Em entrevista à GloboNews, dirigente petista fala sobre IOF, critica o avanço do Congresso sobre prerrogativas do Executivo e defende diálogo para a construção de uma agenda nacional
Eleito no último domingo (6) presidente do Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras (PT), Edinho Silva fez uma avaliação crítica da atual relação entre o Executivo e o Congresso Nacional e apontou a necessidade de o Brasil reencontrar os fundamentos do presidencialismo.
À GloboNews, nesta quarta-feira (9), o dirigente petista também falou sobre votação do decreto do IOF, defendeu justiça tributária, cobrou mais transparência nas renúncias fiscais e reforçou a missão do partido com uma agenda ampla de desenvolvimento social e econômico. “Não queremos um país de privilégios”, afirmou, ao comentar as medidas do governo para promover justiça tributária.
Segundo Edinho, a recente votação que revogou o decreto de reajuste do IOF expôs um desequilíbrio institucional. Ele lembrou que o governo havia negociado previamente com os presidentes da Câmara e do Senado, além de líderes parlamentares, mas que o entendimento foi rompido de forma abrupta.
“O governo mandou um reajuste do IOF, abrindo diálogo com os presidentes das duas casas, com os líderes do Congresso Nacional. Mas, de forma abrupta, esse processo foi rompido. A matéria foi colocada para votação e o governo sofreu uma derrota.”
O decreto, segundo Edinho, buscava corrigir uma distorção herdada do governo anterior. “O IOF do Bolsonaro era de 6%. O governo Lula propôs 3,5%. Houve uma tentativa de diálogo. Mas a votação foi usada para impor derrota política. Então, o governo teve que explicar para a sociedade o que estava em jogo.”
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Tributação mais justa
Edinho Silva reforçou que o debate tributário precisa ser feito com foco na realidade da população e na correção de distorções que penalizam os mais pobres. Defendeu a redução do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e R$ 7 mil, e o aumento da tributação sobre grandes movimentações financeiras, atualmente isentas.
“Queremos reduzir o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil e também de quem ganha até R$ 7 mil. E ao mesmo tempo taxar as grandes movimentações financeiras que hoje não são tributadas.”
O petista também destacou que as renúncias fiscais somam hoje cerca de R$ 860 bilhões anuais e precisam ser discutidas com transparência. “Eu fui prefeito quatro vezes. A gente dava incentivos com começo, meio e fim para atrair empresas. Mas o Brasil criou uma lógica de desoneração eterna. Quem paga o preço é o povo que compra o pão, o arroz, o feijão, o remédio.”
Edinho afirmou que a sociedade deve participar desse debate e acompanhar de perto o uso dos recursos públicos. “A sociedade precisa saber quem está deixando de pagar imposto e por quê. E decidir se isso vale a pena. É um debate democrático e necessário.”
Durante a entrevista, ele criticou a atual relação entre os poderes do país. Edinho afirmou que há uma descaracterização do sistema presidencialista previsto na Constituição, com o Congresso ocupando funções típicas do Executivo.
“Nós estamos vivendo a descaracterização do presidencialismo. O Congresso passou a ocupar funções que são próprias do Executivo. A Constituição de 1988 diz que o Brasil é presidencialista. Mas estamos criando contradições institucionais sérias.”
Para ele, essa dinâmica desequilibra o funcionamento institucional e leva o Supremo Tribunal Federal (STF) a ser acionado como árbitro.“A sociedade muitas vezes critica o Supremo. Mas quando o Legislativo e o Executivo entram em choque, o Supremo vira árbitro. Isso não é saudável.”
“Precisamos fortalecer a democracia, os partidos e dar fim a essa lógica de varejo no Congresso, onde os interesses individuais falam mais alto do que uma agenda nacional.”
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Agenda para o país
O presidente do PT disse que o partido está comprometido com a construção de propostas estruturantes para o país, com foco em áreas como segurança pública, justiça fiscal e transição energética.
“Queremos apresentar uma proposta de segurança pública para o Brasil. Queremos liderar a transição energética, dar exemplo de desenvolvimento com proteção ambiental. O governo do Lula é o governo da menor taxa de desemprego da história.”
Edinho também negou que o partido esteja se afastando do diálogo político ou adotando uma postura de enfrentamento institucional.“O governo não está se colocando como anti-sistema. O que houve foi a necessidade de explicar à sociedade o que estava acontecendo. O discurso do Congresso era que o governo queria aumentar impostos. Isso não era verdade. Era preciso esclarecer.”
“O erro foi do Congresso, que interrompeu o diálogo. Mas o governo continua disposto a dialogar. O presidente Lula sempre foi um construtor de pontes. Nós vamos continuar construindo consensos.”
Ouça a íntegra da entrevista:
Alianças
Ao falar sobre articulações políticas e a preparação para as eleições de 2026, Edinho reforçou que o PT sabe dialogar com o centro e continuará apostando em frentes amplas.
“Ninguém governa o Brasil sem dialogar com o centro. E o PT tem experiência nisso. O próprio Lula venceu em 2022 com uma frente ampla. Agora é hora de construir uma nova agenda para 2026.”
Ele também rejeitou a ideia de que o PT seja um partido de confronto e disse que sua trajetória pessoal é marcada pelo diálogo.
“A minha trajetória é de diálogo. Vamos fazer um partido aberto à sociedade, que respeite a diversidade de pensamento. Mas que também tenha firmeza para defender a soberania, a justiça social e os interesses do povo.”
Relação com EUA
O presidente do PT responsabilizou Trump pelo “abalo” nas relações entre os dois países e criticou a forma como o republicano reagiu à cúpula do Brics no Brasil.
“Eu não tenho nenhuma dúvida que foi uma reação ao encontro dos Brics… Foi uma resposta à agenda dos Brics, principalmente quando é tratada a necessidade de termos uma outra moeda para transações comerciais”, avaliou.
“Trump não aceita que um bloco como os Brics possa ter protagonismo. Para ele, relações só são boas quando são de submissão ao governo norte-americano”.
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