Ronen Bar, chefe do Shin Bet, denunciou à Suprema Corte de “Israel” a tentativa de intervenção do primeiro-ministro, Benjamin Netaniahu, para que o órgão agisse por fora das suas atribuições. No caso mais recente, Netaniahu teria pedido para o Shin Bet atuar contra uma manifestação contrária a seu governo. A denúncia expõe que a prática de tentar intervir no órgão de inteligência de maneira extra-oficial se tornou recorrente ao longo do tempo. Diante de uma crise institucional, Ronen Bar deveria obedecer ao primeiro-ministro e não à Suprema Corte, como deveria ocorrer legalmente.

O Shin Bet é uma das três grandes agências de inteligência da ocupação sionista na Palestina, ao lado da Aman e do Mossad, sendo responsável pela segurança interna de “Israel”, conforme seu lema “o escudo invisível”. Uma das acusações feitas por Ronen Bar é justamente sobre o 7 de Outubro, quando o órgão teria alertado as autoridades sobre a iminência de ataques e foi ignorado, o que o governo nega. O ainda chefe do Shin Bet afirmou ter incluído uma série de provas em um depoimento confidencial, também entregue à Suprema Corte.

Diante de diversos protestos contra o governo Netaniahu, o primeiro-ministro teria solicitado a Ronen Bar que monitorasse os participantes e rastreasse os financiadores desses protestos. Fato que incomodou o chefe do Shin Bet por se tratarem de cidadãos israelenses e não meros palestinos. Aplicar a seus cidadãos de “primeira categoria” o mesmo tratamento dado aos árabes mostra uma tendência sempre presente em “Israel” no sentido do endurecimento do regime político, algo latente num Estado artificial como o imposto pela ocupação sionista. Ainda sobre o monitoramento dos manifestantes, Bar teria esclarecido o primeiro-ministro sobre as atribuições do Shin Bet, lembrando que caberia à polícia quaisquer ações de mantenimento da “ordem pública”.

Como publicado no diário israelense Calcalist (“O Economista” em hebraico):

“Não há sinal mais óbvio de uma ditadura do que aquele em que o primeiro-ministro subordina o chefe da polícia secreta para frustrar o direito legítimo de protestar contra seu governo. O fato de Netanyahu estar pedindo ao chefe do Shin Bet que o desobedeça e não cumpra os objetivos da organização, conforme estabelecido na lei. O fato de que ele o está preparando para uma situação em que surgirá uma crise constitucional e explicando que suas expectativas são de que ele seja ouvido e não a lei. O caminho que não deixa inibições e levanta suspeitas de que se trata de um evento ilegítimo. Tudo isso marca o evento como o mais grave da totalidade dos acontecimentos do golpe de regime e atesta a periculosidade de Netanyahu”.

Bar descreve que Netaniahu tinha um método para os pedidos inapropriados. Esperava o término das reuniões de trabalho e pedia para o secretário militar e a datilógrafa que gravava a reunião saíssem, para só então fazer solicitações extra-oficiais e ilegais. Como em relação ao parecer solicitado para justificar que o primeiro-ministro não testemunhasse no próprio julgamento. Netaniahu teria pedido um parecer de segurança que apontasse que sua apresentação para depoimento não seria possível por questões de segurança de ‘Israel’, ao que Bar teria se recusado.

A matéria do Calcalist ainda cita denúncias de outro chefe anterior do Shin Bet sobre a atuação de Netaniahu. Yoham Cohen denunciou pedido de Netaniahu para usar o Shin Bet para atuar contra os chefes do Mossad e das Forças de Defesa de Israel (FDI) por interesses pessoais, sem qualquer prova ou suspeita razoável de que esses chefes poderiam prejudicar uma operação do Shin Bet. Cohen teria recusado ainda um pedido de Netaniahu para remover a autorização do rival político Naftali Bennett de participar de reuniões de gabinete com base em rumores.

Esse escândalo expõe a fragilidade da sociedade israelense, uma pilha de mentiras que não se sustenta com o passar do tempo. Uma ditadura contra o povo palestino que se volta cada vez mais contra os próprios israelenses, que estão recebendo pequenas amostras do autoritarismo que é parte fundamental do seu Estado artificial.

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Last Update: 23/04/2025