A liberdade de expressão envolve, em grande medida, a liberdade de fazer piada, de tirar sarro da vida alheia. Por sua vez, a piada “é um gênero textual humorístico que tem o intuito de levar ao riso”, segundo o que é informado pela inteligência artificial da internet, ela mesma já bem censurada.
Mas, desde a imposição de que não se pode falar mal de ninguém, nem mesmo de políticos, a internet virou a terra do politicamente correto, onde ninguém é feio, ninguém é imprestável, ninguém é um verdadeiro criminoso.
Caso recente revela um pouco isso. Um “influencer” chamado Carlinhos Maia falou que era má formação o rosto de uma determinada pessoa (Luiz Antônio) que tinha realizado um procedimento estético. Esse é o caso.
Por conta disso, Carlinhos Maia foi condenado pela justiça a pagar R$ 200 mil por danos morais ao rapaz que fez o procedimento estético em seu rosto. 200 mil por expressar sua opinião jocosa, por meio de uma comparação, sobre uma determinada pessoa.
Que o rapaz que vai receber 200 mil reais é feio, ninguém pode discutir isso. Mas, ao mesmo tempo, ninguém pode falar isso. Ou seja, não pode ser dita uma verdade, o que por sua vez vai resultar em dizer uma mentira, o que, logicamente, vai resultar em “fake news” que, segundo Alexandre de Moraes, é crime.
Ou se fala a verdade sobre as coisas e pessoas, algo passível de gerar danos morais, ou é preciso mentir para não ofender a moral de ninguém, o que é “fake news”. Se o rapaz é feio, o que o deputado federal Kim Kataguiri (UNIÃO-SP) fez, ao tentar bloquear recursos para a Palestina, foi nazismo. Ou, de outra forma, o rapaz é bonito e Kataguiri é um humanitário.
O presidente do PCO foi condenado a pagar 10 mil reais para o parlamentar golpista por ter dito que ele era nazista, após manifestação de apoio do deputado à tentativa da ditadura sionista de impedir a entrada de recursos para o povo palestino. Já o rapaz vai receber 200 mil reais porque alguém fez uma piada sobre seu rosto.
O influencer ainda pediu desculpas, dizendo que não queria ofender com sua postagem. Esses pedidos de desculpas geralmente pioram a situação e servem para divulgar ainda mais a questão, o que aconteceu no caso. Além disso, ninguém acredita que a pessoa mudou de opinião com o mero pedido de desculpas.
Mas a questão toda não tem a ver com o novo direito que os feios têm de receber 200 mil reais por serem feios. E nem com o fato de que sobre Kim Kataguiri só pode ser dito que ele é humanitário, lindo, maravilhoso e genial.
A questão é que a censura caminha a largos passos dentro do regime político e judicial brasileiro. A proibição de dizer certas verdades, seja em texto opinativo, seja em forma de piada, tem obviamente o objetivo de blindar os representantes do regime político. Indenizar o feio serve para esconder o fato de que os políticos e empresários não podem ser alvo de piadas e opiniões, e o caso Kataguiri dentre outros tantos revela isso. Se o feio é belo, o corrupto é honesto.