As queixas de saúde de Jair Bolsonaro (foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Arquivo), agora centradas em uma dor de cabeça persistente atribuída ao gerador ao lado da sala da PF onde cumpre pena, alimentam a narrativa de “cerco político”, que os aliados apresentam como prova de “injustiça”. O discurso, porém, contrasta com as condições de custódia do ex-presidente, que incluem banheiro privativo, televisão e ar-condicionado, vantagens inexistentes para outros detentos. A negativa à visita de Carlos Bolsonaro em seu aniversário – o aniversário é dele, Carlos, e não do pai – reacendeu pedidos por tratamentos especiais que o bolsonarismo condenava. Lula, por exemplo, enfrentou restrições semelhantes, como a impossibilidade de acompanhar o enterro do irmão, Vavá, liberado tardiamente pelo STF.
No fundo, a pressão por exceções ignora que o rigor das normas da PF já serviu de bandeira moral ao campo bolsonarista, hoje disposto a flexibilizá-la conforme a conveniência. A disputa simbólica em torno do tamanho da cela, das visitas e do desconforto alegado reflete menos preocupação humanitária e mais a tentativa de gerar capital político em um momento de reorganização da base aliada. O ruído serve à estratégia de projetar um líder sob ataque, vitimizado, apesar das condições bastante superiores às da carceragem comum.