Boato – O ex-deputado Rubens Paiva era um “mártir que matou muita gente” e um terrorista.

Análise

Com a vitória do filme Ainda Estou Aqui no Oscar de melhor filme internacional, voltou a circular um texto que aponta que Rubens Paiva é um “mártir que matou muita gente” e que era um terrorista.

O longo texto atribuindo a Rubens Paiva o rótulo de “terrorista” e alegando que ele teria financiado grupos de luta armada durante a ditadura militar no Brasil. O texto, que também já foi  atribuído a diversas pessoas. Leia uma das versões:

Rubens Paiva o Mártir que Matou muita gente por Braulio Flores Pouca coisa pode ser mais hedionda do que a Tortura. A tortura é a máxima expressão da Patifaria, da Vilânia, da Covardia. Costumo dizer que o torturador não tem alma. É um ser que perde sua centelha divina.

O caso Rubens Paiva (que só andava armado ) voltou a mídia através do laureado filme “Ainda estou aqui”. Mas quem era esse personagem, cujo o filme retrata um mártir, um Tiradentes moderno que morreu pela nossa Liberdade. Nada mais falso. O deputado Rubens Paiva, eleito pelo MDB, na verdade era um militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Paiva além de político, era engenheiro de formação, e por ter uma empresa, que possuía fluxo de caixa rotativo, foi designado como “lavador de dinheiro” do Partido Comunista.

Para quem não sabe, o PCB era na verdade um partido subsidiado, ou seja uma filial, do Partido Comunista da União Soviética (PCUSS). Essa agremiação recebia dinheiro de Moscou, via Montevideu, na época o Uruguai era um dos poucos paraísos fiscais por onde entrava dinheiro clandestino na América do Sul. A bem da verdade, a URSS nunca financiou diretamente a luta armada no continente. No final dos anos 1950, Nikita Kruschev, líder soviético e o presidente americano Eisenhower haviam feito um acordo em que a União Soviética não promoveria ações clandestinas, leia-se guerrilhas e rebeliões no Ocidente, em contrapartida os Estados Unidos fariam o mesmo nas áreas de influência dos soviéticos. Por esse motivo o PCB fora proibido por Moscou a participar, promover ou financiar a Luta Armada no Brasil.

Mas entre 1965 e 1973, existiram no nosso país trinta e três (33) grupos guerrilheiros que foram à luta para combater o Regime Militar. Eles promoveram uma série de ataques a instalações militares, atentados terroristas, explosões em aeroportos, sequestro de diplomatas, sequestro de aviões, que foram desviados para Cuba. Eles mataram diversos trabalhadores em filas de banco, entre outras ações de guerrilha urbana. Formaram grupos de guerrilha rural, no Araguaia (FOGUERA) do PCdoB (Partido Comunista do Brasil, uma dissidência do PCB financiado pela China) e no Vale do Ribeira, a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) de Carlos Lamarca. E foi justamente com a VPR, que Rubens Paiva se envolveu. Como lavador de dinheiro do Partido Comunista Brasileiro, Paiva passou “a financiar” as ações da VPR, uma das mais ousadas e terríveis organizações de esquerda.

A Vanguarda Popular Revolucionária foi responsável por atentados, explosão no consulado americano em São Paulo, assassinatos, ataques a sedes da PMSP, assaltos com morte a bancos entre outros atos. A VPR tinha como base, um sítio de Paiva na região de Juquitiba, uma área de floresta fechada, no sul do Estado de São Paulo. Juquitiba é um lugar isolado. Um resto de Mata Atlântica que ainda existe no Brasil. Região de lagoas, de pequenas propriedades, onde a vida selvagem coabita. Nessas matas é possível encontrar sucuris, cervos e onças. Um paraíso ecológico muito perto da BR-116, um local perfeito para se montar um grupo guerrilheiro.

As ações de Lamarca chamaram a atenção das autoridades e logo o Exército e a Polícia Militar começaram a fazer buscas na região. Apavorado com a chegada dos militares, Rubens Paiva pediu que Lamarca deixasse o sítio, o que enfureceu o guerrilheiro. Na discussão o terrorista ameaçou Rubens Paiva de morte. O que Paiva argumentou; “… se Moscou descobrir que eu desvio dinheiro, para financiar tuas ações, nós dois seremos homens mortos, se não pelas autoridades brasileiras, pela justiça soviética.” Indignado Lamarca deixou o refúgio, se embretou na selva, deu combate à tropa da Polícia Militar, justiçou (matou) o tenente PM Alberto MENDES Junior. O Diógenes do Jogo do Bicho (militante petista) também participou do crime.

