Hoje (20) é o dia da inauguração do segundo mandato de Donald Trump ao cargo máximo do governo norte-americano. Trump é o segundo presidente a governar por dois mandatos não consecutivos, tendo sido precedido apenas do Grover Cleeveland ainda no século XIX. Após inúmeras perseguições judiciais e duas tentativas de assassinato, a reeleição do republicano é uma das maiores viradas da história política dos Estados Unidos e confirma a total impopularidade da política do atual governo democrata.

Devido ao frio, Trump organizou para que sua cerimônia de posse ocorra dentro do Capitólio. Após sua inauguração, o republicano irá se dirigir ao estádio Capital One Arena, onde milhares de seus apoiadores o estarão aguardando enquanto acompanham uma transmissão da cerimônia. O estádio já foi utilizado ontem (19) para o primeiro ato trumpista em Washington desde o dia 6 de janeiro, quando o então presidente discursava para seus apoiadores denunciando a suposta fraude eleitoral que teria dado a vitória a Joe Biden. Após o discurso, os manifestantes então se dirigiriam ao Capitólio, e terminariam por invadir o prédio onde se encontravam os congressistas norte-americanos em episódio caracterizado como tentativa de golpe de Estado, ainda que todos estivessem desarmados. O acontecimento foi utilizado para atacar Trump judicialmente, em tentativa frustrada de impedir seu retorno à Casa Branca.

A volta de Trump é mais mérito de seus adversários, mergulhados numa política extremamente impopular, do que do próprio republicano. Um evento central na derrota da democrata Kamala Harris foi o genocídio em curso em Gaza, cujo cessar-fogo foi, segundo fontes do próprio Hamas, organizado por membros do futuro gabinete de Trump.

“Eu não poderia imaginar que isso seria possível sem a pressão do novo governo liderado pelo presidente Trump, porque seu enviado na região, [Steve] Witkoff, esteve aqui nos últimos dias”, disse Bassem Naim, membro do birô político do Hamas, em entrevista ao jornal al-Arabiya. “[Ele] estava tomando conhecimento de todos os detalhes e de todos os obstáculos e exercendo pressão, especialmente sobre o governo israelense”.

Naim ainda responsabilizou o governo Biden pelo prolongamento do conflito que durou 470 dias até a entrada deste acordo em vigor. O massacre dos palestinos levou dezenas de milhares de estudantes norte-americanos às ruas contra seu governo, sabidamente patrocinador do regime sionista tanto pelo envio de recursos como de armamento. Os manifestantes foram reprimidos, o que só fez reduzir a já fraca popularidade do governo democrata.

Trump ainda declarou que emitirá ordem executiva para que o TikTok continue a operar nos Estados Unidos, dando mais tempo à empresa chinesa para encontrar um comprador para suas operações no país. Durante o governo Biden, a rede social foi efetivamente banida dos Estados Unidos, principalmente por ser o principal vetor de propaganda da resistência palestina aos jovens norte-americanos. Lei aprovada ano passado obrigou a empresa a vender suas operações no país, afetando diretamente seus mais de 170 milhões de usuários, muitos dos quais encontraram na plataforma um meio de sustento.

Trump também marca uma virada na política imperialista para as redes sociais. De certa maneira, pode-se atribuir a recente guinada de Mark Zuckerberg, dono da Meta, conglomerado que reúne Whatsapp, Threads, Instagram e Facebook, à vitória eleitoral de Trump. O presidente reeleito foi abertamente apoiado por Elon Musk durante sua campanha, empresário dono do X (antigo Twitter) entre outras empresas de alta tecnologia. Musk projetou-se como defensor da liberdade de expressão nos Estados Unidos e colocou-se contra a política de censura imposta às redes sociais no país. Ainda que o discurso não seja totalmente livre no X, muito mais conteúdo é permitido do que nas plataformas de administradas pela Meta, que agora deve se aproximar mais do rival.

Em relação à guerra na Ucrânia, Trump foi categórico durante sua campanha em relação à suspensão do envio de auxílio ao país. Não é claro o que de concreto será feito pelo presidente, mas é difícil que a atual política de impulsionamento dos ucranianos contra a Rússia não mude. Trump arriscaria abrir uma crise dentro de sua própria base de apoio. Entre outras coisas, o presidente também pretende exigir muito mais dos outros membros da OTAN no que diz respeito à contribuição financeira à aliança militar. Ainda falou em incorporar a Groenlândia, o canal do Panamá e, até mesmo, parte do Canadá ao território norte-americano.

É do caráter demagógico da extrema-direita falar muito, falar o que a população quer ouvir, e, quando muito, entregar pouco de concreto. A truculência nas negociações internacionais, tanto com aliados imperialistas como com adversários, apela a uma ala conservadora da população. Ainda assim, se pudermos tomar por base o cessar-fogo na Palestina, Trump deve ser um obstáculo aos planos do imperialismo e agrava sua crise.

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Last Update: 20/01/2025