Documentário sobre Clóvis Moura estreia no Rio e em São Paulo

O centenário de nascimento de Clóvis Moura ganha um registro audiovisual de peso com a estreia do documentário Clóvis Moura – O Protagonismo Negro, dirigido pelo cineasta argentino-brasileiro Carlos Pronzato. A obra revisita a trajetória do historiador, sociólogo, poeta e jornalista piauiense que revolucionou a interpretação da formação social brasileira ao recolocar o povo negro como sujeito histórico das lutas contra a escravidão e o racismo estrutural.

Após o lançamento na Bahia, no circuito Saladearte Cinema do Museu, em 1º de dezembro, e a exibição em Amarante (PI), cidade natal de Moura, no dia 4, o filme chega agora ao Sudeste. No Rio de Janeiro, as sessões ocorrem na quarta-feira, 17 de dezembro, às 18h30 e 20h30, no Estação Net Botafogo. Em São Paulo, a exibição acontece no dia 20 de dezembro, às 11h, no Espaço Petrobras de Cinema, na rua Augusta, encerrando simbolicamente o ano do centenário. As sessões são gratuitas.

Um pensador essencial da questão racial

O documentário percorre a vida intelectual e militante de Clóvis Moura, autor de obras fundamentais como Rebeliões da Senzala, nas quais desmontou o mito da democracia racial e evidenciou o caráter ativo das resistências negras, em especial a experiência dos quilombos. Sua produção teórica, ancorada no marxismo, forneceu bases sólidas para a crítica materialista do racismo no Brasil e se tornou referência para gerações do movimento negro.

O filme também destaca a militância política de Moura, sua histórica ligação com o PCdoB e sua atuação orgânica na construção de uma leitura crítica das desigualdades brasileiras, articulando classe, raça e estrutura social.

A visão de Carlos Pronzato

Em entrevista ao Portal Vermelho, Carlos Pronzato afirma que a decisão de realizar o documentário nasceu da constatação do apagamento da obra de Moura, inclusive em setores progressistas. Segundo o diretor, a efeméride do centenário cria uma oportunidade singular de difusão e disputa de memória. Para ele, esse é o momento em que a cultura e a política podem reivindicar figuras históricas e recolocá-las no centro do debate público.

Pronzato relata ainda sua surpresa com o desconhecimento de Clóvis Moura no Brasil. “O nível de quebra de paradigma que ele promoveu não corresponde ao espaço que ocupa hoje na historiografia e na militância”, observa o cineasta, que vê o filme como um gesto de enfrentamento a esse silenciamento.

Nordeste como território político e simbólico

As filmagens passaram por cidades-chave da formação de Moura, como Amarante, Teresina e Juazeiro, além de universidades da Bahia e do Piauí. Para o diretor, a opção pelo Nordeste foi uma decisão política e estética. Foi ali que Moura iniciou sua elaboração intelectual e militante, e foi nesse território que se consolidaram os referenciais que atravessam sua obra.

Segundo Pronzato, filmar nesses espaços permitiu situar geograficamente a trajetória do pensador e compreender de forma mais profunda a relação entre sua experiência de vida, o mundo do trabalho e a formação social brasileira.

Vozes e estrutura do filme

O documentário reúne cerca de 30 entrevistados, entre pesquisadores, historiadores, educadores populares e militantes do movimento negro, como Petrônio Domingues, Fábio Nogueira, Kabengele Munanga, a deputada estadual Olívia Santana e Alexandre Reis. O conjunto de depoimentos constrói uma narrativa coral que reafirma a centralidade do negro como sujeito histórico, eixo estruturante da obra de Clóvis Moura.

Cinema como estímulo à ação política

Embora seja um filme de memória, Clóvis Moura – O Protagonismo Negro dialoga diretamente com os desafios contemporâneos da luta antirracista. Pronzato ressalta que o objetivo é provocar reflexão, debate e ação política. Inserido em uma tradição de cinema de compromisso social, o documentário se soma a outras obras dedicadas a resgatar protagonistas históricos das lutas populares.

“É um filme para estar ombro a ombro com os lutadores sociais”, define o diretor, ao situar Clóvis Moura como parte de uma linhagem que atravessa nomes como Zumbi dos Palmares e Amílcar Cabral — referências fundamentais para compreender o passado e enfrentar o presente do Brasil.

Serviço:

Rio de Janeiro: Quarta-feira, 17 de dezembro, às 18h30 e 20h30, no Estação Net Botafogo.

São Paulo: Sábado, 20 de dezembro, às 11h, no Espaço Petrobras de Cinema, na rua Augusta.

As sessões são gratuitas.

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