Submissão Algorítmica: Eduardo Bolsonaro e a Internacional da Extrema-Direita
por Reynaldo Aragon
Por trás do discurso de vítima, Eduardo Bolsonaro opera como o principal agente de uma engrenagem global que une Trump, big techs e a nova extrema-direita para subjugar o Brasil por dentro.
Nos últimos meses, especialmente após a eleição de Donald Trump em 2024, as conexões entre Eduardo Bolsonaro, o bolsonarismo e as forças da extrema-direita internacional se intensificaram de maneira significativa. Eduardo não é apenas um deputado federal ou herdeiro político; ele se consolidou como um dos principais articuladores da aliança entre o trumpismo norte-americano, as big techs libertárias e os think tanks ultraconservadores que buscam desestabilizar democracias por meio de guerra cultural, desinformação em massa e captura institucional.
Sua atuação política transcende fronteiras e instituições. Eduardo ocupa uma posição central na nova engrenagem global da direita digital, que combina tecnolibertarianismo, autoritarismo e capitalismo de vigilância. Ao se apresentar como vítima de censura, atua sistematicamente para corroer os pilares do Estado democrático de direito, reproduzindo no Brasil o manual político ensaiado por Donald Trump e seus aliados.
Este artigo apresenta, de forma clara, objetiva e fundamentada, como essas conexões se estruturam, quais são os atores envolvidos e por que Eduardo Bolsonaro é peça fundamental em um projeto transnacional que visa submeter as democracias aos interesses corporativos e à agenda geopolítica da nova extrema-direita. A análise revela que não se trata de um fenômeno improvisado. É um projeto articulado que envolve think tanks bilionários, plataformas digitais, operadores ideológicos e agentes legislativos.
Essa denúncia, que venho sustentando há anos, torna-se cada vez mais urgente diante dos episódios recentes de articulação internacional, propagação de desinformação e ataques diretos às instituições democráticas brasileiras. Os próximos tópicos expõem em detalhes como essa engrenagem funciona, quais são suas conexões internacionais e que papel estratégico Eduardo Bolsonaro desempenha nesse processo.
Eduardo Bolsonaro e o Trumpismo.
Desde a eleição de Donald Trump em 2024, Eduardo Bolsonaro tem intensificado sua atuação como ponte direta entre o bolsonarismo e o trumpismo. Sua presença frequente nos Estados Unidos, seus encontros com figuras centrais da extrema-direita americana e sua participação ativa em eventos estratégicos como a CPAC são indicativos claros de sua função como operador político internacional. Eduardo não atua apenas como representante do bolsonarismo no exterior, mas como uma peça de articulação dentro do ecossistema global da nova direita radicalizada.
Seu vínculo mais visível é com Steve Bannon, ex-estrategista de Trump e mentor de Eduardo na lógica da guerra cultural e da guerra híbrida. Bannon já declarou publicamente que o Brasil é um “pilar fundamental” na luta global contra o que chama de “globalismo marxista”, e que Eduardo Bolsonaro é seu principal aliado na América Latina. Essa relação foi formalizada com a entrada de Eduardo no “The Movement”, rede internacional criada por Bannon para articular lideranças da extrema-direita em diversos países.
Além de Bannon, Eduardo mantém relações diretas com Donald Trump Jr., com quem compartilha estratégias de comunicação, táticas de mobilização digital e retórica conspiratória. Essas conexões não são simbólicas, mas operacionais. Eduardo tem participado ativamente de encontros fechados com figuras como Matt Schlapp (presidente da CPAC), Tucker Carlson (ícone da mídia trumpista), e empresários como Mike Lindell e Peter Thiel, este último um dos principais financiadores do Vale do Silício ligado à agenda ultraconservadora.
Nos últimos meses, com Trump novamente no poder, Eduardo tem atuado como interlocutor informal entre o governo dos EUA e a extrema-direita brasileira, inclusive participando de campanhas que pedem a aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF no Brasil, em clara tentativa de internacionalizar a pressão sobre o Judiciário brasileiro. A retórica usada por Eduardo, que pinta o STF como autoritário e perseguidor da “liberdade de expressão”, é um reflexo direto da cartilha trumpista. Ao mesmo tempo, ela serve para justificar internacionalmente as estratégias de desinformação e lawfare que sustentam o projeto de poder da extrema-direita.
Dessa forma, Eduardo Bolsonaro não é apenas um seguidor de Trump. Ele se posiciona como um operador ativo, com função geopolítica específica: garantir que o Brasil se mantenha alinhado à nova ordem autoritária promovida pelo trumpismo, não só em termos ideológicos, mas também estratégicos, digitais e econômicos.
