
A cidade de Rodynske, na região de Donetsk, está no centro dos avanços mais recentes da ofensiva russa na Ucrânia. Uma bomba planadora de 250 kg atingiu um edifício administrativo e destruiu três blocos residenciais. Um dia após o ataque, ainda havia fumaça nos destroços. O som constante da artilharia e de drones russos marca o cotidiano dos soldados ucranianos que tentam impedir o avanço inimigo, enquanto enfrentam riscos crescentes a cada deslocamento.
Rodynske está a 15 km de Pokrovsk, alvo estratégico da Rússia. Sem sucesso nas tentativas diretas de ocupação ou cessar-fogo, os russos mudaram de tática e passaram a sitiar a cidade, cortando linhas de abastecimento. A cidade é agora constantemente vigiada por drones, incluindo os mais recentes modelos com fibra óptica.
Segundo um engenheiro da 68ª Brigada Jaeger, esses drones operam com cabos físicos conectados aos controladores, tornando-se imunes à interferência eletrônica. “O sinal de vídeo e controle é transmitido para o drone através do cabo”, explicou ele a repórteres da BBC.

Em Bilytske, distante da linha de frente, a destruição também é visível. “Está ficando cada vez pior”, afirmou Svitlana, de 61 anos, enquanto tenta recuperar objetos entre os escombros de sua casa. “No início, podíamos ouvir explosões distantes. Agora, nossa cidade está sendo atacada”, lamentou.
Soldados da 5ª Brigada de Assalto relatam o aumento da intensidade dos ataques. “Foguetes, morteiros, drones… eles estão usando tudo o que têm”, contou Serhii.
A tropa permanece imóvel há dias, à espera de cobertura climática para evitar a detecção aérea. “Quando você entra em posição, você não sabe se foi identificado ou não. E, se tiver sido identificado, você pode já estar vivendo suas últimas horas de vida”, afirmou o sargento-chefe Oles.
As trincheiras ucranianas são hoje ocupadas por soldados que, muitas vezes, passaram apenas alguns meses em treinamento. Maksym, que antes da guerra trabalhava em uma empresa de bebidas, conta que já ficou 31 dias ininterruptos na linha de frente. “A guerra é sangue, morte, lama e um calafrio que vai da cabeça até o dedão do pé”, explicou.
Segundo Oles, os russos alteraram suas estratégias de ataque. “Agora, eles mandam apenas uma ou duas pessoas de cada vez. Eles também usam motocicletas e, às vezes, quadriciclos”, afirmou sobre o que dificulta o rastreamento e torna as posições mais voláteis, como em um tabuleiro de xadrez.
A escassez de soldados e munição é um desafio crescente para a Ucrânia. Muitos militares vivem a tensão entre a responsabilidade de defender o país e a saudade dos que ficaram. “Tenho um filho com dois anos de idade e não consigo vê-lo muito”, lamentou Maksym, emocionado. “Mas faço chamadas de vídeo para ele, de forma que tudo está bem, dentro do possível”, disse em tom de tristeza.