O presidente Lula mais uma vez se posicionou sobre as eleições na Venezuela. Abandonando sua posição tradicional de defesa da soberania nacional e da esquerda latino-americana, o presidente brasileiro, em meio a uma campanha de golpe de Estado organizado pelos EUA, está questionando os resultados eleitorais. Ele tenta assumir uma posição conciliadora, nem ao lado dos EUA e nem ao lado de Maduro. No entanto, na atual conjuntura essa posição joga água no moinho do golpe de Estado. A política de equilibrismo de Lula se esgotou no caso da Venezuela.
Na sexta-feira (16), o presidente Lula foi entrevistado pela Rádio Gaúcha em sua visita ao Rio Grande do Sul. Ele afirmou: “eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é uma ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras nesse mundo”. É o clássico Lula, não tenta fazer uma média entre a posição do imperialismo, que diz que Maduro é ditadura, e a posição da esquerda, que considera a Venezuela como um regime de esquerda.
Ele continua: “eu só posso reconhecer que foi democrático se eles mostrarem a prova de que houve uma eleição e de que fulano teve tantos votos, que siclano teve tantos votos”. Essa posição é absurda, pois em relação a todos os governos do mundo Lula não tem considerações se é ou não uma ditadura. O Brasil tem relação com o genocida Biden, com Putin, com o governo eleito de Honduras, com as ditaduras de Milei, do Peru e do Equador. Esse é o normal, não se tem que cobrar nada de nenhum outro país, ainda mais e for um país que luta contra o imperialismo.
Lula vai tenta se equilibrar tanto que ele questiona o posicionamento de seu próprio partido. Ao ser perguntado sobre a nota que o PT publicou reconhecendo a vitória de Maduro, ele afirmou: “não, eu não concordo com a nota. Eu não penso igual à nota. Mas eu não sou da direção do PT”, disse. E complementou: “o partido não é obrigado a fazer o que o governo quer. E nenhum governo é obrigado a fazer o que o partido quer”. De fato o governo deve ser diferente do partido, no entanto, a posição do PT foi correta, já Lula está completamente errado.
A nota afirma: “temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolás Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela”. E segue: “o PT seguirá vigilante para contribuir, na medida de suas forças, para que os problemas da América Latina e Caribe sejam tratados pelos povos da nossa região, sem nenhum tipo de violência e ingerência externa”.
Essa é a posição tradicional do PT, do presidente Lula. Ela é apresentada de forma tímida, mas é clara. Se coloca contra a ingerência do imperialismo na América Latina e no Caribe. São os países mais oprimidos pelos EUA, sendo o principal deles o Brasil, que tem a posição natural de liderança desses países. Fica claro que o governo Lula, pressionado pelo imperialismo, capitulou. Em 2023, ele defendeu Maduro dos ataques da direita, agora está cedendo diante dos golpistas.
O golpismo na América Latina
O governo de Nicolás Maduro é o mais atacado de toda a América do Sul. Ele sofre com sanções econômicas gigantescas há 10 anos. As tentativas de golpe e Estado são permanentes, Maduro foi o único líder do continente que não foi derrotado pela direita. Agora o imperialismo mais uma tenta derrubar o governo para tomar o controle das maiores reservas de petróleo do mundo. A oposição, que Lula defende um diálogo, é mais direitista que o bolsonarismo brasileiro. Esse é o tamanho da violência da direita.
A posição de Lula, portanto, é errada por muitos motivos. Primeiro por que ao ceder diante do imperialismo ele fortalece mais a direita no próprio Brasil. A ala direita do PT está ganhando força, e não só esse setor como a própria ala direita do governo. Isso enfraquece ainda mais Lula que tem uma direita muito forte em seu governo, impedindo que ele governe em defesa dos trabalhadores. E a política externa é muito significativa, pois na política interna a pressão é ainda maior.
Outro aspecto é que Maduro é um baluarte anti-imperialista no continente, ou seja, é uma força de apoio de Lula. Quando houve o golpe de Estado contra Dilma e a prisão de Lula, Maduro sempre foi um aliado. Ele nunca questionou o governo do PT, apoiou como pode, fez uma oposição ao bolsonarismo. O chavismo é um aliado do PT, mas Lula não está valorizando essa aliança, está abandonando sua posição diante da pressão.
Ou seja, abandonar Maduro é uma capitulação diante da luta contra o golpe no Brasil. A direita que está organizada para derrubar Maduro hoje é a mesma que pode vir no futuro se organizar para derrubar o governo do PT. Lula está fazendo concessões ao que é o equivalente ao bolsonarismo no Brasil. Fortalecer Edmundo Gonzalez e Maria Corina Machado é fortalecer Jair Bolsonaro. Lula portanto está abrindo margem para o crescimento da direita em todo o continente e principalmente no Brasil.
A realidade é, a posição de conciliação entre o chavismo e o imperialismo não existe. A contradição entre ambos é mortal. De um lado um governo nacionalista apoiado nas massas da Venezuela, de outro o governo norte-americano que financia a extrema direita mais violenta da América Latina. É possível conciliar esses lados? Lula chegou a falar de fazer um governo de união nacional, algo totalmente impossível. A política de Lula é tão absurda que ela fica ridícula, ele precisa se posicionar de um dos lados ou apenas ira se desmoralizar.
A Venezuela hoje é o Brasil amanha. Lula ao assumir essa posição está cavando a sua própria cova. A América Latina caminha para governos de tipo Maduro ou de tipo Milei. O governo de tipo do PT é algo do passado. Quanto mais Lula demorar para compreender isso mais difícil será a sua realidade no Brasil.