Edmundo González Urrutia, candidato da oposição na Venezuela, autoproclamou-se o novo presidente da Venezuela nesta segunda-feira (5). A coalisão de direita, liderada por González e Maria Corina Machado, contesta o resultado da eleição desde o dia da votação, em 28 de julho.
A autoproclamação de González tem caráter simbólico, pois segundo a legislação venezuelana, quem tem poder legal de proclamar um novo presidente é o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), autoridade eleitoral do país. Em 2019, Juan Gerardo Guaidó também se autoproclamou presidente da Venezuela, foi reconhecido por países que se opõem a Maduro, mas saiu do país após três anos.
“Nós vencemos esta eleição sem qualquer discussão. Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora, cabe a todos nós fazer respeitar a voz do povo. Procede-se, de imediato, à proclamação de Edmundo González Urrutia como presidente eleito da República”, disse comunicado assinado por González e Maria Corina Machado.
🇻🇪 AGORA: Edmundo González, candidato da oposição nas eleições venezuelanas, se proclama presidente eleito do país e pede que militares “se coloquem ao lado do povo”.
“Nós ganhamos esta eleição sem discussão alguma. Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma… pic.twitter.com/GW5CzMig02
— Eixo Político (@eixopolitico) August 5, 2024
Maduro foi proclamado vencedor da eleição pelo CNE na semana passada com 51,95% dos votos, enquanto González recebeu 43,18%, com 96,87% das urnas apuradas, segundo números atualizados na última sexta (2).
A oposição e países como Argentina, Uruguai e Estados Unidos contestam os números divulgados pelo CNE e pedem a divulgação integral das atas eleitorais. Observadores internacionais da eleição, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia também não reconhecem o resultado e pedem a divulgação das atas eleitorais. O Centro Carter, ONG que observa democracias e eleições pelo mundo, disse que o pleito “não pode ser considerado democrático”.
A autoproclamação ocorre após alguns países do mundo, liderados pelos Estados Unidos, considerarem Edmundo González vencedor da eleição. Uma contagem paralela de votos, também sem apresentação de atas, realizada pela oposição diz que González venceu Maduro com 67% dos votos, contra 30% do presidente.
Até o momento, Maduro não comprovou sua vitória na disputa. O presidente chamou seus opositores de terroristas e disse que eles “têm que estar atrás das grades”. A Suprema Corte da Venezuela realizou na última sexta-feira (2) uma auditoria do resultado da eleição, a pedido do presidente.
Brasil, Colômbia e México divulgaram uma nota conjunta na quinta-feira (1º), pedindo a divulgação de atas eleitorais na Venezuela. A nota pede também a solução do impasse eleitoral no país pelas “vias institucionais” e que a soberania popular seja respeitada com “apuração imparcial”. O Brasil já vinha pedindo que o CNE — órgão controlado na prática por Maduro — apresente as atas eleitorais, espécie de boletim das urnas.
Leia a nota de González:
“Venezuelanos, cidadãos militares e funcionários policiais,
A Venezuela e o mundo inteiro sabem que nas eleições do passado 28 de julho nossa vitória foi esmagadora. Desde o mais humilde cidadão, testemunha, membro de mesa, oficial das Forças Armadas, policial, até os organismos internacionais e governos, todos sabem disso. Com as atas em mãos, o planeta viu e reconheceu o triunfo das forças democráticas.
Nós fizemos a nossa parte. Realizamos a mais formidável mobilização cívica para que a vitória eleitoral fosse incontestável. É um triunfo obtido com enorme energia e firmeza, e o fizemos em paz. Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro conseguiu 30%. Essa é a expressão da vontade popular. Vencemos em todos os estados do país e em quase a totalidade dos municípios. Dessa realidade são testemunhas todos os cidadãos, incluindo os membros do Plano República.
No entanto, Maduro se recusa a reconhecer que foi derrotado pelo país inteiro e, diante do protesto legítimo, lançou uma ofensiva brutal contra dirigentes democráticos, testemunhas, membros de mesa e até mesmo contra o cidadão comum, com o propósito absurdo de querer ocultar a verdade e, ao mesmo tempo, pretender encurralar os vencedores.
Fazemos um chamado à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa violação massiva dos direitos humanos, o alto comando se alinha com Maduro e seus vis interesses. Enquanto vocês estão representados por esse povo que saiu para votar, por seus companheiros das Forças Armadas Nacionais, por seus familiares e amigos, cuja vontade foi expressa em 28 de julho e que vocês conhecem.
Estamos conscientes de que em todos os componentes das Forças Armadas Nacionais está presente a decisão de não reprimir os cidadãos que pacificamente reclamam seus direitos e sua vitória. Os venezuelanos não somos inimigos das Forças Armadas. Com essa disposição, os chamamos a impedir as ações de grupos organizados pela cúpula madurista, uma combinação de esquadrões militares e policiais e grupos armados à margem do Estado, que golpeiam, torturam e também matam, sob a proteção do poder maligno que representam. Vocês podem e devem parar essas ações de imediato. Nós os instamos a impedir o desvario do regime contra o povo e a respeitar, e a fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer torná-los cúmplices disso.
Vocês sabem que temos provas irrefutáveis da vitória. O relatório do Centro Carter é demolidor sobre as condições e o resultado eleitoral, enquanto Maduro tenta fabricar alguns resultados quando, além disso, o prazo legal para a publicação dos mesmos já venceu.
Membros das Forças Armadas e dos corpos policiais, cumpram seus deveres institucionais, não reprimam o povo, acompanhem-no.
Da mesma forma