O imperialismo norte-americano intensificou, nas últimas semanas, a movimentação militar em Diego Garcia, ilha localizada no meio do oceano Índico e ocupada de maneira ilegal há mais de meio século. A reportagem publicada pelo portal The Cradle revela que bombardeiros furtivos B-2 já foram deslocados para a base, indicando que os Estados Unidos preparam uma nova ofensiva militar na região do Oriente Médio, com o Irã como principal alvo.
A movimentação ocorre em meio a novas ameaças do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que voltou a afirmar que atacará o Irã caso este não abandone seu programa nuclear. Segundo a publicação, Diego Garcia é hoje uma peça central na estratégia de guerra norte-americana, em razão de sua distância segura dos mísseis iranianos e da vulnerabilidade crescente das bases dos EUA em Catar e Barém.
Ilha tomada à força dos habitantes originais
A presença dos Estados Unidos em Diego Garcia é resultado de um dos maiores crimes coloniais do pós-guerra. A ilha, parte do arquipélago de Chagos, foi desmembrada ilegalmente de Maurício pelo Reino Unido, sob pressão dos Estados Unidos, entre os anos 1960 e 1970. Para a construção da base militar, toda a população nativa, composta pelos chagossianos — descendentes de escravos africanos e trabalhadores indianos —, foi expulsa à força.
A limpeza étnica foi levada a cabo de maneira brutal: os animais de estimação dos habitantes foram exterminados em massa, plantações foram destruídas, o acesso a alimentos e medicamentos foi restringido, e aqueles que resistiram foram, por fim, deportados em navios de carga em condições desumanas. O objetivo era claro: esvaziar a ilha para entregá-la inteiramente ao aparato militar norte-americano.
Em 2019, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinou que o Reino Unido encerrasse a administração ilegal sobre o arquipélago, decisão reforçada pela Assembleia Geral da ONU. No entanto, apesar de Londres (capital da Inglaterra) ter aceitado iniciar o processo de devolução a Maurício em outubro de 2024, a base militar de Diego Garcia permanece sob controle dos Estados Unidos, que negociaram um arrendamento de 99 anos, ignorando o direito de retorno dos chagossianos.
Base de agressão imperialista
Desde sua transformação em um posto avançado do imperialismo, Diego Garcia serviu de plataforma para as principais agressões dos EUA nas últimas décadas. A base foi utilizada na fracassada Operação Eagle Claw (1980), durante a guerra entre Irã e Iraque, na Primeira Guerra do Golfo (1991) e nas invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003).
Com o fortalecimento das defesas iranianas e a proliferação de mísseis de longo alcance na região, as bases norte-americanas mais próximas se tornaram alvos vulneráveis. Enquanto o Irã demonstrou, em 2024, capacidade de atacar alvos distantes utilizando mísseis hipersônicos, Diego Garcia ainda se mantém fora do alcance direto, a cerca de 4 mil quilômetros da costa iraniana.
Essa condição faz da ilha um trunfo para o imperialismo: permite lançar bombardeios contra o Irã sem expor diretamente aliados frágeis, como o Catar e o Barém, a retaliações devastadoras. Como destacou The Cradle, a destruição da infraestrutura de petróleo e gás desses países, em caso de guerra, poderia destruir suas economias, tornando-os cada vez mais relutantes em apoiar uma nova aventura militar dos Estados Unidos.
A guerra permanente contra os povos oprimidos
A situação de Diego Garcia expõe de maneira exemplar a política permanente de opressão e saque dos povos coloniais. Mesmo diante da condenação internacional e das tentativas de resistência dos chagossianos, a ilha segue sendo um entreposto da política de guerra imperialista.
Caso uma nova guerra seja deflagrada, Diego Garcia poderá ser ainda mais militarizada, consolidando a expulsão definitiva de seus habitantes e convertendo definitivamente o território em uma base de guerra norte-americana. A transformação do paraíso dos chagossianos em uma fortaleza de concreto é a marca do que o imperialismo significa para os povos: miséria, opressão e violência sem fim.