O fundador e presidente do PSD, Gilberto Kassab, vem ocupando as páginas da imprensa familiar brasileira nos últimos dias com críticas ao presidente Lula e ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Hoje, o que a gente vê é uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Ele prioriza convicções, projetos, que não acabam se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da Fazenda fraco sempre é um péssimo indicativo”, disse o político.
O fez como sempre faz esse tipo de declaração: com ares de analista independente e isento, como se não tivesse uma agenda própria por trás de cada declaração, como se estivesse apenas querendo ajudar o governo, do qual seu partido- ao menos em teoria – faz parte da base de apoio parlamentar.
Na realidade, porém, Gilberto Kassab é a metonímia do Centrão brasileiro: um político de direita, mas de tal forma apaixonado e adicto ao poder e a cargos públicos que não se importa em aliar-se a quem quer que seja, tampouco trair a quem for, sempre que necessário.
Foi assim nas eleições de 2022, quando decidiu trair Rodrigo Garcia, então candidato pelo PSDB ao governo paulista. Kassab foi um dos primeiros a entender que era hora de abandonar o navio tucano, à beira do naufrágio, debandando-se para o lado de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
Antes de abandonar a embarcação, eternizou o jingle “Federal é Kassab, Estadual é Rodrigo”, que por mais de uma década tocou em campanhas eleitorais paulistas.
Nem só de jingles era composta a relação dos dois. Enquanto deputado federal, Kassab chegou a doar, em 2004, R$ 200 mil (de verbas públicas) para uma associação espírita da mãe de Rodrigo Garcia, entre outras “doações”.
De volta a 2022, Kassab não teve pudores em apoiar Lula para presidente e Tarcísio para governador. Esquizofrenia política ou sede de poder?
As origens do ódio de Kassab a Haddad
Só o que Gilberto Kassab tem dificuldade em fazer é engolir o ministro Fernando Haddad. Isso é assim desde 2012.
Como é sabido, o presidente do PSD construiu sua carreira articulando sob o caciquismo de José Serra. Quando, em 2012, seu inventor político foi derrotado nas eleições paulistanas por Fernando Haddad, Kassab não engoliu.
É que notou que ali estava o primeiro furo no casco do navio tucano que ele ajudava a singrar soberano em águas bandeirantes.
A vitória do PT na capital foi o golpe original que gerou o desmonte da máquina eleitoral que Kassab havia herdado de Serra. Não foi apenas a vitória eleitoral, mas sim o que se deu depois, que enfureceu o maior dos representantes do Centrão.
Logo ao assumir a prefeitura, em 2013, Haddad tratou de enfrentar e destruir máfias enraizadas desde há muito na capital paulista.
Atacou, por exemplo, a Máfia do ISS, quadrilha que desviou dezenas de milhões de reais dos cofres de São Paulo. As ações de Haddad levaram à expulsão do serviço público de fiscais que articulavam a máfia, inclusive um irmão de Rodrigo Garcia, que foi condenado por seus crimes, todos perpetrados durante a gestão Kassab.
A imprensa e o Ministério Público não tiveram dificuldades em detectar quem fora o principal derrotado pela ação saneadora do atual ministro da Fazenda: Gilberto Kassab.
A Máfia do ISS foi só o começo do desmonte. Vieram depois o fim da taxa de inspeção veicular, as investigações dos contratos superfaturados da gestão Kassab com empreiteiras que fizeram túneis e outras obras em São Paulo e, finalmente, a frustração por não ser indicado a vice na chapa de Lula de 2022, graças a articulações de Fernando Haddad.
Todos esses episódios serão detalhados em reportagens vindouras a serem publicadas neste Diário do Centro do Mundo.
Com este histórico, espantoso seria se Gilberto tivesse em alta conta o ministro da Fazenda. Ser considerado “fraco” por Kassab, portanto, só deve ser motivo de orgulho para Haddad.