
Por Nadson Ayres e Nelson Francisco/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST
Com mais de 500 toneladas de alimentos saudáveis, a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que vai até este domingo (11), no Parque da Água Branca, em São Paulo, se consolida como uma verdadeira celebração da diversidade agroalimentar da agricultura familiar e camponesa do Brasil. A produção, organizada por famílias Sem Terra de 23 estados, reúne mais de 1.800 itens diversos frescos, em grane parte produzidos em sistema agroecológicos, orgânicos e artesanais — resultado do trabalho coletivo em assentamentos, acampamento, cooperativas e agroindústrias da Reforma Agrária Popular.

A Feira é marcada por uma variedade de produtos que refletem a riqueza e os sabores dos diferentes biomas e culturas regionais. Da região Amazônica, por exemplo, vieram iguarias como o mesocarpo de babaçu, produzido pela Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (ASMUBIP), o exótico doce de buriti e o tradicional arroz queimado do Maranhão, ambos vindos do acampamento Marielle Franco, no município de Itinga, no Maranhão, valorizando saberes tradicionais e práticas sustentáveis dos povos da floresta.

Do Centro-Oeste, o Cerrado mostra sua força com produtos como a geleia de Cagaita, de Goiás, produzida pela Associação de Mulheres Guerreiras de Canudos, organizada pelas agricultoras do Projeto de Assentamento Canudos, nos municípios de Palmeiras e Campestre de Goiás.
Elas realizam todo o processo produtivo, que vai desde a coleta das frutas nativas do Cerrado até o beneficiamento das polpas, para finalmente serem comercializadas nas feiras locais. Além de garantir diversos produtos sem veneno na sua mesa, o trabalho das mulheres goianas também contribui para a preservação e recuperação de espécies nativas do Cerrado, um dos biomas mais ameaçados pelo avanço do agronegócio no nosso país.

E no Estado do Mato Grosso, os agricultores do assentamento 14 de Agosto trabalham de forma cooperada em uma agroindústria com derivados da mandioca, produzindo diversos tipos de farinha, polvilho doce e azedo. Toda a matéria prima utilizada é produzida no próprio assentamento, onde cerca de 50 famílias estão envolvidas no processo produtivo, do cultivo ao beneficiamento. No estado também é produzida a Castanha de Baru. Nativa do Cerrado traz diversos benefícios para a saúde, além de ser uma significativa fonte de renda para os agricultores, que atuam como verdadeiros guardiões da biodiversidade regional.

O Nordeste também está presente com uma diversidade de sabores únicos e histórias de resistência: a castanha do Ceará, um dos maiores produtores de amêndoas do nordeste brasileiro, especialmente em assentamentos situados na região metropolitana de Fortaleza e no Vale do Jaguaribe, onde a Cooperativa Agroindustrial Luiz Carlos organiza a produção com mais de 360 agricultores cooperados.

Também é possível saborear o irreverente e agroecológico produto baiano conhecido como “Xoxota Feliz”, da Bahia, um sabonete íntimo terapêutico feito a partir do extrato alcóolico das cascas do caju roxo e aroeira, pelo Coletivo de Saúde Popular e Holístico, do baixo sul da Bahia. Esses produtos demonstram a vitalidade produtiva dos assentamentos da região.


Do Sudeste, destacam-se o premiado Café Sabores da Terra, cultivado no Espírito Santo por famílias assentadas no município de São Mateus e o refrescante Gelado do Campo, sorvete agroecológico produzido em São Paulo, com ingredientes oriundos exclusivamente das áreas de assentamento de Reforma Agrária, fomentado a agricultura familiar camponesa, ambos exemplos do cuidado com a terra.

Já do Sul do país, vieram produtos como o reconhecido arroz de carnaval, cultivado de forma agroecológica no Paraná, produzido pelas famílias assentadas no assentamento Pontal do Tigre.

Do Rio Grande do Sul, os agricultores da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (COOTAP) também produzem uma nutritiva bolacha de arroz orgânico, feita com base no arroz integral e é uma excelente opção para quem procura alimentos nutritivos e com baixa caloria. Além de tudo isso, os agricultores da região sul também produzem salames artesanais, cerveja de arroz e diversos produtos da agricultura familiar e camponesa catarinense, que completam a diversidade de sabores e saberes da feira.
Essa pluralidade de alimentos, oriundos de todas as regiões do país também pode ser encontrada nos Armazéns do Campo de todo o país, e reafirma o compromisso da Reforma Agrária Popular com a soberania alimentar, a produção sustentável, a recuperação ambiental e a valorização dos territórios camponeses. A Feira não apenas abastece mesas com comida saudável, mas também fortalece laços culturais, econômicos e sociais entre o campo e a cidade.
*Editado por Solange Engelmann