O presidente eleito nos Estados Unidos Donald Trump: ele toma posse no próximo dia 20 de janeiro. Foto: reprodução

O jornalista Jamil Chade destacou em sua coluna no UOL, publicada nesta sexta-feira (17), a mobilização de americanos e estrangeiros para se prepararem para enfrentar as políticas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. O republicano toma posse no próximo dia 20 de janeiro:

Numa noite com a sensação térmica de 11 graus negativos em Connecticut, fui instruído na recepção da biblioteca pública de New Haven a ir ao subsolo. Era ali que aconteceria uma reunião com americanos de todas as origens e estrangeiros com o sonho americano. O motivo: ser informados sobre os riscos que cada um corria diante da iminente posse de Donald Trump e preparar uma resistência para defender o estado de direito e a democracia. (…)

Trump assume a presidência na segunda-feira e, ao longo dos meses, prometeu perseguir os “inimigos internos”, atacou minorias e indicou que irá reverter políticas de diversidade. Anunciou a maior deportação da história e a retirada de direitos de mulheres sobre seu corpo. Ele ainda sinalizou que vai perdoar os invasores do Capitólio e não descartou ser “ditador por um dia”.

Nas mais de duas horas daquele encontro, cerca de 50 pessoas seriam informadas sobre como agir, a quem recorrer, quais telefones acionar e o que dizer para as forças de ordem em caso de abuso. A instituição de direitos civis que organizava o encontro – a ACLU – ainda explicou como estava se preparando para defender o acesso à justiça reprodutiva, direito ao protesto e a situação de imigrantes.

Em New Haven, americanos e estrangeiros se reúnem para se preparar para enfrentar as políticas de Trump
Em New Haven, americanos e estrangeiros se reúnem para se preparar para enfrentar as políticas de Trump. Foto: Jamil Chade

Por todo o país, igrejas, escolas e centro comunitários proliferam encontros como esse para montar planos de resistência. Não querem repetir a experiência de 2017, quando foram pegos de surpresa pelas ações de Trump. Mas sabem que, desta vez, a extrema direita também desembarca mais organizada, mais poderosa e mais furiosa.

Nos rostos de cada um naquela sala, a imagem era a da tensão. Ali estavam moradores da cidade, ativistas, professores, afroamericanos, casais homossexuais, imigrantes e estudantes.

No fundo da sala, claros sinais de que o negacionismo não havia sido convidado: máscaras, gel e instruções sobre o que fazer com o lixo para ser reciclado ao final do encontro. Não faltavam ainda bolas contra estresse, distribuídas aos participantes. “Leve uma. Vão ser muito necessárias nos próximos meses”, me disse a senhora que organizava a lista de presença.

Quando um senhor se aproximou perguntando o que era o evento, um dos organizadores explicou: “Vamos falar dos perigos que teremos de enfrentar a partir de segunda-feira”.

Ao apresentar o programa da noite, os anfitriões não esconderam o que estava por trás daqueles semblantes preocupados. “Serão dias difíceis, principalmente os primeiros 60 ou 90 dias. Vamos viver a ameaça de uma hostilidade por parte do governo. Vamos precisar nos ajudar mutuamente, vamos precisar nos apresentar, seja para defender pessoas do movimento LGBT ou imigrantes”, disse um deles.

O pedido, porém, era para que as pessoas “não entrem em pânico”. “Há um sentimento de desespero e sabemos que há muita gente com medo. Mas vamos precisar de todos”, insistiu Bethany Perryman, uma das coordenadoras do evento. (…)

Tensão marca grupos da sociedade americana diante das promessas de Trump contra movimento LGBT e outros segmentos
Tensão marca grupos da sociedade americana diante das promessas de Trump contra movimento LGBT e outros segmentos. Foto: Jamil Chade

A situação da população LGBTQI+ também foi destacada. “Sabemos que esse grupo estará na mira do próximo governo”, alertou Perryman. Mais uma vez, eram os vazamentos de dados confidenciais de saúde que preocupavam. Na plateia, casais se abraçavam, como se estivessem se protegendo.

Central ainda no debate foi a questão migratória. Para o grupo, haverá um esforço das novas autoridades para “desumanizar” os estrangeiros. “Estamos prevendo operações nos locais de trabalho, escolas e residências”, lamentou Perryman.

Mas outra recomendação é para os cidadãos americanos. “Nesse momento, vamos precisar nos ajudar”, insistiu Perryman. “Quando um pai ou uma mãe são detidos, é a renda da casa que também desaparece”, lembra. Sua sugestão é para que os vizinhos levem comida aos filhos daquela família ou que simplesmente mostrem que estão presentes. (…)

O encontro ainda serviu para que houvesse um compromisso de mobilização. A ideia é a de convencer cidadãos a monitorar o comportamento da polícia e denunciar abusos. “Será fundamental o escrutínio das forças de ordem”, afirmou uma das advogadas da iniciativa. (…)

Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️ Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣 Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 17/01/2025