Em um movimento que tem gerado ampla indignação e acusações de traição, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) esteve nesta quarta-feira (16) na Casa Branca, em Washington, onde articulou novas sanções dos Estados Unidos contra o Brasil. A visita foi acompanhada por Paulo Figueiredo — neto do ex-ditador João Figueiredo e réu por tentativa de golpe de Estado.
A viagem ocorreu poucos dias após o ex-presidente Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em gesto hostil ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Supremo Tribunal Federal (STF), que julga o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
“Tudo está nas mãos do Trump”
Ao sair da Casa Branca, Eduardo declarou à repórter Raquel Krähenbühl, da TV Globo, que “muito provavelmente Trump também vai apertar outras alavancas” contra o Brasil. Ele citou medidas como congelamento de bens, cancelamento de vistos e restrições ao sistema financeiro global.
“Se você olhar o que os EUA fizeram com a Rússia… são várias medidas. Tudo agora está nas mãos do Trump”, disse Eduardo, que comemorou abertamente as tarifas impostas ao Brasil.
Chantagem pela anistia dos golpistas
Em vídeo gravado ao lado de Paulo Figueiredo, o deputado afirmou que um eventual recuo nas tarifas depende da aprovação da anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
“A anistia passando no Congresso é um importante primeiro passo. Coloca o Brasil numa boa posição para fazer essas negociações”, afirmou Eduardo.
Figueiredo foi ainda mais enfático: “Não há a menor hipótese dos EUA retirarem as sanções, a não ser que o Brasil dê o primeiro passo. E não parou por aí. É apenas o início de uma jornada que pode ser tenebrosa ao Brasil.”
Paulo Figueiredo revelou que, durante a reunião com diplomatas norte-americanos, Eduardo e ele fizeram uma chamada de vídeo com Jair Bolsonaro. O grupo teria tentado convencer os americanos a substituir as tarifas por sanções pessoais — sem sucesso. “Trump está tratando disso pessoalmente”, afirmou Figueiredo.
Reação do governo: “ato antipatriótico”
A resposta do governo brasileiro foi imediata. O advogado-geral da União, Jorge Messias, classificou a atitude de Eduardo como “antipatriótica” e afirmou que ele poderá ser processado por dano moral coletivo, caso fique comprovado seu envolvimento direto com as sanções.
“Ele foi morar nos EUA para trabalhar contra os brasileiros. Qualquer centavo a mais pago pelas empresas, qualquer emprego perdido, tem que ser cobrado dele. E vamos cobrar”, disse Messias à CNN Brasil.
Segundo o ministro, Eduardo conspira para livrar o pai da cadeia e ignora os prejuízos que suas ações podem causar à economia nacional: “Está mais preocupado com os problemas da família do que com o povo brasileiro.”
Pedido de suspensão do mandato
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, entrou com pedido na Mesa Diretora da Casa para suspender cautelarmente o mandato de Eduardo por quebra de decoro parlamentar e ameaça à soberania nacional.
“Ele está promovendo sanções contra o Brasil, com impacto direto nos empregos dos trabalhadores e em ataque ao STF. Isso é traição à pátria”, disse Lindbergh, que também cobra investigação sobre o uso de passaporte diplomático e financiamento de sua estadia nos EUA, supostamente bancado por Jair Bolsonaro via doações.
Investigado pelo STF
Eduardo Bolsonaro já é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal, aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), por supostamente agir para que os EUA sancionem ministros do STF, integrantes da PGR e da Polícia Federal.
Segundo o procurador-geral Paulo Gonet, Eduardo adota “tom intimidatório” com o objetivo de interferir no julgamento do pai. Ele é investigado por coação no curso do processo e obstrução de investigação.
Clima de ruptura e ameaça à democracia
O episódio acirra a tensão entre o governo Lula e o bolsonarismo radical. Enquanto o Palácio do Planalto reafirma a defesa da soberania nacional e ameaça responder com a Lei da Reciprocidade, Eduardo atua internacionalmente contra os interesses do país.
A postura do deputado — eleito pelo voto popular — de apoiar sanções contra a economia nacional e chantagear o Congresso com a pauta da anistia tem sido amplamente criticada por juristas, parlamentares e lideranças da sociedade civil, que veem no gesto uma grave violação aos princípios democráticos e constitucionais.