Alinhamento com as Big Techs e o Tecnolibertarianismo.
A relação de Eduardo Bolsonaro com as big techs não é casual nem apenas instrumental. Ela se insere numa aliança ideológica profunda com o tecnolibertarianismo, uma corrente política que mistura culto ao mercado, desconfiança do Estado e defesa radical da liberdade de expressão, mesmo quando usada para promover desinformação, discurso de ódio e ataques à democracia. Nesse ambiente, as plataformas digitais são tratadas como territórios “livres” de regulação estatal, e seus donos como figuras messiânicas da nova ordem.
Eduardo tem se aproximado abertamente de nomes como Elon Musk, que vem usando a plataforma X (ex-Twitter) para atacar diretamente o Supremo Tribunal Federal, insinuar censura no Brasil e oferecer apoio simbólico aos bolsonaristas. Musk, que promove uma visão de liberdade irrestrita de expressão nas redes, tem replicado o discurso típico da extrema-direita global, tratando qualquer tentativa de responsabilização por desinformação como autoritarismo judicial.
Outro nome central nesse alinhamento é Peter Thiel, bilionário do Vale do Silício e fundador da Palantir Technologies, empresa que desenvolve sistemas de vigilância e mineração de dados utilizados por agências como CIA e FBI. Thiel é um dos financiadores da nova direita global, mentor de movimentos como o “America First” e entusiasta do Project 2025, plano que visa reestruturar o Estado americano sob controle do trumpismo. Eduardo já participou de encontros com grupos próximos a Thiel e vem replicando no Brasil a retórica tecnolibertária que ele impulsiona: desconfiança de instituições públicas, culto à iniciativa privada, promoção da vigilância digital como ferramenta de segurança e defesa irrestrita das plataformas como “arenas neutras” de debate.
Esse alinhamento ideológico e estratégico também se expressa na atuação de Eduardo na defesa irrestrita de redes como WhatsApp, Telegram e Gettr. Esta última, inclusive, foi promovida diretamente no Brasil por Jason Miller, ex-assessor de Trump e amigo pessoal de Eduardo, que chegou a visitá-lo em Brasília para organizar campanhas de contra-informação. Essas plataformas foram o principal campo de mobilização digital durante os ataques de 8 de janeiro e continuam servindo como base de organização da extrema-direita no país.
Na prática, o que Eduardo Bolsonaro representa é uma articulação entre a política e o capital informacional, onde as big techs funcionam não só como palco, mas como parte ativa do projeto de poder. Trata-se de um golpe corporativo transnacional contra o Estado e as instituições democráticas, travestido de “defesa da liberdade”. As plataformas digitais são convertidas em ferramentas de guerra híbrida, e os líderes da extrema-direita se tornam seus operadores estratégicos.
A engenharia de conflito e desestruturação institucional no Brasil.
A atuação de Eduardo Bolsonaro não se limita à repetição de slogans ou à simples importação de retóricas estrangeiras. Ele participa ativamente da aplicação de um modelo sofisticado de desestruturação política, baseado na manipulação coordenada de afetos, no controle dos fluxos informacionais e no tensionamento deliberado das engrenagens institucionais. Em vez de tanques, o ataque se dá por saturação do ambiente comunicacional com narrativas corrosivas. No lugar de uma tomada de poder tradicional, o objetivo é erodir progressivamente a legitimidade das instituições, tornando-as disfuncionais aos olhos da população.
Esse processo ficou evidente no ciclo que levou aos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Diferente de uma mera imitação do que ocorreu nos Estados Unidos dois anos antes, o episódio brasileiro seguiu protocolos estratégicos similares, operando com mobilização digital em tempo real, financiamento de operadores de caos, ativação de redes radicais e difusão coordenada de boatos por plataformas como Telegram, WhatsApp e X. Eduardo Bolsonaro esteve no centro dessa engrenagem, articulando encontros com figuras da extrema-direita americana nos meses anteriores, espalhando alegações infundadas de fraude eleitoral e legitimando a insurreição como resposta “legítima” ao sistema.
Sua atuação não é impulsiva nem improvisada. Eduardo serve como elo funcional de um modelo transnacional que busca minar os fundamentos das democracias representativas por meio de táticas que mesclam comunicação estratégica, mobilização emocional e ação indireta. O foco não é disputar o poder dentro das regras, mas sim transformar a arena política em um campo de guerra simbólica, onde a regra é o ruído, a polarização e a deslegitimação sistemática de qualquer forma de regulação institucional.
