Pela primeira vez desde 2019, todos os biomas do Brasil apresentaram redução ou estabilidade nos índices de desmatamento. Os dados constam no Relatório Anual do Desmatamento (RAD), elaborado pela rede MapBiomas, divulgado nesta quinta-feira (15). O levantamento aponta que a área de vegetação nativa suprimida no país caiu 32,4% em 2024, totalizando 1.242.079,1 hectares, frente aos 1.836.749,3 hectares registrados em 2023.

Segundo o estudo, a queda representa um recuo inédito desde o início da série histórica da plataforma e reflete ações de fiscalização e controle ambiental em diferentes regiões.

Cerrado segue como o bioma mais afetado, mas com forte redução

Apesar de permanecer como o bioma com maior perda de vegetação nativa, o cerrado apresentou a maior retração proporcional entre os biomas brasileiros. A área desmatada em 2024 somou 652.197 hectares, o que representa uma redução de 41,2% em comparação com os mais de 1,1 milhão de hectares registrados no ano anterior.

“É importante ressaltar essa queda de 41,2%, apesar de o cerrado continuar sendo o mais desmatado do país. Todos os estados do bioma tiveram redução em 2024, com exceção de São Paulo. O destaque é Goiás, que proporciona cerca de 72%, e Bahia com uma queda de 65%”, afirmou Roberta Rocha, analista de pesquisa do MapBiomas.

A região conhecida como Matopiba — composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — respondeu por 75% da supressão no cerrado e por 42% do total de vegetação nativa desmatada no país. Mesmo assim, os quatro estados apresentaram redução nas áreas devastadas.

Amazônia registra queda de 16,8%

O bioma amazônico, segundo maior em perdas absolutas, teve 377.708 hectares de vegetação nativa suprimidos em 2024, o que representa um recuo de 16,8% em relação ao ano anterior. A Amazônia Legal concentra, desde 2019, 67% do desmatamento acumulado no Brasil, equivalente a 6.647.146 hectares.

O levantamento atribui a maior parte da devastação na região à atividade agropecuária e ao garimpo, sendo este último responsável por 99% da área desmatada na Amazônia.

Pantanal apresenta maior redução proporcional

Entre os demais biomas, o pantanal foi o que apresentou a maior queda proporcional: 58,6%. A área de vegetação nativa suprimida caiu de 56.304 hectares em 2023 para 23.295 hectares em 2024.

Na caatinga, a queda foi de 13,4%, com 174.511 hectares devastados no último ano. Já o pampa registrou uma retração de 42,1%, com 896 hectares desmatados, frente aos 1.547 hectares do ano anterior.

Mata Atlântica mantém estabilidade com leve aumento

A Mata Atlântica foi o único bioma que apresentou um leve aumento no desmatamento, passando de 13.212 hectares em 2023 para 13.472 hectares em 2024 — variação considerada estável pelo MapBiomas.

A analista Natália Crusco apontou que eventos extremos tiveram impacto sobre os dados do bioma: “O Rio Grande do Sul passou a ser o terceiro estado da Mata Atlântica que mais desmatou em 2024. Isso deve-se aos eventos climáticos extremos que aconteceram por lá, com os registros de alta precipitação de chuva, enchentes, penetrações e ventos fortes, que resultaram na perda de vegetação nativa”.

De acordo com o relatório, 22% da devastação na Mata Atlântica em 2024 teve como causa desastres naturais.

Unidades de conservação e terras indígenas também registram queda

As áreas protegidas também apresentaram redução no desmatamento. Em terras indígenas, a perda de vegetação nativa foi de 15.938 hectares, uma queda de 24% em relação a 2023. O número representa 1,3% do total nacional.

Nas unidades de conservação, o total desmatado caiu para 57.930 hectares, uma retração de 42,5%. Nas áreas de proteção integral, a queda foi de 57,9%, totalizando 4.577 hectares devastados no último ano.

Maranhão lidera ranking estadual

Mesmo com queda de 34,3%, o Maranhão permanece como o estado com maior área desmatada no país em 2024, com 218.298,4 hectares. Em seguida aparecem Pará (156.990 hectares), Tocantins (153.310,5 hectares), Piauí (142.871,2 hectares) e Bahia (133.334,9 hectares).

Desde 2019, o Brasil perdeu 9.880.551 hectares de vegetação nativa, área equivalente ao território da Coreia do Sul. O relatório mostra que mais de 97% da devastação nacional tem origem na pressão da agropecuária.

Outros vetores são relevantes em determinadas regiões. Na caatinga, os projetos de energia renovável representaram 93% da área desmatada em 2024. No cerrado, a expansão urbana foi responsável por 45% das perdas.

O relatório do MapBiomas consolida dados de fontes oficiais e imagens de satélite, sendo considerado uma das principais referências para o monitoramento do desmatamento no país.

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Last Update: 15/05/2025