Um dos momentos mais aguardados pela militância comunista no Brasil enfim chegou. Começa hoje, dia 6 de julho, a 53ª edição da Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO), realizado em conjunto com o Acampamento de Férias da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).
Convocada desde o mês de abril, a nova edição da Universidade de Férias promete ser um dos maiores cursos já realizados pela agremiação trotskista. Segundo o presidente nacional da legenda, Rui Costa Pimenta, a atividade deve atrair entre 200 e 300 pessoas para um agradável hotel fazenda localizado na cidade de Sorocaba, a cerca de duas horas do centro de São Paulo (capital). Outras centenas de pessoas devem acompanhar o curso à distância, por meio da plataforma da Universidade Marxista.
Com o tema A Teoria Marxista da Revolução e a Situação Atual, o curso será ministrado pelo próprio Rui Pimenta. As aulas abordarão o processo revolucionário do ponto de vista do marxismo, partindo desde a fundação do socialismo científico por Karl Marx e Friedrich Engels e chegando até os dias de hoje, tratando de assuntos como as vitórias conquistadas pela Resistência no Oriente Médio, a luta contra o bloqueio a Cuba e os golpes de Estado na América Latina.
Além da formação teórica, o Acampamento da AJR proporciona uma semana intensa de convivência socialista e lazer, com atividades culturais, esportivas e recreativas.
O local escolhido conta com 150 mil metros quadrados e está totalmente equipado para acolher os participantes: chalés, alojamentos coletivos, área de camping, piscina semiolímpica, quadras esportivas, refeitório coletivo e uma ampla estrutura de apoio. Também haverá atividades especiais para as crianças e adolescentes, como rapel e tirolesa.
A Universidade de Férias é, há mais de trinta anos, a principal referência em formação marxista no Brasil. Financiada exclusivamente pelos próprios militantes e simpatizantes do movimento operário, a atividade não depende de recursos de empresários, fundações imperialistas ou verbas parlamentares. Trata-se de um curso feito por e para os trabalhadores, o que garante sua independência política e seu compromisso com a revolução socialista.
As inscrições ainda estão abertas. Os interessados podem se inscrever diretamente pelo site do Acampamento da AJR (acampamento.pco.org.br) ou pelo portal da Universidade Marxista (unimarxista.org.br).
Programa do curso
O que é a teoria marxista da revolução: A teoria marxista da revolução é uma teoria da luta de classes. Ao contrário de teorias que se limitam a explicações econômicas, a teoria marxista da revolução se concentra em identificar quais classes sociais desempenham o papel dirigente num processo revolucionário. Ela se pergunta: a revolução é burguesa ou proletária? Quais são suas forças motrizes? Que alianças são possíveis?
Teoria da revolução em Marx e Engels: Karl Marx e Friedrich Engels partiam da premissa de que a revolução socialista seria realizada pela classe operária em países capitalistas desenvolvidos. Contudo, ainda em 1848, perceberam que mesmo as revoluções burguesas estavam sendo traídas por suas próprias classes dirigentes. A burguesia, diante da ameaça de uma mobilização popular real, abandonava a luta e se aliava às aristocracias governantes.
A ditadura do proletariado: A ditadura do proletariado é a espinha dorsal do marxismo. Trata-se do poder exercido pela classe operária após derrubar a burguesia — e isso é considerado por Marx como o objetivo inevitável da luta de classes. Não há marxismo sem colocar esse conceito no centro da teoria e da prática.
A teoria da revolução na Rússia: A teoria revolucionária russa começa com George Plekhanov, que considerava que a Rússia passaria inicialmente por uma revolução burguesa, conduzida pela burguesia, antes de uma revolução proletária. Essa visão foi posteriormente distorcida pelos mencheviques, que defendiam que o proletariado deveria apoiar a burguesia e se limitar a ser uma ala de oposição ao czarismo. Vladimir Lênin, por sua vez, estabeleceu que, embora as tarefas da revolução fossem democráticas (reforma agrária, fim do czarismo), a burguesia russa era incapaz de liderar esse processo. Ele propôs que o proletariado, em aliança com o campesinato, assumisse o poder para realizar essas tarefas. Surgiu assim a tese da ditadura democrática dos operários e camponeses. Contudo, em 1917, esta política foi adaptada conforme a própria realidade. A classe operária não parou na fase democrática e instaurou a ditadura do proletariado. A teoria de Lênin foi, portanto, atualizada pelos acontecimentos.
