortodoxia fiscal e demolição do estado de bem-estar social de Maduro são os objetivos do Programa “Terra da Graça” defendido pela centro-direita venezuelana. Não é, na verdade, o programa de toda a direita, que defende, em geral, pelo menos a manutenção da estatal petroleira e um programa mais restrito de bem-estar social que o defendido pela esquerda representada pelo Partido Socialista Unificado da Venezuela. Mas a campanha eleitoral vem sendo muito polarizada pela centro-direita.

A “candidatura” de Corina não existe, o candidato a presidente indicado pelos movimentos Vente Venezuela de Corina e pelo partido PUD (Plataforma Unitária Democrática) é Edmundo González Urrutia, que tem 75 anos e raramente é visto com algum destaque na campanha da “candidata” Corina. Ele esboçou alguma diferença com o programa de privatização de tudo de Corina, mas acabou cedendo e agora afirma que é o seu programa. Edmundo sempre esteve muito ligado à política do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Fundamentalmente ele é uma peça das ideias de María Corina Machado. A ideia principal de Edmundo quando diz que quer se aproximar dos Estados Unidos é a mesma ideia da Maria Corina. Eles representam a oposição golpista.

O programa de Governo de Maduro

A revolução bolivariana se propõe a continuar sua proposta de uma democracia de participação popular e soberania nacional, aprofundando a experiência que deu certo até agora. Para isto estabeleceu sete objetivos, chamados de as sete transformações:

1) Desenvolvimento de uma nova economia anti-bloqueio para modernizar métodos e técnicas de produção que diversifiquem setores-chave do novo modelo de exportação;

2) Independência total para aprofundar sua doutrina histórica bolivariana em suas dimensões política, científica, cultural, educacional e tecnológica;

3) Garantir a paz, a segurança e a integridade territorial e aperfeiçoar o modelo de convivência cidadã, que garante a justiça, os direitos humanos, a defesa da tranquilidade e da convivência social e territorial. É por isso que a proteção e o desenvolvimento do território Essequibo é necessário;

4) Acelerar a recuperação do bem-estar, das Missões e Grandes Missões, estratégia que faz parte da nova identidade política venezuelana que, ao mesmo tempo, leva adiante os valores do socialismo;

5) Fortalecimento da democracia direta com ética e por meio de um profundo processo de repolitização;

6) Defesa da vida e da natureza, com um conjunto de ações para combater a crise climática, promover a conscientização, proteger as pessoas do impacto ambiental e contribuir para o cuidado da Amazônia e das reservas naturais, protegendo-as da voracidade do capitalismo;

7) Reafirmação e renovação da liderança da Venezuela na nova configuração mundial para reconstruir a integração latino-americana e caribenha, fortalecer os BRICS e alianças estratégicas com países emergentes para contribuir para o nascimento de um mundo multipolar.

Apesar do apoio que o imperialismo e seus agentes dão à “candidatura” de centro-direita, a situação econômica e política do país são totalmente favoráveis a um novo governo Maduro. Do ponto de vista econômico, apesar da continuidade das sanções estadunidenses e até mesmo de aumento delas, a economia evoluiu favoravelmente no último período. O Banco Central da Venezuela (BCV) publicou números que revelam uma diminuição significativa da inflação.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou queda de 0,5% em relação ao final de maio, quando marcou 1,5%. Ressalte-se que este é o menor valor desde julho de 2012, ou seja, 12 anos, quando o INPC também marcou 1%. Da mesma forma, é o menor para um mês de junho em 39 anos.

Além disso, os dados do BCV mostram uma inflação acumulada de 8,9% nos primeiros seis meses do ano, a mais baixa para um período semelhante desde 2012. O próprio desempenho da economia melhorou com resultados recentes, reconhecidos por organismos internacionais como o FMI, que prevê um crescimento do PIB de 4% em 2024, o que posiciona a Venezuela como um dos países com maior crescimento na região.

O Programa nacional de diálogo e recuperação

O governo Maduro desenvolveu, nos últimos anos, uma estratégia de “diálogo e recuperação”, que tem recebido críticas de setores do próprio chavismo e da esquerda que não participa do PSUV. Trata-se de um programa claro de “União Nacional”, cujo objetivo central é a construção de uma agenda comum de recuperação econômica, na qual convirjam as visões e propostas de empresários, trabalhadores, comunidades e governo. Foi criado um Conselho Nacional de Economia Produtiva que reúne a burguesia venezuelana e as entidades de trabalhadores e movimentos sociais…

Outro aspecto complexo da estratégia de Maduro é a tentativa de obter redução das sanções pelo diálogo com o governo dos EUA, aceitando um acordo para a realização das eleições, que tem a participação do imperialismo e todos os setores da oposição, que reúne 11 candidatos a presidente.

Os erros da estratégia da candidatura de Corina Machado

O grande diferencial da oposição nestas eleições tem sido o apoio claro e decidido do imperialismo e da grande mídia internacional à candidatura da centro-direita. Até a nossa “grande imprensa” repete os bordões contra a “ditadura” de Maduro e seu envolvimento com o narco tráfico, coisas que são claramente uma mentira descarada.

Mas a candidata do imperialismo e da centro-direita tem cometido grandes erros. O primeiro e mais importante é o estrelismo de Corina, e o afastamento de sua campanha do nome do candidato verdadeiro Edmundo Gonzalez para fins eleitorais.

O segundo erro, consequência do primeiro é que Machado declarou em vários eventos que será a presidente da República. Supõe-se que, com a aspiração de um futuro governo dela no comando, seus seguidores votariam em González, o que provavelmente funcionará entre os seguidores mais fervorosos da líder.

No entanto, a construção de uma maioria política forte para os direitistas exige a adição de setores além da líder do Vente Venezuela (VV). Este tipo de candidatura pode também ter o efeito de agrupar ainda mais setores da população em torno de Maduro. A candidata Corina acumulou uma longa sequência de frases e aparições públicas em que ameaçou o chavismo como um todo ao apelar para discursos revanchistas, confrontantes e extremistas.

Outro aspecto importante é que há deficiências organizacionais fundamentais e, aparentemente, a direita como um todo não completou a grade de pessoas com nomes e sobrenomes que irão às seções eleitorais como fiscais. A organização VV não é um partido político registrado, nunca foi a eleições nacionais e, até às primárias de direita de 2023, não tinha uma organização territorial a nível nacional.

Mas o erro principal da campanha da centro-direita é o fato de que volta a pedir a interferência estrangeira. O chavismo tem uma importante frente de campanha, aludindo a Machado e ao PUD como arquitetos do bloqueio e das sanções ilegais contra o país que prejudicaram as maiores camadas da população. Essa narrativa do chavismo é sólida e várias pesquisas concordam que, para a maioria da população, que inclui chavistas, direitistas e independentes, “as sanções prejudicam a população” e não o governo venezuelano.

As previsões eleitorais são geralmente problemáticas porque o voto na democracia burguesa depende de circunstâncias especiais que podem acontecer até no dia da eleição. De qualquer forma, a estratégia da centro-direita parece não ter o alcance de conseguir reverter o favoritismo de Maduro, que tem não apenas o apoio de um “eleitorado”, mas sim um movimento organizado, resultante da mobilização consciente dos trabalhadores e de vários outros setores sociais. Um outro resultado pode gerar um conflito generalizado e favorecer a implantação de um estado despótico que dificilmente poderia se estabilizar mesmo no longo prazo.

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Última Atualização: 16/07/2024