
No melhor estilo a ‘montanha pariu um rato´, o governo dos Estados Unidos divulgou nesta quarta-feira (30) uma lista detalhada de produtos brasileiros que ficarão de fora da tarifa adicional de 50% anunciada recentemente pelo presidente Donald Trump. O comentário geral é que deu o que os especialistas de mercado do Brasil já haviam anunciado: Trump amarelou.
A medida, que havia gerado apreensão entre exportadores e autoridades brasileiras, foi acompanhada por um decreto presidencial que também estabelece exceções significativas para setores considerados estratégicos.
Entre os itens poupados da nova alíquota estão suco e polpa de laranja, combustíveis, veículos de passeio e peças automotivas, além de artigos de aviação civil, fertilizantes e diversos tipos de metais e minerais. Essas exceções constam no anexo da ordem executiva assinada por Trump e passam a valer a partir de 1º de agosto, mesma data de entrada em vigor das tarifas.
A decisão de manter produtos como silício, ferro-gusa, ouro, prata, ferroníquel e ferronióbio fora da cobrança foi vista como uma forma de proteger a cadeia produtiva americana que depende desses insumos. Da mesma forma, a liberação de petróleo, gás natural, carvão, energia elétrica e derivados, como querosene, parafina e betume, busca evitar impactos sobre a matriz energética dos Estados Unidos.
No setor agrícola, além do suco de laranja, permanecem isentos da tarifa alimentos como castanha-do-brasil, fibras de sisal e madeira tropical. Fertilizantes amplamente utilizados na lavoura brasileira também foram excluídos, o que representa um alívio para a balança comercial do país.
A lista contempla ainda bens em trânsito que tenham saído do Brasil antes da vigência da ordem e que cheguem aos portos americanos até 5 de outubro. Produtos retornados aos EUA para reparo, donativos humanitários e itens culturais, como livros, obras de arte e conteúdos jornalísticos, também não serão afetados. Passageiros em viagens internacionais com bagagens pessoais seguem isentos da cobrança.

Apesar da aparente flexibilização na frente comercial, o tom político do decreto presidencial permanece agressivo. O texto acusa o governo brasileiro de perseguir adversários políticos, violar direitos civis e interferir indevidamente em plataformas digitais. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, é citado diretamente, acusado de emitir ordens judiciais secretas contra empresas americanas e opositores do governo Lula.
A medida se soma à revogação de vistos do ministro, seus familiares e aliados, anunciada no dia 18 de julho, e marca uma nova etapa de tensão diplomática entre Washington e Brasília. Um dos exemplos citados no documento é o do bolsonarista Paulo Figueiredo, que estaria sendo processado no Brasil por declarações feitas enquanto residia nos Estados Unidos.
Para o analista político Thomas Traumann, a contradição entre o endurecimento no campo político e a suavização na área comercial é evidente. “Os nossos 50% já não são tão 50% assim. A lista de exceções é gigante. Estamos vendo uma piora expressiva nas relações políticas, mas um recuo significativo no impacto comercial”, avaliou.