Dados do Inpe foram divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Ministério do Meio Ambiente
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgaram, nesta sexta-feira (6), os dados de alertas de desmatamento na Amazônia, Cerrado e Pantanal no mês de maio.
Segundo os dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve um aumento de 92% no desmatamento da Amazônia entre maio de 2024 a maio de 2025. A área desmatada passou de 500 km² para 960 km² nesse período. No Cerrado e no Pantanal, houve queda nos dados de desmatamento.
“Essa é uma situação que tem diretamente a ver com a mudança climática”, destacou o ministro interino do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.
O aumento é atribuído, sobretudo, ao agravamento dos períodos de seca no bioma amazônico, como explica o diretor do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (MTCI), Oswaldo Leal.
“Neste século, a Amazônia teve cinco secas: 2005, 2010, 2015, 2016, 2023 e 2024. E se nós olharmos os dados dos impactos dessas secas, que são públicos, e qualquer um pode olhar isso acessando o Banco de Dados Oficiais de Desastre do Brasil, e particularmente entre o número de pessoas afetadas e o impacto econômico dessa seca, na região amazônica, nós nos assustamos”, afirmou o pesquisador.
“Não há dúvida nenhuma que a seca que está impactando a Amazônia é resultado não de um fenômeno natural, é o resultado também das ações antrópicas. Então, qual é, na verdade, a resiliência que a floresta possui às agressões humanas que nós estamos repetidamente fazendo?”, questionou Leal.
Capobianco explicou que o sistema de monitoramento Deter, do Inpe, acompanha três índices de desmatamento: aqueles povoados por mineração, corte raso – remoção de florestas – e incêndios. Os dados atuais registraram um aumento substancial no desmatamento provocado pelo fogo, que chegou a 51% do total de registros no último ano. Em 2022, esse dado registrava apenas 1% do total de desmatamento, passando a subir desde então para 32% em 2023 e 21% em 2024.
Outro dado alarmante em relação aos incêndios é que 23,7% atingiram florestas nativas. Em 2024 era 13,5%. 38,4% foi relacionado à atividades agropecuárias e 37,9% das queimadas foram feitas para consolidar o desmatamento já realizado. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, mais da metade os focos de incêndio foram identificados em área de floresta, sendo 47,95% de vegetação natural primária e 7,9% vegetação secundária.
Capobianco destacou que a situação registrada na Amazônia é uma tendência mundial, o que demonstra o estreito vínculo desta realidade com a emergência climática. Segundo dados do World Resources Institute, em 2024, houve um recorde da perda florestal ao redor do mundo por consequência dos incêndios.
“Nós estamos assistindo uma realidade nova, que nós, de certa forma, tínhamos uma certa expectativa de que a floresta tropical úmida não seria vítima dessa realidade tão grave quanto as florestas temperadas no Canadá, por exemplo. No entanto, nós estamos assistindo a uma situação dramática aqui no Brasil”, afirmou o secretário-executivo do MMA.
Já o diretor do MTCI, destacou o papel da preservação da Floresta Amazônica não só para o Brasil, mas para a sobrevivência da humanidade. “A Amazônia é rica não apenas pela sua biodiversidade, que obviamente é inquestionável, mas a Amazônia também é rica sobre o seu papel no ciclo hidrológico e também no ciclo de carbono. Ou seja, quando nós estamos olhando as questões do desmatamento da Amazônia, não é apenas uma questão de proteção do ecossistema em si, mas é a proteção de todo o papel que esse ecossistema tem sobre a humanidade”, disse Leal.
Críticas ao PL da Devastação
Durante a apresentação dos dados do desmatamento no Brasil, João Paulo Capobianco criticou o projeto de lei (PL) 2159/2021, que ficou conhecido popularmente como o PL da Devastação. A proposta, aprovada no Senado e remetida à Câmara dos Deputados, flexibiliza e afrouxa as regras para o licenciamento ambiental para obras e empreendimentos no Brasil.
“Existe um dispositivo no projeto de lei que é extremamente preocupante, que é aquele que retira da análise de impacto dos empreendimentos os impactos indiretos. O sistema de licenciamento brasileiro, a legislação brasileira prevê que quando o empreendimento é estudado e é apresentado para o licenciamento, seja no órgão federal, seja no órgão estadual, ele deve apresentar não apenas os impactos diretos do empreendimento” afirmou o secretário. Por exemplo, seguiu Capobianco, “uma estrada desmata para ser construída, vamos dizer assim. Mas a lei exige que além disso se identifique os impactos indiretos, como um possível aumento de incêndios florestais por ocupação irregular e predatória das áreas em que essa estrada permitiu acesso, que não havia antes ou intensificou um acesso que era menor antes dessa obra”, explicou.
“O processo de licenciamento, ele existe para identificar o impacto, prevenir o impacto, mitigar o impacto em benefício da sociedade. Para isso que existe o licenciamento. Licenciamento não existe para proibir obra. Licenciamento existe para organizar a ação do empreendimento daquela obra para que ela se dê dentro das condições exigidas pela Constituição Federal”, destacou o secretário-executivo e ministro interino do MMA.
Queda nos outros biomas
Já no Cerrado, houve queda de 25,7% em relação a 2024, interrompendo um ciclo de alta no desmatamento nesse bioma nos últimos cinco anos. A área desmatada passou de 11.002 km² no ano passado para 8.174 km² neste último ano.
A maior redução no desmatamento foi registrada no bioma Pantanal, que registrou uma queda de 74% entre agosto de 2024 e maio de 2025, passando de 1.035 km², para 267 km² nesse período. Apenas nos últimos três meses, entre março e maio de 2025, a queda no desmatamento, se comparada ao mesmo período do ano passado, foi de 99%.
Fiscalização
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apresentaram um relatório sobre as ações de fiscalização e controle nas áreas sob suas responsabilidades.
Segundo o Ibama, no bioma Amazônia foram 18.964 ações fiscalizatórias, 5.002 autos de infração, R$ 3,1 bilhões em multas, 3.637 termos de embargo, 560,6 mil hectares embargados, 2.177 termos de apreensão, 753 termos de destruição de equipamento usados nas atividades ilegais, 9.009 notificações para medidas de proteção contra incêndios e 50 ações civis públicas entre 2024 e 2025.
Já no Cerrado, foram 737 autos de infração, R$ 578 milhões em multas, 455 termos de embargos, 376 termos de apreensão, R$ 54,9 milhões em bens apreendidos, 77 termos de destruição de equipamentos usados em atividade ilegais, 370 notificações para medidas de proteção contra incêndios e 20 ações civis públicas.
E finalmente, no Pantanal, os órgãos de controle realizaram 57 autos de infração, R$ 430 milhões em multas, 36 termos de embargos, 19 termos de apreensão R$ 555 mil em bens apreendidos, quatro termos de destruição, 3.297 notificações para medidas de proteção contra incêndios e dez ações civis públicas.
Informações: Brasil de Fato.