No artigo A Venezuela é a mais dramática encruzilhada das esquerdas, publicado pelo Brasil 247, Moisés Mendes afirma que “até a alma de Olavo de Carvalho foi mobilizada para que a extrema direita mundial bata na eleição venezuelana. É natural que golpistas brasileiros e americanos estejam se divertindo com a possibilidade de derrubar Maduro e causar danos a Lula”. Isto é, que o problema fundamental hoje no país caribenho é que está em marcha um golpe de Estado contra o governo de Nicolás Maduro.

Mendes, no entanto, erra ao dizer que: “Maduro facilita as coisas para a direita e cria constrangimentos para a esquerda (…) A eleição posta em dúvida já era anunciada como armadilha para Lula, o PT e para quem tem simpatia pelo que resta de chavismo e pelo esforço de Maduro para levar adiante algo maior do que ele (…) Maduro constrange as esquerdas, mesmo que se reconheça sua bravura no enfrentamento da caçada comandada pelos Estados Unidos e seus satélites sabotadores e mesmo que esteja há uma década sob a ameaça permanente de golpe. (…) Fernando Henrique quis e ficou mais quatro anos no governo no Brasil, criando uma reeleição que não existia aqui. E Fernando Henrique nunca será lembrado pela direita como golpista, mesmo que tenha desejado e arquitetado a reeleição para si mesmo”

Aqui, o autor afirma que Maduro quis ser reeleito apenas para ficar no poder. Seria um político que não tem interesse na revolução ou nas necessidades do povo, mas somente nos seus próprios interesses; Maduro quer o poder, e só. Com isso, Mendes se aproxima da mesma direita golpista que criticou. Afinal, se o único objetivo de Maduro é se manter no poder, então ele seria, como diz a direita, um “ditador”

Ao comparar Maduro com FHC, Trump e Javier Milei, em outros trechos do texto, Mendes deixa de lado na análise o problema das classes sociais. Aliás, este é o maior problema da esquerda neste momento: o abandono da análise marxista das relações sociais. Por isso, não é difícil, para o PSTU, por exemplo, sair a público sem qualquer vergonha e defender um golpe contra Nicolás Maduro. 

Erra o PSTU, erra Mendes. FHC representava uma classe social, Maduro representa outra distinta, tal qual Lula. As eleições tendem a ser um reflexo dessa situação. E isso é o que explica o golpe de Estado contra o PT em 2016, a prisão de Lula e toda a crise nas eleições venezuelanas.

O caráter inteiro do conflito é a luta entre o imperialismo e um país atrasado. E, neste sentido, a única posição razoável é ficar ao lado do país atrasado, não importando a contradição que ele porventura tenha. Essa é a análise e a política marxista para o caso venezuelano. 

Se Maduro conseguiu vencer as eleições e se manter no comando da Venezuela, a verdade das coisas é que ele deve ter muito mais apoio popular que os votos revelados nas urnas. Se mais fraco fosse, já teria caído. Mendes acerta ao criticar a esquerda que, vacinada pelo imperialismo, não consegue evitar de pedir um golpe contra Maduro. Seja na versão mais descarada, seja na versão do “vamos aguardar”, “vamos investigar”, “esperemos as atas”, “Maduro tem seus erros”, etc. 

Acusar Nicolás Maduro de facilitar o caminho de um possível golpe é ignorar que o próprio imperialismo force a situação. Afinal, é o regime de ditadura imposto contra a Venezuela pelos capitalistas internacionais que dificulta a vida do povo venezuelano. É o embargo, tal qual o cubano, que estrangula o desenvolvimento do povo venezuelano, e é justamente daí que nascem, por exemplo, as organizações fascistas.

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 02/08/2024