Boato – O texto sobre expressões populares e metáforas culinárias “no frigir dos ovos” foi escrito por Luis Fernando Verissimo.
Análise
Voltou a circular nas redes sociais um texto que utiliza dezenas de metáforas culinárias para explicar a expressão popular “no frigir dos ovos”. Com uma linguagem divertida e recheada de trocadilhos gastronômicos, a mensagem tem sido atribuída ao escritor Luis Fernando Verissimo.
A suposta autoria reforça o apelo do texto, pois Verissimo é conhecido por seu humor refinado e por crônicas sobre o cotidiano. No entanto, muitos leitores não têm certeza se ele realmente escreveu o material. Leia, abaixo, a íntegra do conteúdo que viralizou:
Luiz Fernando Veríssimo: O que significa “No frigir dos ovos”? ‘Não é à toa que os estrangeiros acham nossa língua muito difícil! Como a língua portuguesa é rica em expressões! Veja o quanto o vocabulário “alimentar” está presente nas nossas metáforas do dia a dia. Aí vai! Pergunta: – Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão “no frigir dos ovos”? Resposta:– Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem ideias. Pra descascar esse abacaxi, só metendo a mão na massa. E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas. Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo. Contudo, é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais.
Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou, para poder vender o seu peixe. Afinal, não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos. Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e aí, vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha. São escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão. Há também aqueles que são arroz de festa que, com a faca e o queijo nas mãos, se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese… etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca e, no fim, quem paga o pato é o leitor, que sai com cara de quem comeu e não gostou. O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco.
Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos,l literalmente. Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a barriga, o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado, porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha não! O pepino é só seu e, o máximo que você vai ganhar é uma banana. Afinal, pimenta nos olhos do outros é refresco. A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas, quem não arrisca não petisca e depois, quando se junta a fome com a vontade de comer, as coisas mudam da água pro vinho. Embananar-se de vez em quando é normal, o importante é não desistir, mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos, a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda. Entendeu o que significa “no frigir dos ovos” ?” (Luiz Fernando Veríssimo)
Checagem
Para esclarecer o caso, vamos responder a três perguntas essenciais: 1) O texto “no frigir dos ovos” é de Luis Fernando Verissimo? 2) Quem escreveu o texto “no frigir dos ovos”? 3) Há outros textos que foram falsamente atribuídos a Luis Fernando Verissimo?
O texto “no frigir dos ovos” é de Luis Fernando Verissimo?
Não. Apesar de muitos compartilharem o texto como se fosse de Luis Fernando Verissimo, a autoria é incorreta. Essa história já circula há anos e foi desmentida em diversas ocasiões. Trata-se de mais um exemplo de atribuição indevida ao autor, algo bastante comum na internet, especialmente com textos de humor e crônicas sobre temas cotidianos.
Quem escreveu o texto “no frigir dos ovos”?
O verdadeiro autor do texto é o escritor Guaraci Neves, conforme registro disponível neste link no Recanto das Letras. Guaraci publicou o texto em 2011 e, desde então, ele acabou viralizando sem créditos corretos, passando a circular como se fosse de Verissimo.
Há outros textos que foram falsamente atribuídos a Luis Fernando Verissimo?
Sim, diversos textos circulam erroneamente com o nome de Luis Fernando Verissimo. Entre os mais conhecidos estão os textos “Pressão” e “Romance na Terceira Idade”, ambos já desmentidos em checagens como esta e esta outra. Outro exemplo é o texto “Degustação de Vinho em Minas Gerais”, como mostra essa checagem.
Conclusão
O texto que explica a expressão “no frigir dos ovos” com metáforas culinárias não foi escrito por Luis Fernando Verissimo. A autoria correta é do escritor Guaraci Neves, que publicou o material em 2011. Trata-se de mais um caso de atribuição indevida, algo frequente na internet, especialmente quando o conteúdo viraliza em grupos de mensagens e redes sociais.
Fake news ❌
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610)