
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, do PL de São Paulo, divulgou em seu canal no YouTube um vídeo que revela negociações em andamento com aliados do ex-presidente Donald Trump. A ideia seria transferir imigrantes brasileiros presos nos Estados Unidos — supostamente ligados a grupos criminosos — para uma prisão de alta segurança em El Salvador. Com informações do The Intercept Brasil.
O vídeo foi divulgado no canal Timeline, apresentado pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, no domingo, 11. Nele, o deputado deixa claras suas intenções: “Eu cheguei a fazer alguns contatos dentro da administração Trump com relação a isso, pra ver se a gente consegue também levar com que essas organizações criminosas brasileiras, seja dado a elas o tratamento de organizações terroristas nos Estados Unidos”, afirma Eduardo.
Ele continua: “E quem sabe […] identificar essa conexão com essas organizações criminosas, para que esses brasileiros bandidos cumpram suas penas nos presídios de El Salvador.”
No mesmo vídeo, Eduardo comenta que visitou duas vezes o CECOT — Centro de Confinamento do Terrorismo — e elogia as medidas enérgicas adotadas pelo presidente salvadorenho Nayib Bukele. “É algo realmente sensacional. Ali é cana braba”, relata. Para ele, essa prisão simboliza a transformação do país, que “era o mais violento do mundo em um dos mais seguros”.

Segundo Eduardo, a proposta está ainda em fase inicial, descrita como “cogitação”, embora “os primeiros passos” já tenham sido dados. Para avançar, seria necessário que os Estados Unidos classificassem o PCC — Primeiro Comando da Capital — e o Comando Vermelho como grupos terroristas estrangeiros. Isso permitiria deportações com cumprimento da pena fora dos EUA. Ele também destaca a necessidade de analisar os acordos de extradição entre Brasil e EUA para avaliar a viabilidade legal.
A estratégia segue um modelo adotado durante a gestão Trump, quando organizações como o Tren de Aragua, da Venezuela, e a gangue MS-13 foram declaradas grupos terroristas. Isso autorizou os EUA a aplicar a Alien Enemies Act, uma lei de 1798 que permite deportações rápidas em tempos de guerra. Conforme revelou o site Mother Jones, a administração Trump usou essa brecha para enviar mais de 230 venezuelanos ao CECOT, sem julgamento, baseando-se apenas em tatuagens — prática criticada por especialistas.
Eduardo Bolsonaro tem pressionado o governo brasileiro para seguir caminho semelhante. Em março, declarou que reconhecer o PCC como organização terrorista seria “um passo decisivo para desmantelar uma das redes criminosas mais perigosas do mundo”. Em 10 de maio, publicou no X (antigo Twitter): “Seria ótimo ver Trump mandando os piores criminosos do Brasil para cumprir pena na prisão do cara mais linha-dura do momento, Bukele”.
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A taxa de encarceramento em El Salvador sob o governo Bukele é alta, cerca de 2% da população, o que equivale a aproximadamente 4 milhões de pessoas no Brasil. Muitas prisões ocorreram sem devido processo legal, após a decretação do estado de emergência em 2022, que suspendeu direitos civis.
O sistema prisional salvadorenho enfrenta acusações de abusos e tortura. No primeiro ano do estado de exceção, foram registradas 159 mortes em prisões, das quais 28 violentas. O CECOT é apresentado a visitantes estrangeiros, mas as condições reais do sistema carcerário são pouco transparentes.
Ainda não há definição para os detidos transferidos pelos EUA. Alguns foram levados a outras unidades, e o governo Trump tem resistido a decisões judiciais que pedem a repatriação de presos como Kilmar Abrego Garcia.
Durante o governo Trump, autoridades tentaram fortalecer a cooperação com o Brasil no combate ao crime organizado. Em maio, David Gamble, coordenador interino de sanções do Departamento de Estado, esteve em Brasília para reuniões bilaterais.
Nesses encontros, o governo dos EUA apresentou um relatório do FBI indicando a presença das facções brasileiras PCC e Comando Vermelho em pelo menos 12 estados americanos, incluindo Nova York, Nova Jersey, Massachusetts e Flórida.
Apesar da pressão, o governo Lula rejeitou formalmente a proposta de classificar essas facções como grupos terroristas. “Não temos organizações terroristas aqui. Temos organizações criminosas que se infiltraram na sociedade”, declarou o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, à agência Reuters.
Em entrevista à CNN Brasil, Sarrubbo explicou que a legislação brasileira define terrorismo com base em motivações como xenofobia, racismo ou intolerância religiosa — critérios que não se aplicam às facções citadas.
Questionado pelo site Mother Jones, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que os relatos sobre as reuniões com autoridades brasileiras não refletem exatamente o teor das discussões. A nota oficial destacou que a missão teve como foco “reforçar a cooperação bilateral no combate a organizações criminosas transnacionais, além de programas de sanções contra o terrorismo e o narcotráfico”.
Mesmo com o posicionamento brasileiro, Eduardo Bolsonaro defende que os EUA podem prosseguir com o plano por conta própria. “Mesmo que o governo Lula não queira, os americanos podem fazer como fizeram com o Tren de Aragua, que é o PCC da Venezuela”, escreveu nas redes sociais.
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