Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12), o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo incisivo diante dos desafios globais que ameaçam a humanidade. “Os direitos humanos estão sob ataque”.

“As desigualdades agravam-se em todo o mundo. Os conflitos intensificam-se. O direito internacional é deliberadamente ignorado. O autoritarismo avança enquanto o espaço cívico diminui. A retórica odiosa alimenta a discriminação, a divisão e a violência direta, e os direitos das mulheres continuam a ser revertidos na lei e na prática”.

A fala de Guterres ocorre em meio ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza, ponto crítico para organizações de direitos humanos, que têm denunciado a escalada de tensões e graves violações no Oriente Médio.

O secretário também apontou o impacto duradouro da pandemia de Covid-19 e a herança para a população mundial. “Dezenas de milhões de pessoas estão atoladas em sistemas de saúde precários, pobreza, fome e educação deficientes que ainda não se recuperaram totalmente”.

A construção dos direitos humanos

Em sua mensagem, António Guterres destacou o compromisso global reforçado pelo Pacto para o Futuro, que reafirma os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em 1948. O apelo do líder da ONU enfatizou a necessidade de:

  • Promover justiça e igualdade para mulheres, meninas e minorias;
  • Defender a democracia, liberdade de imprensa e direitos trabalhistas;
  • Garantir saúde, educação e um meio ambiente sustentável;
  • Proteger os defensores dos direitos humanos, reconhecendo seu papel fundamental.

“Todos os direitos humanos são indivisíveis – econômicos, sociais, cívicos, culturais ou políticos. Quando um direito é prejudicado, todos os direitos são prejudicados”, alertou o secretário-geral da ONU.

O eco de Saramago após três décadas: a urgência de ação coletiva

O discurso de Guterres ressoa o alerta feito pelo escritor português José Saramago ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 10 de dezembro de 1998, como relembrou o jornalista Jamil Chade em sua coluna no UOL.

“As injustiças multiplicam-se no mundo, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrênica humanidade que é capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte neste tempo do que ao nosso próprio semelhante”, disse Saramago à época.

Quase três décadas depois, o apelo do escritor permanece atual, como um lembrete de urgência da ação coletiva para enfrentar as crises e proteger os direitos de todos.

“Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra e a iniciativa. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa começar a tornar-se um pouco melhor”.

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Last Update: 10/12/2024