Mas além da luta no campo, outro braço da VPR sequestrava aviões, eles desviavam aeronaves que faziam voos de longa distância, geralmente do nordeste para São Paulo. Logo depois de decolar, os terroristas anunciavam o sequestro e desviavam o voo para Cuba, a fim de exigir do governo a troca dos passageiros por prisioneiros políticos. Dezenas de aviões foram alvos da VPR. E foi por esse motivo que o CISA (Centro de Inteligência e Segurança da Aeronáutica) prendeu Rubens Paiva.

Sim ele foi detido em casa. Sim ele foi preso e torturado. Provavelmente morreu na prisão. Seu corpo jamais foi encontrado. Uma vilania, um sofrimento sem fim para a família. Mas longe do mártir que o filme tenta criar. Rubens Paiva foi um agente comunista que financiou o terror. O pior do Comunismo não é o Estado Totalitário, o cerceamento de direitos, o fim das individualidades, o controle estatal do modo de vida. O pior do Comunismo é ser um Regime Antropófago que para se manter precisa “matar, matar, matar e matar” por diversas gerações até que ele se sobreponha aos direitos individuais, se transformando no espírito coletivo. Era o que teria acontecido ao Brasil, se a turma do Rubens Paiva tivesse vencido a guerra. Tão hedionda quanto a Tortura é a Mentira Coletiva que tenta mudar a História construindo falsos heróis. Criando mártires para promover uma narrativa falsa e perigosa.

Checagem

É a terceira vez que vamos tratar do mesmo texto (as outras foram aqui e aqui). O conteúdo tem diversos erros e apresenta uma narrativa distorcida sobre Rubens Paiva. Vamos analisar as principais questões: 1) Rubens Paiva era um terrorista ou um “mártir que matou muita gente”? 2) O autor do texto sobre Rubens Paiva é de Bráulio Flores? 3) O que há mais de errado no texto sobre o ex-deputado morto na Ditadura?

Rubens Paiva era um terrorista ou um “mártir que matou muita gente”?

Não. O texto, na realidade, é a reprodução de uma narrativa que justamente fez Rubens Paiva ser torturado e morto. Rubens Paiva nunca participou da luta armada nem financiou grupos guerrilheiros. Todas as alegações contidas no texto (como vocês verão mais abaixo) são falsas.

O autor do texto sobre Rubens Paiva é Bráulio Flores?

Não. O próprio Bráulio Flores desmentiu a autoria do texto. Em uma publicação em suas redes sociais, ele declarou: “Eu NUNCA escrevi um texto sobre o Deputado Rubens Paiva. Portanto, o texto que circula em grupos de WhatsApp não é de minha autoria.” Essa não é a primeira vez que esse mesmo texto circula falsamente atribuído a diferentes pessoas. Em outro caso, ele foi atribuído ao deputado Luiz Philippe de Orleáns e Bragança.

O que há mais de errado no texto sobre o ex-deputado morto na Ditadura?

O texto apresenta várias imprecisões históricas e factuais. Vamos citar algumas: 1) Que Rubens Paiva era “lavador de dinheiro” do PCB, mas não há qualquer evidência documental que sustente essa afirmação. 2) Afirma que ele financiava a VPR e tinha um sítio usado por Carlos Lamarca, algo que não tem qualquer comprovação histórica. 3) Distorce o contexto histórico ao dizer que a ditadura foi uma “guerra”, quando na verdade foi um regime que reprimiu opositores, incluindo pessoas que não estavam envolvidas na luta armada. 4) Apresenta um discurso revisionista que tenta justificar crimes da ditadura.

Conclusão

O texto que circula sobre Rubens Paiva é uma tentativa de reescrever a história, utilizando informações falsas e distorcidas. Não há qualquer comprovação de que ele tenha sido terrorista ou financiador da luta armada. O próprio Bráulio Flores desmentiu a autoria do material, que já foi atribuído a outras figuras públicas. Como já desmentimos antes, trata-se de um boato sem fundamento histórico.

Fake news ❌

Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610)

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Last Update: 04/03/2025