A Revolução Permanente: A teoria da revolução permanente é a única teoria marxista coerente para os países de capitalismo atrasado. Ela se baseia na constatação de que, a partir de 1848, a burguesia deixou de ser uma força revolucionária. Assim, nas nações onde as tarefas democráticas ainda não foram resolvidas, cabe à classe operária, ao tomar o poder, realizá-las — sem interromper a marcha rumo à revolução socialista.
A experiência histórica: A Revolução Russa foi a primeira revolução proletária da história. E, como tal, serve de modelo até os dias de hoje para o movimento operário. Na China, a revolução se desenvolveu ao longo de décadas de guerra civil e resistência ao imperialismo japonês. Com forte apoio camponês, a classe operária tomou o poder em 1949, abrindo o caminho para a construção de um Estado centralizado sob controle do Partido Comunista. Em 1936, os trabalhadores espanhóis entraram em um processo revolucionário profundo. A experiência, no entanto, provou, pela negativa, o fracasso da teoria da revolução por etapas. Orientados pela burocracia stalinista, os comunistas formaram uma frente com a “sombra da burguesia”, o que levou à desmoralização da luta contra os militares liderados por Francisco Franco. Em Cuba, a classe operária tomou o poder em 1959 após uma guerrilha liderada por Fidel Castro, Che Guevara e outros combatentes da Sierra Maestra. O regime de Fulgencio Batista, apoiado pelos EUA, caiu, e os revolucionários assumiram o poder. Inicialmente com um programa nacionalista e democrático, a revolução evoluiu para uma transformação socialista, com reforma agrária, nacionalizações e ruptura com o imperialismo. Cuba se tornou o primeiro Estado Operário da América, demonstrando de maneira inegável a fraqueza da dominação imperialista norte-americana. No Vietnã, a revolução se desenvolveu em duas etapas principais: a independência do domínio colonial francês e a posterior guerra contra os Estados Unidos. Em 1945, o Viet Minh, liderado por Ho Chi Minh, proclamou a independência do país, mas os franceses tentaram retomar seu controle. Após a vitória de Ho Chi Minh em Dien Bien Phu (1954), o Vietnã foi dividido em dois, e a luta continuou contra o regime pró-Estados Unidos no sul. A vitória final em 1975, com a queda de Saigon, unificou o país sob liderança comunista, após uma das guerras mais genocidas do século XX.
Crítica das teorias antimarxistas: A teoria da revolução por etapas, defendida por José Stálin e seus seguidores, afirma que a classe operária deve apoiar a burguesia na realização de uma revolução democrática para, apenas depois, preparar uma revolução socialista. Isso é a negação direta da teoria marxista. A experiência demonstrou que a burguesia nunca cumprirá essas tarefas. A teoria da dependência, por sua vez, desloca o foco da luta de classes para uma relação externa entre países, obscurecendo as contradições internas entre burguesia e proletariado em países atrasados. Isso leva a desvios, como a ideia de que a revolução socialista no Brasil só seria possível porque o país já seria um capitalismo desenvolvido.
O Brasil e a Revolução Permanente: A realidade brasileira expressa de maneira exemplar as teses da revolução permanente. O país apresenta simultaneamente formas avançadas de capitalismo e enormes estruturas atrasadas — especialmente no campo. É a marca de uma economia dependente e deformada pela dominação imperialista. Nesse sentido, a burguesia brasileira tem um papel contraditório. Embora reacionária enquanto classe, setores dela podem entrar em conflito com o imperialismo, como se viu em figuras como Getúlio Vargas ou, mais recentemente, Hugo Chávez na Venezuela. A teoria da revolução permanente não nega essa contradição — reconhece que há tensões reais, mas que a burguesia não tem força histórica para completar a revolução democrática. Ela sempre recua diante do imperialismo.
Serviço
- Data: 6 a 13 de julho de 2025
- Local: Pousada Estância Primavera – Sorocaba/SP
- Modalidade online: R$250
- Modalidade presencial: a partir de R$800
- Inscrições e mais informações: acampamento.pco.org.br e unimarxista.org.br