
Em artigo publicado nesta quinta-feira (5) no site Congresso em Foco, intitulado “Os perigos que nos ameaçam” o ex-ministro José Dirceu destacou os perigos do avanço da extrema-direita e o papel de figuras como o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) em promover conexões entre o bolsonarismo, as elites financeiras e as políticas externas que afetam o Brasil.
Confira:
O título acima se justifica por minha crença de que o atual modelo de globalização e sua congênere, a austeridade – ou austericídio, como se costuma taxar as saídas que se impuseram ao mundo depois que as crises de 2008/9 e 2011/12 desvelaram a gravidade das consequências da financeirização da economia mundial – produziram grandes perigos para o mundo: o surgimento do trumpismo e a ascensão da extrema-direita.
Não estamos conseguindo manter a democracia na crise da globalização que desindustrializou países, como o Brasil e os próprios Estados Unidos, destruiu empregos estáveis e remunerados, precarizou o trabalho, reduziu a classe média a uma minoria, abriu espaço para a informalidade como modo de vida, jogou a juventude na desilusão ou na luta heroica diária pela sobrevivência, numa espécie de semisservidão, e, o mais grave, assiste ao crime globalizado e ao narcotráfico controlarem não apenas setores da economia, mas da política e dos governos.
Tenho sérias dúvidas se podemos manter nossa soberania enquanto o capital financeiro e agroexportador controla nossa economia e a coloca a seu serviço, como estamos assistindo nos últimos dias. Não há como ter um projeto de desenvolvimento nacional e garantir nossa independência, que não é só política, mas, principalmente, econômica. E não a temos num regime de crescimento mínimo, de desindustrialização, de dependência das exportações de commodities e ainda totalmente subordinada aos interesses do mercado financeiro.
Nossas elites financeiras e agrárias e seus aliados na mídia fazem de conta que não estamos sob ameaça da extrema-direita norte-americana e suas congêneres em todo o mundo, apesar dos avisos que nos enviam, começando pela estadia ilegal e antipatriótica de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, que encontra eco e apoio aqui dentro do PL, seu partido, de seu pai e família, dos que financiaram o golpe de 8 de janeiro de 2023 e continuam financiando o bolsonarismo e organizando uma intervenção externa nas eleições de 2026.

Os recados estão sendo dados e com métodos que conhecemos historicamente, como em 1964 e no Chile em 1973. Busca-se criar um clima que justifique a intervenção não só pelas redes ou medidas jurídicas ou administrativas, mas com medidas de força, agora não mais militares, mas com tarifas, sanções e bloqueios.
Nas últimas semanas, como um raio de sol, surgem medidas contra o terrorismo na tríplice fronteira entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina, em Foz do Iguaçu. Até o Hezbollah surgiu do nada. Depois, espiões russos são descobertos no Brasil, como se a CIA não atuasse no Brasil, e, por fim, aqui e ali nas redes e na imprensa, surge a notícia de que os Estados Unidos querem ter bases militares em Natal e Fernando de Noronha e já estão instalando uma no Paraguai.
O embate principal é com o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, uma forma diversionista de defender e proteger os golpistas e o bolsonarismo das consequências da tentativa de golpe de Estado e evitar a condenação de Jair Bolsonaro, pupilo e admirador de Donald Trump e dos Estados Unidos, a cuja bandeira já bateu continência.
Fazendo eco à tentativa do bolsonarismo de coagir ministros do STF, cassar seus mandatos e até fechar a Suprema Corte, autoridades e funcionários norte-americanos emitem ordens administrativas no mesmo sentido, impondo restrições legais nos Estados Unidos aos que se opõem às suas políticas e ações de política externa ou mesmo críticas ao país e seu governo.
Enquanto isso, assistimos à ofensiva do capital financeiro para reduzir nosso Brasil a um país primário exportador de alimentos, minerais e energia, privatizando instituições estatais como a Petrobras (já conseguiram a Eletrobras), bancos públicos como o BNDES, BB, CEF, BNB e a própria previdência social, além de desvincular o salário mínimo da previdência, pôr fim aos pisos da saúde e educação e depois privatizá-las, recusando-se a qualquer medida tributária progressiva, mantendo o caráter regressivo de nossos impostos, acumulando cada vez mais riqueza e concentração de renda, preservando a desigualdade e a pobreza e, por fim, abandonando de vez qualquer soberania e projeto de desenvolvimento nacional.