Ecos do Marco Temporal

por Ana Luiza, João Pedro, Maria Clara e Mateus

Acompanhamos com grande preocupação a mais este ataque aos Guarani e Kaiowá em uma área de retomada de suas terras ancestrais, localizada em Douradina, no Mato Grosso do Sul (MS). O município foi transformado no epicentro político de um laboratório trágico do que acontece com quem luta por demarcação de terras, direito garantido pela Constituição Federal de 1988.

As imagens divulgadas pela internet das ações violentas contra eles nos dias 3 e 4 de agosto não deixam dúvidas quanto às reais intenções dos agressores que na posse de armamento pesado, camionetes enormes, drones e motos investiram contra um reduzido número de famílias com suas crianças e idosos. As imagens são assustadoras, e à medida que essas violações se tornam mais frequentes e não encontram freios à altura, crescem na intensidade da violência empregada. Os ferimentos causados nas vítimas são reveladores de que chegaram na área para aterrorizar e matar.

Os dias a seguir foram de terror e pânico, um verdadeiro cenário genocida. À noite do mesmo dia 3, os ataques se estenderam ao Acampamento Esperança do MST. Segundo os acampados, aquilo foi retaliação por prestarem solidariedade aos indígenas Guarani e Kaiowá em luta naquele território marcado pela matriz produtiva das commodities agrícolas de exportação.

A China continua sendo o principal destino das vendas externas do MS, absorvendo 49,32% das exportações. Seguido pelos Estados Unidos (5,50%) e Países Baixos (4,38%).

É exatamente isso a que assistimos nesse momento. Um quadro desesperador em que falham ou se omitem todos os instrumentos que deveriam estar ali para proteger esses grupos sociais já severamente castigados pela pobreza e pela fome.

O exercício da solidariedade entre os que lutam contra um inimigo de classe comum é sedimentado pela mobilização popular das ocupações de terra, seja de indígenas ou trabalhadores sem-terra.

Enquanto predomina o silêncio entre os que se afirmam de esquerda, testemunhamos a legalização da truculência.

Até quando iremos ignorá-los em nome do progresso e do socialismo teleológico? Hora de ombreá-los numa luta sem hierarquias e sem verticalizações. Hora de respeitá-los pelo muito que representam em momento tão sombrio.

Gabriela Guillén é cientista social e educadora. | Judite Stronzake é pesquisadora e ativista socioambiental. | Maria Orlanda Pinassi é professora e pesquisadora. | Matias Benno Rempel é coordenador do CIMI MS.

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Última Atualização: 17/08/2024