Artigo publicado no sítio A Terra é Redonda, no último dia 9/11, assinado pelas professoras de Ciência Política, Flávia Biroli e Luciana Tatagiba, intitulado Donald Trump e a sombra do individualismo, debate com a ideia de que a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, mais precisamente a derrota do Partido Democrata, seria culpa do individualismo.
“A vitória do republicano Donald Trump ativou mais uma vez, no Brasil, o argumento de que a culpa pela vitória da extrema direita é do chamado individualismo”, afirmam as autoras. Elas não concordam com tal ideia: “é uma falsa explicação, que opera seletivamente com as informações e transforma em alvo quem contribui para a construção de projetos de democracia inclusivos”.
Sendo assim, o artigo propõe discutir algumas explicações “alternativas” para o resultado eleitoral nos EUA. Vejamos:
“O Partido Democrata não foi reconhecido pela maioria como capaz de promover mudanças. Isso não se deve a sua aproximação com lutas de minorias, mas a seu alinhamento histórico com a política do grande capital.” Certamente essa explicação é fundamental. O Partido Democrata é o partido do imperialismo, portanto, do grande capital. Falta apenas explicar que Trump, embora também tenha ligações com setores do grande capital, não tem o apoio do setor fundamental. Esse problema é importante porque explica por que parte da população, inclusive a trabalhadora, acredita, enganosamente, que Trump seja uma alternativa a esse domínio.
O individualismo não explicaria, por si, o problema do resultado eleitoral. Ele é um elemento dessa política do grande capital, representado pelo Partido Democrata. E é justamente isso que não compreendem as autoras.
A confusão se dá na caracterização que fazem do individualismo:
“Para quem recorre a esse fantasma, o Partido Democrata teria se desligado da população ao acolher agendas dos movimentos negros, feministas, LGBT e trans. Com base nesse diagnóstico, alerta-se para a necessidade da esquerda se afastar das lutas identitárias se quiser vencer a eleição de 2026.”
Essa colocação inicial mostra que as autoras confundem o individualismo com a luta por direitos.
O individualismo é uma ideologia neoliberal e imperialista levada adiante principalmente pelo Partido Democrata. Ou seja, é uma ideologia do grande capital. Nesse sentido, não é possível dizer que o individualismo é a defesa dos direitos democráticos de nenhum grupo oprimido, a não ser que acreditássemos que o imperialismo defende algum direito.
O que seria o individualismo, então? É uma ideologia demagógica que afirma que o problema dos oprimidos seria resultado através de soluções individuais e por meio de uma forçada transformação na mentalidade das pessoas. Por isso, o individualismo é neoliberal, ou seja, ferozmente individualista, e hostil à maioria das pessoas.
O artigo conclui que o “problema da esquerda não está, definitivamente, na defesa dos direitos civis de homens e mulheres negras, homossexuais e pessoas trans. Essa é uma pauta civilizatória e estratégica para a democratização do Estado”.
O problema, portanto, não é se afastar da luta por direitos. A esquerda precisa se reparoximar da luta por direitos concretos da população de conjunto e abandonar o individualismo, que é a substituição dessa luta por uma política hostil à maioria do povo.