“De onde menos a gente espera por vir uma potência. Eu vivi isso. Cheguei ao fundo do poço e da minha depressão arranquei uma potencialidade que explorei através da minha arte”. Foi assim que resumiu o grafiteiro José Augusto Amaro Capela, o Zezão, para o Portal Sintaema, ao falar sobre sua trajetória artística que o levou dos esgotos e galerias pluviais de São Paulo para grandes galerias de arte de diversas partes do mundo.
Zezão visitou o Sintaema e conversou com o presidente José Faggian sobre sua atuação em defesa da água como bem universal, de como esse bem vem sendo tratado e como o saneamento básico é fundamental para qualquer sociedade.
Atuante desde os anos 2000, Zezão viu muita coisa pelos esgotos e galerias pluviais da capital paulistana. “Ali é a prova concreta de que o modelo de sociedade que vige hoje não combina com as necessidades para que possamos viver em harmonia com o meio ambiente. Muito lixo e muita ação irresponsável”, afirmou ao citar a situação do Rio Tietê, com a contínua poluição, visto que recebe resíduos altamente tóxicos para a população e o meio ambiente.
“Mesmo ali no Rio Tietê eu vi vida e beleza para inspirar minha arte. Algo ali me moveu e me move a seguir atuando contra esse modelo de sociedade que devasta e pela água como um direito, um bem de todos”, destaca o artista.
Ao ser questionado sobre o que acha do processo de mercantilização da água e da privatização da Sabesp ele destacou: “Nem sempre acompanhei esses processos, mas com certeza a água não deve ser tratada como mercadoria. Quando comecei minha arte nas galerias de São Paulo, atravessava um momento muito difícil da vida e ali encontrei paz e tranquilidade, mas também encontrei a inspiração para me mover, e tudo que vi ali é resultado do que é feito aqui em cima. Então pensei: tem muita coisa errada ocorrendo. A partir disso vi aflorar em mim uma espécie de consciência sustentável”, rememorou Zezão.
Dos esgotos para o mundo
Bom! A arte de Zezão chegou em países como Cabo Verde, EUA, Itália, Alemanha, Inglaterra e França e junto com ela uma transgressão que refletiu sobre um ponto importante no processo de atenção sobre o desenvolvimento em curso e sua correlação com o meio ambiente.
“Minhas andanças pelos subterrâneos da cidade ajudaram a desenvolver a minha consciência sustentável e comecei a fazer parte e incidir sobre um movimento que é mundial. Não podemos prescindir da reflexão sobre que mundo queremos e como ele será para as futuras gerações, no final é disso que se trata”, afirmou.
Ele ainda destacou que suas intervenções extrapolam a arte. “Ao grafitar nos esgotos passei a entender o porquê de tanta enchente em São Paulo, como o saneamento básico é fundamental para o avanço de qualquer sociedade e como o abandono e a falta de manutenção das galerias pluviais afetavam a vida a população, sobretudo a mais vulnerável”, alertou.
*As fotos que ilustram a matéria foram publicadas com a autorização do artista.