Boato – O Quênia está se retirando da OMS porque descobriu que a vacina contra o tétano foi combinada com um agente esterilizante.
Análise
Um vídeo tem circulado em redes sociais acompanhado de mensagens alarmistas, afirmando que o Quênia estaria deixando a Organização Mundial da Saúde (OMS) após supostamente descobrir que a vacina contra o tétano administrada no país continha um agente esterilizante. Segundo os autores da mensagem, a medida teria sido tomada como resposta direta à suposta descoberta.
O conteúdo ganhou força ao utilizar falas de um homem apresentado como autoridade de saúde queniana. “O Quênia está se retirando da OMS porque descobriu que a vacina contra o tétano foi combinada com um agente esterilizante”, diz a descrição que acompanha o vídeo que circula online (e que não será exibido aqui).
Checagem
A história viralizou em 2025, mas a alegação já foi desmentida por organizações internacionais há anos. Na checagem, vamos responder às três perguntas principais que surgem diante dessa narrativa: 1) O Quênia saiu da OMS por causa da vacina? 2) O vídeo em questão mostra alguma autoridade do Quênia? 3) Há comprovação de que a vacina contra o tétano causa esterilidade?
Quênia saiu da OMS por vacina com agente esterilizante?
Não. O Quênia continua sendo membro da Organização Mundial da Saúde. Para começar, a acusação de que as vacinas contra o tétano tenham agentes esterilizantes já foi desmentida no passado. Para além disso, a pessoa que está no vídeo não tem competência para determinar a saída do Quênia da OMS. Vamos nos aprofundar sobre estes dois assuntos nos próximos tópicos.
O vídeo em questão mostra alguma autoridade do Quênia?
Não. Apesar de o homem no vídeo ser apresentado como alguém ligado ao governo do Quênia, ele não possui qualquer cargo oficial. Trata-se de um médico já conhecido por divulgar desinformação sobre vacinas e saúde pública, como apontado nesta checagem da AFP.
Há comprovação de que a vacina contra o tétano causa esterilidade?
Não. Nenhum estudo sério comprovou essa alegação. A narrativa sobre esterilidade por vacinas contra o tétano foi desmentida em 2014, como mostram os documentos oficiais da OMS e Unicef. Desde então, a vacina continua sendo usada com segurança em diversos países, inclusive no Quênia, sem qualquer evidência de riscos à fertilidade. Relembre o que foi dito na época:
Declaração da OMS e da UNICEF sobre a Vacina contra o Tétano no Quênia A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressam sua profunda preocupação com a desinformação que circula na mídia sobre a qualidade da Vacina contra o Tétano (TT) no Quênia. As alegações são de que a vacina contra o tétano usada pelo Governo do Quênia e por agências da ONU está contaminada com um hormônio (hCG) que pode causar abortos espontâneos e tornar algumas mulheres estéreis.
Essas graves alegações não são apoiadas por evidências e correm o risco de impactar negativamente os programas nacionais de imunização para crianças e mulheres. A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é um hormônio produzido pela placenta durante a gravidez. O hCG também é produzido na hipófise de homens e mulheres de todas as idades. No entanto, níveis muito altos representam riscos para a gravidez. Tomamos nota dos resultados de testes que afirmam mostrar níveis de hCG em amostras enviadas a alguns laboratórios clínicos.
No entanto, é importante observar que os testes para verificar o conteúdo de um medicamento, por exemplo, a vacina contra a gripe (TT), precisam ser realizados em um laboratório adequado e a partir de uma amostra do medicamento/vacina propriamente dito, obtida de uma embalagem fechada e não de uma amostra de sangue. Além disso, o Conselho de Farmácia e Intoxicações – a Autoridade Reguladora Nacional legalmente mandatada – tem a capacidade e o mandato de determinar a qualidade, a segurança e a eficácia dos medicamentos e de aconselhar o Governo em conformidade. A OMS e o UNICEF confirmam que as vacinas são seguras e são adquiridas de um fabricante pré-qualificado.
Essa segurança é garantida por um sistema global de testes triplo, e a vacina já atingiu mais de 130 milhões de mulheres com pelo menos duas doses em 52 países. Dado que a maioria dos casos de tétano no Quênia ocorre entre recém-nascidos, o público-alvo das campanhas de vacinação contra a gripe (TT) do Quênia são meninas e mulheres (15 a 49 anos), com ênfase especial naquelas nas áreas mais marginalizadas. Observamos com preocupação que o Quênia é um dos 25 países onde o tétano ainda é um problema de saúde pública, matando centenas de recém-nascidos todos os anos. A OMS e o UNICEF reiteram nossa disposição em apoiar o Governo do Quênia em seus esforços para fornecer vacinas seguras e com garantia de qualidade para os programas de imunização.
Conclusão
A história de que o Quênia está saindo da OMS por ter descoberto um agente esterilizante em vacinas contra o tétano é completamente falsa. O país segue como membro da organização, não há provas de que a vacina cause esterilidade e o vídeo utilizado como “prova” foi feito por uma pessoa sem vínculo oficial.
Fake news ❌
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610)