Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, disse em entrevista ao Globo que o governo brasileiro já deve ter se preparado para reagir com tarifas a uma possível imposição tarifária por parte do governo de Donald Trump nos Estados Unidos. O economista afirmou que a taxação sobre produtos brasileiros é apenas uma questão de tempo:
Há risco de o Brasil ser atingido por tarifas?
É uma mera questão de tempo. Trump vai anunciar algo sobre a União Europeia. É inevitável que ele não fique só nisso. O Brasil será afetado. Depois da vitória de Trump, vejo duas trajetórias possíveis na área comercial.
Uma delas, de acordo com os termos e a designação do secretário do Tesouro, tem fins transacionais ou seja, uma ameaça para negociar e obter concessões, inclusive no setor comercial dos demais países. Há uma segunda linha, dos que acreditam, de fato, que as tarifas são um mecanismo legítimo para resolver déficits comerciais. Para eles, os déficits comerciais representam um dano à economia americana.
De uma maneira ou de outra, Trump vai ter que compensar esse tiro no próprio pé, estabelecendo tarifas sobre os outros. Isso pode ser o começo de uma história dolorosa. A dúvida apenas é como isso vai chega ao Brasil. Ele pode optar por uma tarifa geral ou por medidas específicas. O nosso pessoal de aço e alumínio tem que estar preocupado agora.
O presidente Lula falou em reciprocidade. Temos condição de responder à altura?
A China vai aplicar (taxas), assim como fez no primeiro mandato do Trump. Até porque a OMC está, na prática, paralisada como órgão apelativo. O tribunal de apelação está incompleto porque os juízes que deveriam ser indicados pelos Estados Unidos não foram nomeados.
Infelizmente, a ordem global está de cabeça para baixo. Nós não temos nesse momento nenhum sistema de regras que prevaleça. Então, por isso mesmo, o Canadá não esperou ação na OMC para responder e já anunciou sua retaliação.
O Brasil pode querer fazer como a China, que prometeu entrar com processo legal, mas as ações unilaterais americanas não vão ser constrangidas esperando pela OMC. Imagino que o governo brasileiro esteja fazendo ou já tenha feito o dever de casa de verificar como poderá jogar tarifas de volta.
O Brasil tem um escopo mais limitado do ponto de vista daquilo que pode fazer feito. Os americanos poderão não usufruir tanto das exportações brasileiras de suco de laranja, de cana-de-açúcar e alguns outros produtos, mas não é tão doloroso. Mas, para o Brasil, pior é não fazer. É claro que isso pode dar lugar a outras rodadas do Trump, mas nós já vimos esse mundo nos anos 1930.
No limite, todo mundo sofre. Ainda que a dor seja um pouco maior no início para os países que vão ser afetados pelas tarifas imediatas do Trump. (…)
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