O candidato petista à prefeitura de Belo Horizonte, o deputado federal Rogério Correia, conseguiu formar uma chapa com apoio de PSOL, Rede, PCdoB, PV e PCB, mas não obteve o apoio do principal nome do campo progressista da cidade, a deputada federal Duda Salabert (PDT).
Duda e Rogério vão disputar a eleição contra outros oito concorrentes. Quem lidera as intenções de voto é o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), segundo a última pesquisa Quaest, realizada em 16 de julho.
Apresentador do Balanço Geral da TV Record em Belo Horizonte desde 2008, Tramonte está afastado da tela, dedicando-se às articulações para a campanha. Sua patroa, a Igreja Universal, domina o partido e foi hábil ao colocar em seu palanque dois inimigos políticos: o ex-prefeito Alexandre Kalil, que deixou o PSD e migrou para o Republicanos, e o governador Romeu Zema (Novo).
Zema e Kalil participaram da convenção que confirmou Tramonte, sem sequer sorrirem um para o outro. Horas depois, já trocavam farpas nas redes sociais. Depois de vencer duas vezes a prefeitura, Kalil se aliou a Lula (PT) e enfrentou Zema na disputa pelo governo mineiro, mas foi derrotado no primeiro turno.
Ao deixar o PSD, Kalil sinalizou que pretende tentar novamente o governo mineiro. No PSD, seria eclipsado pelos desejos do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que também almejam o Palácio Tiradentes em 2026.
Com a mudança de partido, Kalil teve de descer de um confortável muro pintado com cores de negação à política, onde se aboletou desde que deixou a carreira de cartola do Atlético para disputar a prefeitura.
Colocou os dois pés na canoa de Tramonte, que navegará firme pela margem direita do rio Arrudas, com os bispos da Universal/TV Record de timoneiros e a ex-secretária de Gestão e Inovação do governo Zema Luísa Barreto como vice. Em troca, Kalil recebeu a promessa de indicações para secretarias importantes, como Saúde e Educação.
O apoio de Barreto, ou melhor, de Zema, também foi desejado pelo representante da extrema-direita bolsonarista na disputa eleitoral, o deputado estadual Bruno Engler (PL). Além de Bolsonaro, um cabo eleitoral importante de Engler é o deputado federal Nikolas Ferreira, a quem já dediquei algumas linhas neste espaço, tratando-o como o neto que todo golpista gostaria de ter.
Há quase uma lenda urbana de que a capital mineira segue com um eleitorado progressista, tão verossímil quanto as histórias da Loira do Bonfim ou do Capeta da Vilarinho. Citam as eleições de Patrus Ananias (PT), Célio de Castro (PSB) e Fernando Pimentel (PT) como exemplo nos anos 1990 e no início da década de 2000. Mas o tempo passou, e o fato é que o eleitorado belo-horizontino optou por Bolsonaro em 2022 (54,25% dos votos).
Além disso, Nikolas Ferreira teve sozinho 306,6 mil votos para deputado federal em 2022, somente em Belo Horizonte. Em Minas Gerais, foram 1,49 milhão de votos, fazendo dele o deputado federal mais votado da história. Na última eleição para prefeito, em 2018, Engler obteve 123 mil votos (9,95%), perdendo no primeiro turno para Kalil.
Segundo um dos cenários da última pesquisa da Quaest, Tramonte tinha 25% das intenções de voto, Bruno Engler, 12% e o ex-deputado João Leite (PSDB), 11%. Ex-goleiro do Atlético, Leite conta com o recall de várias derrotas para prefeito, mas não será candidato e declarou apoio ao atual prefeito Fuad Noman (PSD).
Fuad só está no cargo pois era vice do ex-presidente do Atlético Kalil, que saiu para tentar ser governador. Para tentar a reeleição, o atual prefeito escolheu o vereador Álvaro Damião (União Brasil) para ser seu vice. Damião é apresentador da Rádio Itatiaia, veículo de comunicação que pertence a Rubens Menin, mega-empresário, dono da construtora MRV, do banco Inter e sócio-majoritário da SAF do Atlético, além de um generoso doador para campanhas eleitorais.
A atleticana Duda Salabert teve 9% das intenções de voto na última pesquisa da Quaest, mesmo número de Fuad. O petista Rogério Correia ficou com 7%, atrás do senador licenciado Carlos Viana (Podemos), com 8%.
No início das articulações eleitorais, foi cogitada a possibilidade de uma frente ampla, nos moldes da que elegeu Lula na última eleição, com uma chapa que integrasse Fuad, Duda e Rogério.
Sem sucesso, Fuad flutuou do centro para a direita, angariando apoios do PSDB e União Brasil, enquanto PT e PDT não aceitaram deixar a cabeça das chapas. Ainda há toda uma campanha eleitoral pela frente e muito pode mudar, mas o cenário atual indica que Belo Horizonte pode eleger um prefeito de direita ou de extrema-direita em outubro, consolidada a guinada à direita.
A união do campo progressista, em uma corrida com tantos candidatos, poderia alcançar o segundo turno. Divididos, as chances são pequenas.
Os sete (Tramonte, Engler, Fuad, Duda, Viana e Rogério) mais o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), que também é candidato, confirmaram a participação no primeiro debate eleitoral, realizado pela Band, às 22h45 desta quinta-feira 8.
Sem representação no Congresso, as candidaturas da extrema-esquerda – Wanderson Rocha (PSTU), Indira Xavier (UP) e Lourdes Francisco da Costa (PCO) – vão para as urnas, mas não foram convidadas para o debate.