O otimismo da esquerda é inabalável, até que acontece o inevitável. A matéria A opção é por uma sociedade democrática, justa e livre, do deputado José Guimarães (PT-CE), publicada no Brasil 247 em 28 de abril, trilha por esse caminho, além de parecer muito mais como uma peça publicitária do governo repleta de números e índices. O problema, desde sempre, é que a população não se alimenta de metas de crescimento, ou previsões de aumento de PIB.
No início do artigo, porém, José Guimarães trata do que vem acontecendo com Jair Bolsonaro (PL) nos seguintes termos:
“O mais recente movimento no cenário político brasileiro é o de descarte do ex-presidente pela elite conservadora – que o usou na tentativa de derrotar o Presidente Lula nas eleições de 2022 – e o isolamento da extrema direita”.
José Guimarães não tenta explicar os motivos que levaram essa “elite conservadora” a se desfazer de Bolsonaro. Não há motivos para comemorar, pois essas mesmas “elites” — isto é, o grande capital — estão minando o terreno do governo Lula. A maneira como a imprensa burguesa trata Javier Milei, o presidente fascista argentino, podemos esperar que o grande capital queira o mesmo para o Brasil.
A esquerda tem tratado a perseguição a Bolsonaro como se fosse uma defesa da democracia. Guimarães diz que:
“À medida que se aproxima o dia do julgamento, pela Suprema Corte, do principal líder da conspiração para o golpe de Estado do dia 8 de janeiro de 2023, e seus comandados, o centro começa a se afastar dos extremistas por razões óbvias: a inelegibilidade, a provável prisão e a impossibilidade de aprovar o projeto de lei da anistia no Congresso Nacional, (DataFolha: 56% dos brasileiros são contra a anistia)”.
O afastamento do centro não significa uma aproximação, ou mesmo alinhamento com o governo. Essa questão da “anistia” tem feito despencar a popularidade do STF e mesmo do governo, pois a população não acha justo, não é, que uma pessoa seja condenada a 14 anos de prisão por passar batom em uma estátua.
Relembrando as últimas eleições, veremos que o “centro” e o “campo democrático” – formado por golpistas ‘arrependidos’ – se uniu à esquerda pequeno-burguesa e tentou o que pôde para eleger um candidato de terceira via. Lula nunca foi o plano A.
Trump, o espantalho
O atual presidente norte-americano, que venceu Joe ‘Genocida’ Biden, o preferido do imperialismo e de determinada esquerda, tem servido para tudo, até para se provar que o Papa teria sido comunista. Na voz Guimarães, Trump teria deixado de ser uma referência para extrema direita que com isso se enfraquece.
Vivendo em um mundo de sonhos, José Guimarães afirma que “os prováveis candidatos à sucessão presidencial parecem receosos de enfrentar o Presidente Lula nas urnas. Eles sabem da força política e eleitoral do Presidente, do seu governo na reconstrução do país, na retomada do crescimento da economia e da projeção da sua liderança internacional”. É impossível deduzir de onde o deputado teria tirado essa conclusão.
A burguesia não parece nem um pouco intimidada com Lula, um presidente completamente emparedado e que mal consegue governar.
Em favor de Lula, Guimarães diz que o presidente “presidiu o Mercosul, o G-20, preside o BRICS, a COP 30 e levou a pauta da erradicação da fome, da pobreza, do meio ambiente aos mais importantes fóruns internacionais e lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza com 170 adesões, incluindo 92 países”. A nota triste sobre o BRICS, para ficarmos em um exemplo, é que Lula barrou a Venezuela no bloco, além de não reconhecer a eleição de Maduro, causando um grande problema para um país aliado e sob ataque do imperialismo.
Economia
José Guimarães, fazendo sua propaganda, diz que “as contas públicas foram organizadas com a aprovação, no Congresso Nacional, do Regime Fiscal Sustentável, que reduziu o déficit primário a próximo de zero, em 2024, gerou superávit de R$ 104 bilhões em janeiro de 2025, o melhor resultado do ano. O Governo Lula e o Congresso Nacional conseguiram aprovar a Reforma Tributária, encalhada há mais de 40 anos. O Brasil dispõe, hoje, de um sistema tributário moderno, eficiente e estrutural para o desenvolvimento econômico, sem aumentar a carga tributária”.
Após esse banho de otimismo, no mundo real, temos que em 2025, o governo federal gastará cerca de R$ 995 bilhões – quase R$ 1 trilhão – com o pagamento de juros da dívida pública. Esse valor representa mais de 21% das receitas do governo federal e reflete o impacto da alta taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano, que é um dos principais indexadores da dívida.
Guimarães diz que “os resultados estão chegando com mais intensidade na maior faixa da população, revertendo a queda de popularidade circunstancial”. Para quem os resultados estão chegando? A mínima recuperação, se é que ela existe, se deve, eventualmente a uma proposta um tanto estranha de insenção para quem recebe até R$ 5 mil.
O autor do texto apresenta uma enxurrada de números positivos, como por exemplo, que “os indicadores são cada vez melhores. A produção industrial cresceu 3,1% com recorde de empregos com carteira assinada; o setor de bens de capital cresceu 9,1%; o setor de bens de consumo, 3,5%, sendo 10,6% de bens de consumo duráveis. É o maior crescimento da indústria em 10 anos”. No entanto, a política de juros altos tem drenado os recursos do governo para os bancos.
Nada de efetivo está sendo feito de positivo que seja percebido pela classe trabalhadora. O custo de vida está elevadíssimo. A política econômica de Haddad tem sido um verdadeiro desastre. As iniciativas do governo são tímidas e frágeis.
A prova de que a esquerda não acredita na própria propaganda, é que tem se apoiado no STF para tentar uma eventual reeleição de Lula. Quer que Bolsonaro seja preso, uma vez que não tem se apoiado nas bases, e em decorrência disso se enfraquece mais a cada dia que passa.