Essa engrenagem se alimenta de afetos intensos, como medo, raiva, ressentimento, antipolítica e ressentimento anticivilizatório. Utiliza o apelo religioso, o moralismo punitivista e a fantasia de uma guerra contra “inimigos internos” — sejam ministros do STF, jornalistas, professores, cientistas ou movimentos sociais — para manter a sociedade em permanente estado de mobilização paranoica. Não se trata de conquistar hegemonia política, mas de implantar um regime de instabilidade crônica, onde o desgaste da ordem democrática seja visto como um preço aceitável para a conquista de um novo regime de controle.
Eduardo Bolsonaro, portanto, não é um mero agitador. Ele atua como operador estratégico da entropia institucional. Seu papel é o de catalisador de uma lógica onde o caos se torna método. Não por erro, mas por desenho. Não por incompetência, mas por cálculo. E é por isso que sua atuação deve ser compreendida como parte de um esforço internacional para implodir o pacto democrático por dentro.
O Project 2025 e a tropicalização do modelo autoritário.
Com Donald Trump de volta à presidência dos Estados Unidos, o Project 2025 passou a ocupar papel central na reconfiguração do Estado americano segundo os parâmetros da extrema-direita. Elaborado por mais de cem organizações ultraconservadoras e coordenado pela Heritage Foundation, o projeto propõe uma reforma administrativa radical, voltada à centralização do poder executivo, ao desmonte de agências reguladoras e à eliminação de resistências burocráticas ao programa ideológico trumpista. Seu objetivo declarado é remover os entraves da chamada “burocracia permanente” e ocupar o Estado com leais comprometidos com a agenda nacional-populista.
Esse plano já tem influência direta no Brasil por meio da atuação de Eduardo Bolsonaro. A partir de sua articulação com os mesmos think tanks e agentes que estruturam o Project 2025, Eduardo vem buscando importar para o cenário brasileiro uma agenda de desmonte institucional semelhante. As semelhanças vão além da inspiração retórica. Há um alinhamento tático na defesa da desregulação de plataformas digitais, no ataque sistemático às universidades e à imprensa, na tentativa de esvaziamento de instituições de controle e na substituição de quadros técnicos por militantes ideológicos.
A cartilha do Project 2025 prevê, entre outros pontos, a supressão de direitos civis em nome da moral conservadora, o enrijecimento das fronteiras em nome da segurança nacional, o favorecimento de grupos religiosos ultraconservadores no campo educacional e o enfraquecimento de políticas públicas em áreas como meio ambiente, saúde e ciência. Eduardo Bolsonaro, ao se aproximar dessa agenda, não atua como mero imitador. Ele participa de uma rede que pretende tropicalizar esse projeto, adaptando suas diretrizes à realidade brasileira com apoio de grupos locais como Instituto Millenium, Instituto Liberal, MBC, além de conexões internacionais como Atlas Network e Claremont Institute.
A recepção acrítica dessa agenda no Brasil é um risco estrutural. Não se trata apenas de copiar políticas importadas, mas de incorporar um modelo que parte da premissa de que o Estado precisa ser capturado por dentro, remodelado a serviço de um novo regime político baseado em controle da informação, supressão de dissenso e culto à autoridade. O bolsonarismo, através de Eduardo, é o canal de penetração dessa lógica no Sul Global, e o Brasil tornou-se peça estratégica nessa engrenagem geopolítica que articula desinformação, tecnologia e ideologia autoritária.
Esse processo representa mais do que uma simples afinidade entre projetos. Ele traduz uma aliança operacional entre os setores que comandam a reestruturação da extrema-direita global e os agentes que, no Brasil, buscam manter vivo o projeto bolsonarista mesmo após a derrota nas urnas. Enquanto o Project 2025 prepara o terreno para uma virada autoritária nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro trabalha para que o Brasil siga a mesma trilha, amparado por bilionários, plataformas digitais e think tanks transnacionais.
O Brasil como experimento geopolítico da nova extrema-direita.
O Brasil não é apenas um aliado periférico do projeto autoritário articulado pelo trumpismo e seus operadores globais. Desde 2018, e com maior intensidade após o retorno de Donald Trump à presidência em 2024, o país passou a ocupar um lugar central como campo de teste para estratégias de desestabilização política, manipulação algorítmica e reorganização do poder em moldes autoritários sob aparência democrática.
