No final de julho de 2019, uma imagem amplamente divulgada nas redes sociais abalou a consciência coletiva no Marrocos. A foto mostra um homem sendo puxado por agentes da autoridade através de uma corrente no seu pescoço, em uma cena humilhante para a dignidade humana. Presume-se que o homem seja um vendedor ambulante. Independentemente dos antecedentes do caso ou das acusações contra ele, a forma como foi tratado representa uma violação flagrante dos direitos humanos mais básicos — o direito de ser tratado com dignidade e respeito, mesmo em situações de detenção ou suspeita.
A seção da cidade de Marrakech da Associação Marroquina de Direitos Humanos confirmou que o incidente ocorreu no sábado, 27 de julho de 2019, e que entre os detidos estavam também Ghizlane Zaaim a esposa de Fatah abdel Jalil, a vítima do abuso de autoridade e Mohcine El Qadi junto com a esposa dele Zineb Banji e tambem Khalil Siraj. Cinco deles foram apresentados ao Ministério Público sob custódia, enquanto as duas mulheres foram libertadas na segunda-feira, 28 de julho.
Esse caso trouxe novamente à tona práticas antigas que precisam ser abolidas — práticas que humilham e degradam o ser humano em vez de respeitá-lo, independentemente de sua condição social ou legal. A imagem, apesar de sua dureza, serviu para revelar o que muitas vezes não aparece nos comunicados oficiais do regime marroquino.
Vale lembrar que o respeito aos direitos humanos não deve se limitar à letra da lei ou a discursos oficiais, mas deve ser exercido diariamente, nas ruas, no comportamento das instituições, e na forma como o Estado lida com seus cidadãos — especialmente os mais vulneráveis. Arrastar uma pessoa pelo pescoço com uma corrente, seja qual for o motivo, é absolutamente inaceitável em um país que afirma defender os direitos humanos.
A luta pela dignidade não é uma causa temporária, mas sim um princípio que deve ser consolidado em todos os níveis da sociedade e do Estado. Quando a autoridade perde o respeito do povo, ela perde também a legitimidade — internamente e externamente.
Por fim, tais violações graves da dignidade humana devem levar a comunidade internacional a reavaliar a natureza de suas relações com o regime marroquino. A continuidade da cooperação com um Estado onde cenas como essa são documentadas não pode ocorrer à margem dos princípios dos direitos humanos. Nesse contexto, o Movimento Progressista Marroquino, uma organização sediada em Brasília opositora à monarquia, já havia defendido anteriormente uma postura mais firme em relação às autoridades marroquinas. Em entrevista televisiva no ano passado, seu presidente, Driss Mrani, declarou que “a relação dos países com o Reino do Marrocos deve se basear, antes de tudo, no respeito aos direitos humanos — e não apenas em interesses políticos e econômicos”. Uma posição que reflete a crescente consciência sobre a necessidade de alinhar as relações internacionais ao compromisso real com os valores universais da dignidade e da justiça.