Ponta da Praia do Saco, em Estância (SE), foi engolida pelo mar. Foto: reprodução

O avanço do mar sobre o litoral brasileiro é uma realidade alarmante que afeta diretamente comunidades inteiras ao longo dos mais de 7,4 mil km de costa do país. O que antes era tratado como uma previsão ambiental se tornou parte do cotidiano de milhares de pessoas. De São Paulo ao Nordeste, o mar avança rapidamente, gerando prejuízos e mudando drasticamente as paisagens que por décadas foram o lar de muitas famílias.

Na última terça-feira (27), o secretário-geral da ONU, António Guterres, divulgou um relatório apontando que praias de cidades do Rio de Janeiro podem ser “engolidas” pelo mar até 2050, devido ao aquecimento global.

Em Sergipe, na Praia do Saco, localizada em Estância, a destruição causada pelo avanço do oceano é evidente. No dia 20 de agosto, mais uma casa foi levada pela força das águas, totalizando 15 imóveis destruídos nos últimos anos. “A situação está mudando rapidamente. Onde o mar chegou, ele não recuou mais. Só avançou”, afirmou Camilo de Lelis Ramos, presidente da Associação Comunitária de Moradores da Praia do Saco, em entrevista ao Metrópoles.

Moradores e pescadores, que já adotaram medidas como barreiras de pedra para proteger suas propriedades, viram seus esforços serem literalmente arrastados pela maré. “O mar levou tudo, como se fosse açúcar. Fizemos cinco espigões na praia para segurar a água, mas o mar já levou três deles. A força da água é um espetáculo bonito de ver, mas de viver, não”, lamentou Camilo, destacando que pelo menos 60 casas na região estão ameaçadas.

Este fenômeno não se restringe a Sergipe. Em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, o avanço do mar devastou as praias de Pacheco e Icaraí, que perderam em média 5 metros de faixa de areia por ano nas últimas décadas. O prejuízo é significativo: mais de 20 barracas de praia, propriedades privadas e estruturas públicas foram destruídas, totalizando R$ 10,7 milhões em danos.

Faixa de areia no Ceará é cada vez menor. Foto: reprodução

A prefeitura local, em parceria com o governo estadual, adotou medidas como a construção de espigões para conter o avanço do mar, mas os moradores permanecem em estado de alerta constante.

Outras 10 cidades do Ceará, como Jericoacoara e Fortaleza, enfrentam problemas semelhantes. Na Paraíba, a erosão costeira tem afetado gravemente praias de João Pessoa, Conde e Baía da Traição, onde dezenas de casas já foram destruídas pela maré. Em Baía da Traição, 22 residências foram arrasadas no primeiro semestre do ano passado, levando o município a declarar estado de emergência em mais de uma ocasião.

No litoral paulista, a situação é igualmente preocupante. Em Peruíbe, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística avalia a instalação de sacos de areia para conter o mar na Barra do Una, onde a erosão costeira tem avançado rapidamente.

Projeções indicam que todas as cidades do litoral de São Paulo estão em risco de sofrer invasão do mar em áreas urbanas. Desde os anos 1950, o nível do mar na região subiu cerca de 20 centímetros, de acordo com o Instituto Oceanográfico da USP.

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Última Atualização: 28/08/2024