Mulher fazendo compras e olhando a prateleira do mercado. Foto: Reprodução

A queda na inflação dos alimentos divulgada nesta terça 10 de junho, pelo IBGE, é uma das melhores notícias que o Brasil poderia receber neste momento, juntamente com a expectativa de que os articuladores do golpe estão sendo julgados e serão possivelmente condenados.

Para o governo Lula, naturalmente, a notícia também oferece imensas oportunidades para recuperar aprovação e iniciar as articulações para 2026.

O indicador usado aqui é o IPCA, o principal termômetro da inflação brasileira.

Segundo o IBGE, a inflação mensal dos alimentos consumidos em domicílio, aqueles que compramos no supermercado, ficou em apenas 0,02% em maio, o menor nível desde setembro de 2024.

Gráfico de inflação mensal de alimentos consumidos em caso, segundo o IPCA. Foto: Reprodução

Quando se olha para o acumulado em 12 meses, todavia, a situação está apenas começando a melhorar. É isso que explica, a propósito, o mau humor da população mais pobre com o governo.

Como o reajuste dos salários da maioria dos pessoas acontece apenas uma vez por ano, devemos prestar sempre atenção à variação do preço em 12 meses.

No acumulado em 12 meses, a inflação dos alimentos em domicílio no Brasil fechou maio em 7,2%, ainda bem acima da inflação média no país no mesmo intervalo, que foi de 5,32%

Este índice tinha chegado a 7,9% em março e abril últimos, a 8,4% em novembro de 2024, e na passagem de 2022 para 2023, havia atingido 12,3%.

Gráfico de inflação dos alimentos em domicílio no Brasil, no acumulado 12 meses, segundo IBGE. Foto: Reprodução

Tomando ainda mais distância, e examinando o histórico desde janeiro de 2022, é possível entender alguns fatos importantes.

A inflação mensal dos alimentos havia disparado na primeira metade de 2022, puxando o acumulado em 12 meses para quase 18% em julho daquele ano. Esse fato não deve ter ajudado o presidente Bolsonaro a conduzir sua campanha junto a população de baixa renda.

Em 2023, deu-se o início de um movimento de queda livre da inflação de alimentos, mensal e acumulada, que durou até setembro daquele ano.

Além da “lua de mel” dos primeiros cem dias, essa queda na inflação pode explicar o aumento do prestígio de Lula durante esse período.

A coisa começou a degringolar a partir de outubro de 2023, com a inflação mensal de alimentos (considerando sempre em domicílio) crescendo mês a mês, até chegar a 1,8% em janeiro de 2024.

Os preços dos alimentos caem ao longo dos primeiros meses de 2024, mas voltam a subir no segundo semestre.

Gráfico de inflação dos alimentos mensal e acumulado 12 meses, segundo IBGE. Foto: Reprodução

Essa é a melhor explicação, a meu ver, para a deterioração recente na aprovação de Lula, detectada pelas pesquisas, exatamente nesse período, do final de 2024 ao início de 2025.

Se a tese estiver correta, e será uma boa oportunidade para provar sua coerência, a aprovação de Lula tende a melhorar nas próximas pesquisas, pois a inflação mensal dos alimentos consumidos em casa, como já dissemos, caiu em maio para 0,02%, um nível muito baixo, depois de também ter desacelerado em abril.

Para que haja efeito político, todavia, a inflação dos alimentos precisa continuar caindo, pois no acumulado em 12 meses ainda permanece elevada.

Enquanto a inflação de alimentos, no acumulado em 12 meses, estiver acima de 5%, o governo Lula continuará enfrentando resistência para recuperar sua popularidade.

Por outro lado, por mais que o preço dos alimentos no mercado seja importante na despesa das famílias, sobretudo as mais pobres, eles não são tudo.

Há outros itens importantes que, se registrarem queda nos preços, puxam toda a inflação para baixo, melhorando o poder aquisitivo total das famílias, mesmo que haja alta no preço dos alimentos.

Mas é óbvio que existe uma relação psicológica muito forte entre o preço dos alimentos e o humor da população, até porque é o que as pessoas compram diariamente.

Alguns tipos populares de carne bovina, por exemplo, permanecem com preços extremamente elevados, sobretudo considerando o acumulado em 12 meses. A famosa picanha, uma das carnes preferidas pela população para churrasco, está com inflação acumulada superior a 15%, enquanto a alcatra acumula variação de preço acima de 25%.

Mas o campeão nacional do aumento de preços tem sido mesmo o café, cuja inflação acumulada em 12 meses chegou a 82%!

Por outro lado, há produtos que vinham registrando uma escalada de preços preocupante no ano passado, e que nos últimos 12 meses já estão com inflação normalizada. É o caso do azeite, que tinha enfrentado inflação acumulada em 12 meses de 49% até maio de 2024, mas cujos preços agora acumulam inflação inferior a 1% no acumulado de 12 meses até maio último.

Arroz e feijão, por sua vez, que talvez sejam os produtos mais importantes para as famílias de baixa renda, registram forte queda no preço acumulado em 12 meses, de 12% e 23% respectivamente.

Cebola, tilápia (peixe mais comum consumido no país) e tomate também registram queda expressiva no acumulado em 12 meses, de 43% e 8%.

Tabela de inflação em 12 meses, nos meses de maio dos últimos 4 anos em produtos selecionado. Foto: Reprodução

Quando analisamos os dados da inflação mensal nos últimos 7 meses, desde novembro de 2024 até maio de 2025, vemos que alguns produtos, cujos índices no acumulado em 12 meses permanecem altos, já começam a ver seus preços refluírem.

Dentre estes, o destaque são os ovos de galinha, que registraram deflação de 4% em maio.

Os preços do frango inteiro e da picanha, todavia, ainda não refluíram.

A expectativa de especialistas é de que a entrada da superssafra deste ano, que já começou a ser colhida, deverá puxar o preço de todos os alimentos para baixo. Caso esta previsão se materialize, e o ano de 2026 começar com inflação acumulada em declínio, a situação ficará mais fácil para Lula construir sua campanha de reeleição.

Tabela de inflação mensal, de produtos selecionados. Foto: Reprodução
Gráfico IPCA para alimentação dentro e fora do domicílio. Foto: Reprodução
Publicado originalmente em O Cafezinho

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Last Update: 10/06/2025