Os brasileiros deveriam lembrar os 525 anos do descobrimento do Brasil, completados nesse dia 22. Mas pouco se falou e quando o assunto foi tocado, na maioria das vezes foi para depreciar o País, que parece ser o esporte favorito de uma classe média – de esquerda ou de direita – cada vez mais influenciada pelo imperialismo, principal interessado em avacalhar esse país colossal em plena América do Sul.
No portal Brasil 247 foi publicada coluna chamada 22 de abril e o genocídio brasileiro, assinada por Oliveiros Marques. Pelo título, não é difícil adivinhar o que vem por aí:
“Há exatos 525 anos, teve início um dos maiores genocídios da história da humanidade: o praticado pelos portugueses — meus antepassados — contra os povos indígenas que viviam há milhares de anos nas terras que viriam a ser chamadas de Brasil.”
Para o colunista, o Brasil é um grande “genocídio”, vejam bem. Não só isso, é um dos “maiores da história da humanidade”. Segundo essa ideia, os portugueses teriam cometido algo parecido, por exemplo, ao que fazem os sionistas na Palestina. Segundo ele, então, quando os portugueses chegaram aqui, eles colocaram em marcha um plano de extermínio dos índios que aqui estavam.
Isso é um completo desconhecimento da história. Primeiro porque o território brasileiro não era intensamente povoado pelos índios. Eles formavam populações dispersas. O que os portugueses encontraram aqui não foi um povoamento moderno, com territórios com certa densidade habitacional. Os portugueses basicamente encontraram enormes porções de terras desocupadas. Isso não significa que não houve assassinatos, torturas e a escravização dos índios. Mas isso não pode ser comparado ao genocídio.
Em segundo lugar, basta conhecer a história da colonização portuguesa para saber que o genocídio, ou seja, uma limpeza étnica, nunca foi uma política. Não basta ter assassinatos, mesmo que muitos, para isso ser um genocídio. O genocídio pressupõe que haja uma política de extermínio em massa de uma determinada população.
Os portugueses tinham uma política contrária a isso. Por algumas questões, incluindo a pequena população de Portugal, a política da colonização portuguesa buscava uma aliança com os povos nas suas colônias. Foi assim, por exemplo, nas possessões portuguesas na Índia. No Brasil, essa política se expressava nas alianças entre os portugueses com algumas tribos, incluindo casamentos. Isso é o exato oposto de uma política genocida.
Dizer isso não significa dizer que os portugueses foram bonzinhos. A história não é feita de bonzinhos e maus. Mas é preciso colocar as coisas nos termos corretos.
É necessário abrir um parêntese aqui. A colocação serve para encobrir os verdadeiros genocidas. Se tudo o que aconteceu na história foi genocídio, então, “Israel” talvez nem esteja tão errado assim.
Voltando à história do Brasil, o autor afirma:
“Não há, enfim, nada a comemorar neste 22 de abril. Uma data que as escolas deveriam ressignificar. Não mais tratá-la como o dia em que Pedro Álvares Cabral e sua frota, ao atravessarem o Atlântico rumo às Índias, ‘descobriram’ o Brasil. Mas sim como o dia em que o território hoje chamado Brasil foi invadido por homens brancos europeus que cometeram os mais bárbaros crimes”.
Aqui o autor revela bem o que significam as concepções que ele expressa: “não há nada a comemorar”. Ele nem para para pensar que se Cabral não tivesse chegado nesse lugar, não haveria Brasil, nem essa língua maravilhosa com a qual ele escreve seu texto, nem ele mesmo existiria. O autor quer mudar a história, mas não é possível mudá-la. O Brasil, como todos os países, tem uma história, ela tem pontos belíssimos e pontos horríveis. Mas o autor acha que só os pontos horríveis importam. A quem serve isso?
Se o brasileiro não deve sequer achar que deveria existir, quem deveríamos ser? Devolver aos índios não será possível porque, seja como for, eles representam agora uma ínfima minoria da população. O resto dos brasileiros deveria fazer o que? Uma das alternativas que seria coerente com a concepção do colunista é que a gente chamasse alguém para exterminar o Brasil, esse país que “não tem nada a comemorar”. Melhor seria entregar para os norte-americanos, talvez, eles com certeza não têm uma história horrível.
Esse é o sentido de concepções absurdas com a do colunista. Em nome de que o Brasil é a pior coisa que já existiu, está a desmoralização da nação e isso só pode favorecer aos genocidas de hoje, o imperialismo que quer continuar dominando aqui, convencendo os brasileiros de que nem mesmo eles deveriam existir.