Disputa de narrativas em torno da prisão de Bolsonaro

As queixas de saúde de Jair Bolsonaro (foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo), agora centradas em uma dor de cabeça persistente atribuída ao gerador ao lado da sala da PF onde cumpre pena, alimentam a narrativa de “cerco político”, que os aliados apresentam como prova de “injustiça”. O discurso, porém, contrasta com as condições de custódia do ex-presidente, que incluem banheiro privativo, televisão e ar-condicionado, vantagens inexistentes para outros detentos. A negativa à visita de Carlos Bolsonaro em seu aniversário – o aniversário é dele, Carlos, e não do pai – reacendeu pedidos por tratamentos especiais que o bolsonarismo condenava. Lula, por exemplo, enfrentou restrições semelhantes, como a impossibilidade de acompanhar o enterro do irmão, Vavá, liberado tardiamente pelo STF.

No fundo, a pressão por exceções ignora que o rigor das normas da PF já serviu de bandeira moral ao campo bolsonarista, hoje disposto a flexibilizá-la conforme a conveniência. A disputa simbólica em torno do tamanho da cela, das visitas e do desconforto alegado reflete menos preocupação humanitária e mais a tentativa de gerar capital político em um momento de reorganização da base aliada. O ruído serve à estratégia de projetar um líder sob ataque, vitimizado, apesar das condições bastante superiores às da carceragem comum.

Artigo Anterior

Soltura de mosquitos com Wolbachia reduz casos de dengue em mais de 60% em Campo Grande, aponta estudo

Próximo Artigo

Mulheres vão às ruas em todo país para protestar contra o feminicídio

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!