Eduardo Bolsonaro desempenha um papel-chave nesse experimento. Sua atuação conecta laboratórios ideológicos nos Estados Unidos e na Europa a dinâmicas operacionais no Brasil, com destaque para a adaptação de campanhas de guerra informacional, mobilização de seitas digitais, e ocupação de estruturas institucionais por operadores políticos alinhados à nova direita global. O bolsonarismo, sob sua condução, deixou de ser um projeto nacionalista para se transformar em uma interface local de uma rede transnacional que opera por meio de think tanks, aplicativos de mensagens, fundos bilionários e plataformas digitais sem regulação.
A tentativa de sabotagem institucional vista no 8 de janeiro de 2023, a ofensiva contra o STF e o TSE, os ataques sistemáticos a universidades e centros de pesquisa, bem como as campanhas de difamação contra jornalistas, cientistas e políticos de oposição, não são manifestações isoladas. Elas fazem parte de um arcabouço tático ensaiado em outras geografias, mas customizado para o contexto brasileiro. A fragilidade institucional, a concentração dos meios de comunicação e a estrutura social desigual transformam o Brasil em um terreno fértil para experimentos de erosão democrática.
O papel de Eduardo é viabilizar essas dinâmicas com apoio técnico, financeiro e ideológico de seus aliados estrangeiros. A CPAC Brasil, organizada sob sua liderança, é um exemplo cristalino dessa integração. Trata-se de um evento importado dos EUA, financiado por organizações ultraconservadoras como Heritage Foundation e Atlas Network, com o objetivo de articular lideranças locais em torno de uma agenda antissistema, anticientífica e antiliberal sob o verniz da liberdade de expressão.
Nesse contexto, o Brasil não está apenas sofrendo uma ofensiva política interna. Está sendo usado como ensaio prático de uma nova forma de captura de soberania, onde o inimigo não se apresenta em forma de exército, mas de plataforma, narrativa e lógica algorítmica. E Eduardo Bolsonaro, com sua agenda ostensivamente internacionalista e subordinada a interesses externos, é hoje um dos principais vetores dessa transição silenciosa que visa remodelar o sistema político brasileiro por dentro, usando o caos como ferramenta e a linguagem da liberdade como fachada.
Eduardo Bolsonaro como operador estratégico da desordem informacional.
Eduardo Bolsonaro não é uma figura periférica nem um mero herdeiro do bolsonarismo. Ele se consolidou como um operador estratégico de um projeto autoritário global que instrumentaliza o caos informacional, deslegitima instituições democráticas e promove uma aliança entre elites ultraconservadoras, bilionários tecnolibertários e plataformas digitais. Sua atuação é calculada, financiada e articulada com os centros mais avançados da nova extrema-direita internacional.
Ao conectar o bolsonarismo ao trumpismo, Eduardo funciona como um tradutor político de uma agenda que não reconhece limites constitucionais, que relativiza o Estado de Direito e que utiliza a liberdade de expressão como escudo para desinformar, incitar e corroer a confiança social. Seu vínculo com o Project 2025, com figuras como Steve Bannon, Elon Musk e Peter Thiel, e com think tanks como a Heritage Foundation e a Atlas Network revela que o bolsonarismo é hoje parte de uma engrenagem transnacional cujo objetivo é substituir democracias liberais por regimes autoritários digitais, ancorados na dominação algorítmica e no controle afetivo da população.
O que está em jogo não é apenas a trajetória de um deputado federal. É a soberania informacional do Brasil, sua capacidade de manter instituições públicas protegidas da ingerência de redes privadas transnacionais que operam no subsolo da democracia. A atuação de Eduardo Bolsonaro representa um vetor de captura institucional, cuja principal arma é a arquitetura da desordem: a fusão entre discurso radicalizado, tecnologia de manipulação e financiamento ideológico externo.
Diante desse cenário, não é possível mais tratar Eduardo Bolsonaro como um agente político convencional. Ele é um agente tático, um operador de guerra cognitiva, que trabalha para garantir que o Brasil siga subordinado à agenda geopolítica da extrema-direita global. E se essa análise soa alarmista para alguns, basta observar como os mesmos nomes, as mesmas ideias e as mesmas plataformas que operaram a desestabilização nos Estados Unidos hoje ecoam com força no território brasileiro, com Eduardo no centro desse sistema.
Desmascarar essa engrenagem é um dever democrático. E, como venho afirmando há anos, o tempo da inocência institucional já passou. A extrema-direita não brinca de política. Ela opera com método, investimento e propósito. E Eduardo Bolsonaro é, nesse processo, uma peça-chave.
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